Em 2016, média nacional de preços ao produtor subiu 18,2%, em termos reais, e deu suporte para investimentos na lavoura. Cotação externa avançou, mas falta competitividade para exportação
São Paulo - O avanço nos investimentos no campo, ocorridos no final de 2016, deve levar a uma recuperação na oferta de leite ao longo de 2017, aponta relatório do Rabobank obtido pelo DCI. Após três quedas anuais consecutivas, a projeção é alta de 2% na captação. "Em 2014, tivemos retração de 2,1% e, no ano seguinte, 5,8%. Houve um momento do primeiro semestre de 2016 que a redução na oferta superou 6%. Se isso não tivesse acontecido, os preços não teriam subido como aconteceu no decorrer deste ano", afirma o presidente da Comissão Nacional da Pecuária do Leite da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Rodrigo Alvim.
A escassez do milho e as elevações nas cotações deste cereal e do farelo de soja (matéria-prima da ração bovina) fizeram com que os custos de produção na pecuária saltassem e, em consequência, fossem repassados até o consumidor final. Em crise, o consumidor passou a restringir a demanda e os preços ao produtor entraram em trajetória de queda após atingirem o pico de R$ 1,6928 por litro na média nacional do índice Cepea/Esalq. Alvim conta que o leite longa vida UHT chegou a custar R$ 5 por litro na gôndola, enquanto o valor, normalmente, gira em torno de R$ 2,80 e R$ 3. Mesmo com as quedas de agosto a dezembro, no balanço do ano, a média subiu 18,2%, em termos reais (deflacionados pelo IPCA de novembro). Foi este nível de remuneração que permitiu a retomada dos aportes nos planteis.
"A maior disponibilidade de leite no campo vai impactar os preços pagos ao produtor, que não devem atingir os níveis verificados ao longo de 2016", aponta relatório do Rabobank. A cotação mais recente do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) indica R$ 1,3413 por litro. "Este valor é maior do que o dos últimos anos, mas só remunera o pequeno pecuarista. Aquele de médio porte, que emprega e tem um sistema de produção um pouco mais tecnificado, não cobre suas despesas", argumenta o executivo da CNA. Mão de obra e alimentação animal, somadas, significam cerca de 60% do desembolso da atividade. Para o ano que vem, a estimativa de recorde na colheita de grãos anima a cadeia de proteína animal, que pode ter um cenário de custos mais confortáveis com ração.
Mercado internacional
Com queda na oferta de países como a Nova Zelândia e decréscimo na produção europeia, o Rabobank alerta para um momento de restrição no mercado global de leite em 2017. "Uma vez que os estoques acumulados voltem a níveis mais baixos, os preços internacionais devem começar a reagir, retornando a patamares acima de US$ 3,3 mil por tonelada para o produto em pó integral, a partir do segundo semestre", projeta o banco.
No entanto, o representante da cadeia leiteira nacional alerta para a falta de competitividade que o Brasil possui, diante dos players globais. Segundo Alvim, aqui são necessários 10 litros de leite para a fabricação de um quilo do produto em pó. Na Nova Zelândia, por exemplo, a necessidade de matéria-prima não ultrapassa 8 litros. "Temos que melhorar a qualidade do nosso produto, em termos de sólidos que facilitem o processo", finaliza.
Nayara Figueiredo
Fonte: DCI - São Paulo