São Paulo - O governo consegue melhorar a eficiência e os resultados financeiros das estatais ao enxugar o quadro de funcionários dessas companhias com a execução de programas de demissões voluntárias incentivadas (PDVs).
Nos últimos 12 meses até março, os desligamentos nas principais estatais já somam mais de 40 mil pessoas, e a expectativa é de algo entre 20 mil a 60 mil demissões no setor público no ano de 2017.
Neste curto período do governo Michel Temer, o número de funcionários do Banco do Brasil caiu de 109.864 para 99.964 até março (-9%), e na Caixa Econômica Federal, o quadro foi reduzido em 6%, de 96.991 para 91.128 pessoas em igual base de comparação. Na Petrobras, o número de trabalhadores recuou 17%, de 78.406 para 65.220 no registro do último balanço.
Na visão de especialistas consultados pelo DCI, a estratégia de demissões incentivadas já colhe frutos em organização e rentabilidade.
"É uma política deste governo, enxugar as estatais. Os lucros do Banco do Brasil e da Caixa estão aumentando, e a Petrobras, que vinha de prejuízo, voltou ao resultado positivo", diz o diretor da L&S Educação, Alexandre Wolwacz.
De fato, o lucro líquido da Caixa Econômica cresceu 81,8% no primeiro trimestre para R$ 1,488 bilhão, na comparação com igual período de 2016. A Petrobras reverteu o prejuízo de março do ano passado e lucrou R$ 4,45 bilhões, e o BB reportou R$ 2,44 bilhões no primeiro trimestre de 2017 reafirmando o compromisso de fechar mais agências e entregar retorno sobre o patrimônio líquido similar ao de seus competidores privados: Itaú Unibanco e Bradesco.
O professor de economia da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (Fecap), Joelson Sampaio, lembra que a política de PDVs não se restringe às companhias de capital misto ou instituições financeiras. Na Infraero, devido a privatização de quatro aeroportos no primeiro trimestre de 2017, o PDV previa quatro mil desligamentos. A operadora de tráfego aéreo tinha 10.866 funcionários à época das concessões.
Nos Correios, onde a situação é de prejuízos seguidos em 2015 e 2016, o programa prevê oito mil demissões. O quadro reduziu de 117.405 para 113.178 pessoas até ontem. "O objetivo é claro, as estatais serem mais eficientes, fazer mais com menos. No caso dos Correios há a necessidade de melhorar a gestão", comentou Sampaio.
Em linha semelhante, Alexandre Wolwacz lembra que os Correios passam por um momento "delicado" por causa da competição de novas tecnologias para entregas de documentos, produtos e correspondências eletrônicas (e-mails). "As empresas privadas também estão enfrentando dificuldades de inovação. Os Correios eram respeitados, mas a estatal não se atualizou e não está conseguindo se adaptar aos novos tempos. A sociedade como um todo está mudando. Um caminho seria a privatização", sugeriu o diretor.
Por outro lado, Sampaio observa que o governo atual não teria tempo, nem força política para promover privatizações de grandes companhias com os Correios. "É um governo curto, não haverá tempo hábil para privatizações, apenas concessões ou PPPs [parcerias público-privadas]. Mas hoje já há menor resistência da sociedade para a privatização", argumentou o professor.
Eletrobras no foco
Na batalha da comunicação e de vencer resistências, os especialistas apontam que o governo voltou sua atenção para a estatal de energia, Eletrobras. "Se pode enxugar em áreas que não são muito importantes para o governo, seria benéfico para a Eletrobras e a para a população", identifica Wolwacz.
Ele cita que os investidores de ações veem a Eletrobras como um "dinossauro" e que o elevado número de subsidiárias (14) é uma "colcha de retalhos". "O mundo está aumentando a produção de eletricidade com outras maneiras mais sustentáveis de gerar energia [solar e eólica]", diz. Em março, a Eletrobras reportou lucro de R$ 1,394 bilhão, por causa da venda da Celg D.
Fonte: DCI São Paulo