Toda doçura de uma fruta made in China

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Originária da China, onde é cultivada há mais de três mil anos, a exótica lichia inspirou paladares, tratados e um enredo emocionante cantado em verso e prosa por poetas e escritores envolvendo o imperador Hsüan Tsung. Durante seu governo, no século VIII, o soberano da próspera dinastia Tang alimentou a enorme predileção de sua consorte, a belíssima Yang Kuei-fei, pelo fruto da lichieira, uma árvore portentosa e longeva. Tsung não media esforços para satisfazer a vontade dela. Dobrado por seus encantos, chegou a mobilizar uma guarda montada de velozes cavaleiros para percorrer em cinco dias os mais de novecentos quilômetros que separavam a capital do império, Chang’an, da distante Cantão, considerada até os dias atuais o reino da lichia.

 

Uma das melhores versões desse romance com final trágico - Kuei-fei foi executada, acusada pelos assessores do imperador de manipulá-lo - é do poeta chinês Po-Chüi-i. Bon-vivant, ele também era um aficionado pela lichia, lichi ou lechia. Conhecia-a tão bem, como apontou a autora inglesa Jane Grigson em O Livro das Frutas (Companhia das Letras, São Paulo, 1999), que era capaz de antecipar os estágios de sua rápida deterioração, depois de colhida. De acordo com o poeta, a cor da lichia se altera em 24 horas, seu aroma em 48 e seu sabor se perde completamente depois de quatro ou cinco dias.

 

Parente do rambotã e do mangostão, a Litchi chinensis Sonn ocorre naturalmente nas regiões montanhosas do sul da China, em meio às florestas tropicais e subtropicais. Aprecia temperaturas amenas no frio e verões quentes e úmidos. Os frutos se organizam em cachos. Por fora, têm casca fina e rugosa cor-de-rosa-maravilha, que faz saltar aos olhos. Por dentro, a polpa branco-acinzentada, reluzente e translúcida, tem textura gelatinosa e resistência delicada, perfurável entre os dentes. Seu sabor é tão doce quanto a intensidade de seu perfume. Além disso, esconde um caroço graúdo e marrom.

 

Transformada em símbolo romântico, a lichia permaneceu guardada como um tesouro pelos chineses durante séculos. Os europeus ouviram falar dela somente em 1585. No fim do século XVII, seu cultivo chegou à Birmânia, à Índia no final de 1700, depois em Madágascar e na África do Sul. No Havaí, desembarcou em 1870, levada depois para a Flórida e para a Califórnia. Todos são fornecedores da fruta em escala comercial. Hoje, Austrália, Israel, Espanha e Brasil também se dedicam ao cultivo desse tesouro doce muito bem protegido pela casca rugosa.

 

Por aqui, a lichia fez estréia em grande estilo, segundo contou o botânico e escritor Gil Felippe, em Grãos e Sementes - A Vida Encapsulada (Editora Senac, São Paulo, 2007). Foi enviada de presente pelo imperador chinês ao rei dom João VI, em 1810. Em solo nacional, encontrou condições climáticas propícias a seu cultivo, principalmente no Estado de São Paulo. A colheita vai de novembro a janeiro, mas é encontrada, em pequenas quantidades, no interior de São Paulo com pequenos agricultores e feiras livres.

 

Quando in natura, já seduz pela doçura, confere requinte especial em preparos como o tradicional molho agridoce dos chineses, que acompanha pato, frango ou porco frito por imersão. Também adoça pratos de carne apimentados. Na Europa, é comum encontrá-la na forma de compota.

 

Veículo: Gazeta Mercantil


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