Estoque de café vai recuar até 32% mas preço está em queda

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Os estoques de abertura dos países produtores para a safra 2008/2009 devem recuar 31,9%, segundo previsão da Organização Internacional do Café (OIC). De acordo com relatório divulgado por Néstor Osorio, diretor executivo da entidade, os estoques são estimados em 17,24 milhões de sacas, ante 25,3 milhões de sacas do ciclo anterior. O volume, se confirmado, será o mais baixo já registrado pela OIC.

 

Nos últimos anos, os países importadores vêm mantendo seu volume armazenado entre 21 milhões a 23 milhões de sacas. Essa estatística, aliada aos problemas na safra enfrentados pela Colômbia e por países da América Central, levou a OIC a projetar um déficit de 8 milhões de sacas na temporada 2009/2010.

 

O consumo, por outro lado, não parece desacelerar e Osório mantém um discurso otimista. "Não há indicação que esta crise terá impacto significativo sobre o consumo global. É bem provável que neste ano o consumo fique, em pelo menos, 130 milhões de sacas e que o ritmo de crescimento de 2% a 2,5%, visto nos últimos dois anos, seja mantido", disse em entrevista à Dow Jones.

 

Mesmo com os estoques mundiais bastante reduzidos, acenando para a possibilidade de um déficit de oferta no próximo ano, e o anúncio de medidas que favorecem o cafeicultor no Brasil, as negociações seguem em ritmo lento e as cotações do produto em queda. "Os negócios no mercado interno de café, que já vinham baixos, estiveram ainda mais lentos nos últimos dias devido à desvalorização dos futuros de arábica e à queda do dólar frente ao real", disse Margarete Boteon, pesquisadora do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada. O Indicador Cepea/Esalq da variedade arábica tipo 6 bebida dura para melhor fechou a semana acumulando queda de 4,63% no mês, cotado a R$ 255,29 a saca.

 

No mercado internacional, a Bolsa de Nova York, em uma semana (do fechamento do dia 9, quinta-feira, até sexta-feira passada), caiu nos contratos para entrega em maio, 745 pontos ou US$ 9,86 (R$ 21,61) a saca. Em reais por saca, as cotações para entrega em maio próximo foram cotadas a R$ 324,02 a saca. Segundo a Archer Consulting, a retração se deu com fundos vendendo parte de suas posições compradas em um mercado com poucas ordens de compra. "Os torradores aproveitaram para fixarem um pouco de seus contratos quando maio rompeu 115 centavos, porém não foi suficiente para evitar novas quedas já que a desvalorização do Euro em 3,39% afugentou compras maiores", avalia.

 

A proximidade da entrada da safra aumenta a pressão dos líderes da cafeicultura local, no entanto, a despeito das medidas anunciadas pelo governo o preço cai na mesma velocidade com que os produtores brasileiros precisam vender sua produção para saldarem suas dívidas.

 

Em resposta à demanda dos agricultores, na última semana, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou uma lei garantindo que os produtores que possuam financiamentos de alongamento do Funcafé, com vencimento previsto em 2014, possam reescalonar o saldo devedor remanescente em parcelas trimestrais, semestrais ou anuais até 2020, conforme sua periodicidade regular de obtenção de receitas. A lei permite, ainda, que os adimplentes optem pelo pagamento físico.

 

Até o fim dessa semana, o novo secretário executivo do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), José Gerardo Fonteles, também deve anunciar o novo preço mínimo do café, que atualmente é de R$ 211,75 a saca. A Agricultura negocia R$ 282 e o Ministério da Fazenda quer R$ 261. O mercado espera que haja um consenso entre o Mapa e o Ministério da Fazenda, consolidando o valor do preço de garantia entre R$ 270 e R$ 275 a saca. Com base no preço mínimo deverá ser fixado ainda o preço do leilão de opção de 3 milhões de sacas, aproximando o valor do que é pedido pelos produtores, de R$ 300 a saca.

 

Todas essas medidas devem colaborar para a elevação dos preços do grão, mas apenas no médio e longo prazo. Para as próximas semanas, com a pressão da entrada da safra brasileira, a previsão é que os preços sejam ainda mais pressionados.

 

Gil Barabach, analista da Safras e Mercado, explica que em um primeiro momento a demanda pelo grão será diluída em razão da concentração de oferta. "Os fundamentos são positivos, mas a crise financeira encobre o cenário e a entrada da safra gera uma pressão sazonal", diz. A reação dos preços deve aparecer só em meados de outubro. "As medidas vão dar condições do mercado subir, mas a questão é se os produtores irão sobreviver para vender o café apenas lá na frente", ressalta Barabach.

 

Com estoques de abertura em queda nos países produtores, previsão de consumo em alta e renegociação da dívida junto ao governo, os cafeicultores esperam agora a recuperação dos preços para reanimar o setor.

 

Veículo: DCI


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