A CMPC Tissue S.A, filial da chilena Empresas CMPC, comprou por R$ 400 milhões a Melhoramentos Papéis, da Melpaper, controlada pela Companhia Melhoramentos de São Paulo. A quantia representa quase o dobro do valor de mercado da brasileira: na segunda-feira, data de anúncio da transação, a Melpaper, que tem capital aberto e reunia as operações de papéis e florestal, valia R$ 211 milhões. O controle da empresa estava nas mãos das famílias Weiszflog, Plöger e Velloso, donas de 88% do capital da Companhia Melhoramentos, que agora pretendem dar novo rumo aos negócios com foco no ramo imobiliário, na editora e nas operações de reflorestamento.
"O valor da nossa empresa estava depreciado e o negócio fechado com a CMPC só confirma isso", afirma Sérgio Sesiki, diretor de relações com investidores da Melhoramentos. Dos R$ 400 milhões, no entanto, a companhia brasileira só vai receber R$ 120 milhões em dinheiro. Isso porque a CMPC assumiu as dívidas da Melhoramentos Papéis, de R$ 80 milhões com os bancos e de R$ 200 milhões em tributos. Nesta última conta entram as parcelas do Programa de Recuperação Fiscal (Refis) e do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS).
Fabricante de papel higiênico, lenços de papel e guardanapos, a Melhoramentos Papéis respondeu por 74% da receita líquida da Melhoramentos em 2008, o equivalente a R$ 366,4 milhões.
A Melpaper foi responsável também pelo lucro líquido de R$ 21,7 milhões da Companhia Melhoramentos no ano passado. Isso porque, de acordo com o balanço de 2008, foi reconhecido o deságio da Melpaper, de R$ 45 milhões. "Foi uma operação meramente contábil", diz Sesiki. Segundo ele, quando o capital da Melpaper foi aberto, em 1998, "nós colocamos mais dinheiro do que a empresa valia". "Com isso, foi apurado um lucro e, segundo nossos assessores contábeis e jurídicos, passados dez anos, esse lucro poderia ser lançado nos resultados." Em 2007, a companhia havia registrado prejuízo de R$ 11,7 milhões.
A Melhoramentos já procurava um comprador para a operação, que engloba as marcas Sublime, Kitchen, Softy's e Lip's, entre outras, há pelo menos um ano. Além da CMPC, a brasileira Santher estava no páreo. A venda da Melhoramentos Papéis envolve três unidades industriais de papel e celulose, em Mogi das Cruzes (SP) e em Caieiras (SP). A brasileira mantém as unidades de reflorestamento em Caieiras e em Camanducaia (MG), onde também continuará operando uma fábrica de celulose.
Com a aquisição, a chilena CMPC, que até então operava no Brasil com importações (é dona da marca Dualette de papel higiênico), quer aumentar o seu processo de internacionalização. "Vamos aprofundar nossa presença na América Latina, somando operações fabris no Chile, Argentina, Peru, Uruguai, México, Colômbia, Equador e Brasil", disse Gonzalo García, secretário geral das Empresas CMPC, em comunicado. Em 2008, as vendas da filial CMPC Tissue foram de US$ 870,7 milhões.
A venda da Melhoramentos Papéis ainda precisa ser confirmada em assembleia de acionistas, que deve ocorrer em maio. De qualquer forma, diz Sesiki, a venda sinaliza uma completa mudança de perfil da Melhoramentos, que além dos serviços editoriais e de reflorestamento, vai apostar mais na área imobiliária.
Nesse ramo, a primeira grande operação da empresa foi a venda de uma área de 500 hectares em Caieiras para a Camargo Corrêa Empreendimentos Imobiliários (CCDI) no fim de 2007. O terreno, que era usado para reflorestamento, vai sediar moradias populares, hospitais e escolas, atendendo uma população de 80 mil habitantes, o que deve dobrar o tamanho da cidade. Nessa operação, a Melhoramentos terá participação no Valor Geral de Vendas (VGV) da CCDI, o que significa receita estimada em R$ 200 milhões para um período de dez anos. "Isso dá uma ideia de quanto essa atividade é promissora", diz Sesiki, lembrando que a companhia quer gerar negócios com outras fazendas na região da Grande São Paulo.
Veículo: Valor Econômico