Nos últimos anos, os números da pecuária leiteira na região Sul estão desajustados. A cada temporada, os três Estados (Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul) elevam a produção de leite, reflexo direto da tecnologia, sanidade, organização e qualificação empregadas dentro e fora da porteira. O ponto de desequilíbrio está no consumo, que não acompanha os ‘passos largos’ do campo. Desta forma, a lei da oferta e da procura, que tanto determina os preços praticados pelo mercado, tem pesado para a falta de estabilidade da remuneração aos produtores.
A situação contrastante entre produção e consumo é facilmente comprovada pelos números oficiais. Em 2016, dado mais atual disponível da Pesquisa Pecuária Municipal do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), juntos, os três Estados do Sul produziram 12,4 bilhões de litros de leite. A quantidade manteve a região Sul como a maior produtora nacional, à frente do Sudeste, com 11,5 bilhões de litros. Atualmente, 38% do leite brasileiro são produzidos no Sul do país, apesar da região representar menos de 7% do território nacional. A expectativa é, que em função do potencial regional, esse volume atinja 50% até 2023.
Na outra ponta da cadeia, principalmente em função da crise econômica, houve queda no consumo nacional do produto e de vários derivados. As vendas de queijo e iogurte, por exemplo, atingiram os menores níveis desde a temporada 2007/08. Na média, o brasileiro consume 174 litros de lácteos por ano, sendo que o ‘guia alimentar para a população brasileira’ do Ministério da Saúde recomenda, somando leite e derivados, 200 litros por ano. Diante deste desequilíbrio, produtores, entidades e indústrias da região Sul buscam o mercado internacional como saída para a estabilidade do setor e, consequentemente, melhora da remuneração em todos os elos da cadeia produtiva, inclusive dentro da porteira. Os três Estados contabilizam 172 mil produtores de leite.
“Temos que perseguir a sustentabilidade da cadeia produtiva. E isso passa pela participação no mercado internacional. Com o aumento da produção, inserção no exterior não é uma escolha, mas uma necessidade”, destaca Ronei Volpi, pecuarista, consultor da FAEP e coordenador geral da Aliança Láctea Sul Brasileira (ALSB), fórum que fomenta o desenvolvimento produtivo, industrial e comercial do setor nos três Estados do Sul. “A oferta cresce acima do ritmo da população brasileira. Mesmo projetando alta no consumo nos próximos anos com a melhora financeira das pessoas, fica abaixo [do necessário]. O Brasil precisa se transformar em exportador”, reforça Airton Spies, secretário de Agricultura e Pesca de Santa Catarina.
Quantidade não é problema. No ranking mundial, o Brasil aparece como o quarto maior produtor de leite. Ou seja, o país precisa articular uma estratégia para alcançar os principais mercados consumidores, principalmente na Ásia, aponta Tatiana Palermo, ex-secretária de Relações Internacionais do Agronegócio do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) nos anos de 2015 e 2016.
Como produtor, o Brasil tem possibilidade de exportar. Mas [a exportação] é uma atividade complexa, que requer sanidade, logística, estudo de mercado, composição de preços competitivos, gama de produtos, entre outras variáveis”, diz Tatiana. “O produto exportado passa por rígidos padrões de qualidade e exigências sanitárias do mercado comprador. Além das questões de tendência de consumo”, complementa.
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Fonte: Paraná Portal