Indústria de alimentos tenta diversificar o cardápio

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A indústria alimentícia projeta dois cenários distintos para o mercado interno: com menos dinheiro no bolso, o consumidor fica mais seletivo e acaba escolhendo porções menores ou marcas mais baratas de alimento; ou então aproveita os recursos que seriam empregados em produtos de maior valor agregado, como a prestação de carros, de eletrodomésticos ou de eletroeletrônicos, e os direciona às compras básicas, começando pela comida. Seja qual for a tendência para os próximos meses, boa parte dos fabricantes está confiante no aumento da demanda e prevê bons resultados para 2009.

 

A Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação (Abia) acredita em um aumento de 1,5% na produção. "Alimentação é uma necessidade básica e, como tal, costuma sofrer menos em épocas de turbulência econômica", afirma Denis Ribeiro, coordenador do departamento de economia e estatística da Abia. Em 2008, o setor faturou R$ 269 bilhões, com crescimento de 16,5% sobre a receita bruta do ano anterior. Em termos reais, descontada a inflação, o aumento nas vendas de alimentos processados e bebidas foi de 3,2%, segundo a Abia.

 

A incógnita no horizonte da indústria no momento diz respeito à febre suína, que tem castigado as ações de alguns frigoríficos. "Não sabemos até agora qual será o impacto da doença sobre os negócios do setor", diz Ribeiro. A Bertin, que não produz derivados de carne suína, está despreocupada. "Na gripe aviária, que assustou os consumidores em 2003 e 2004, houve migração do consumo de aves para o de carne bovina, comportamento que pode se repetir agora", afirma o diretor da divisão de lácteos da Bertin, Fernando Falco.

 

Apesar dos esclarecimentos da Organização Mundial da Saúde (OMS) de que a gripe suína não é transmitida pela carne do porco, empresas como a Bertin podem se beneficiar do receio dos consumidores em ingerir esse tipo de alimento. De qualquer forma, a Bertin tem apostas mais consistentes para fazer crescer suas vendas este ano. "Estamos investindo cada vez mais em produtos de maior valor agregado e acabamos de fazer uma reestruturação no nosso plano de marketing, identificando cada marca do portfólio com um tipo de público", afirma Falco.

 

Até agora, os resultados são animadores. "As vendas de lácteos cresceram 11% no primeiro trimestre e aumentamos os nossos pontos de distribuição em 10%, chegando a 2 mil estabelecimentos." A meta para o ano, diz Falco, é manter o crescimento de dois dígitos para lácteos e carnes. Nesse último segmento, a proposta é aumentar o valor agregado dos produtos também para o food service. Um exemplo está na entrega de itens pré-processados, como carnes já fatiadas para empresas de refeições coletivas.

 

A cearense M. Dias Branco, líder na produção de massas e biscoitos, prevê que o ritmo de crescimento em 2009 será maior que o do ano passado, quando atingiu vendas líquidas de R$ 2,19 bilhões, com alta de 45,5% sobre 2007. "Temos cerca de 300 itens, distribuídos em 40 marcas para o consumo doméstico e industrial, o que nos permite atender uma gama muito variada de público", afirma o chief financial officer (CFO) da M. Dias Banco, Geraldo Luciano Mattos Júnior.

 

A indústria é dona de marcas como Adria, Isabela, Fortaleza, Basilar e Rochester, e também fabrica óleos, margarinas e farinhas. Capitalizada, a M. Dias Branco estuda, inclusive, novas aquisições em 2009. Sua última investida foi a compra da pernambucana Vitarella, em abril de 2008. Hoje, a fabricante divulga ao mercado seus resultados no primeiro trimestre, e avisa que o resultado cresceu.

 

A Nestlé e a Kraft, por sua vez, acreditam que poderão apresentar bons números às matrizes suíça e americana, respectivamente. Há grandes expectativas em torno do mercado brasileiro, um dos poucos em que o consumo tem chances de crescer em 2009. "Nossa estratégia passa pela oferta de marcas líderes em porções menores, que permitem menor desembolso por parte do consumidor", afirma Mark Clouse, presidente da Kraft, dona da Lacta. Com isso, diz, a empresa pode oferecer o mesmo produto, por um preço mais baixo.

 

A Nestlé segue pelo mesmo caminho. A companhia está desenvolvendo um projeto piloto em Pernambuco e no Ceará em que oferece sachês de produtos como Leite Ninho, Mucilon, Nescau e Maggi Tempero & Sabor com preços sugeridos entre R$ 0,15 e R$ 0,70. "Criamos produtos com a cara do público das classes C, D e E e ao alcance do seu bolso", explica o presidente da Nestlé no Brasil, Ivan Zurita.

 

Veículo: Valor Econômico


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