Tradicionalmente conhecida pelas canetas esferográficas, isqueiros e barbeadores, a multinacional francesa BIC planeja ampliar sua presença no Brasil por meio de novos produtos. E para levar a ideia adiante, a companhia não descarta aquisições, conforme entrevista dada ao Valor pelo gerente-geral da BIC na América Latina, Edgar Hernandez. A estratégia, segundo ele, se baseia principalmente na capilaridade da empresa no país, onde conta com 300 mil pontos de vendas credenciados e um portfólio de mais de 220 produtos.
O fato de fabricar itens de baixo valor unitário, vendidos em bancas de jornal, supermercados, papelarias e outros locais de fácil acesso, já fez com que a BIC ingressasse, por exemplo, na comercialização de cartões telefônicos em seu país de origem. Neste caso, o resultado superou as expectativas e a parceria com a Orange, operadora de telefonia francesa, foi ampliada em julho do ano passado com a criação de um aparelho de telefone celular pré-pago com a marca BIC. A fabricação é feita pela Alcatel.
Por isso, quando questionado sobre quais deverão ser os próximos passos da companhia no país, Hernandez não descarta nenhuma possibilidade. "Estamos sempre atentos à América Latina, pois é uma região que, nos últimos dez anos, apenas uma vez não apresentou crescimento", declarou o executivo. A aquisição mais recente da empresa no Brasil aconteceu em 2006, quando incorporou a fabricante de etiquetas Pimaco. Antes, em 1997, a BIC comprou a Sheaffer.
Em âmbito mundial, a última aposta da multinacional foi a compra de 40% do capital da indiana Cello Pens, líder de mercado. O investimento total foi de €124 milhões e será concluído até o fim do primeiro semestre deste ano. A estratégia, de acordo com Hernandez, normalmente não é a de incorporar uma empresa rival, mas como a BIC não tinha penetração no mercado indiano, foi a alternativa "mais interessante".
No último dia 22, a BIC divulgou na França os resultados referentes ao primeiro trimestre de 2009. Nele, a única região que apresentou crescimento foi justamente a América Latina, de 14% na comparação com igual período do ano passado. De acordo com Hernandez, a América do Sul representa 50% do resultado, onde o Brasil é responsável pela maior fatia. No resultado global do primeiro trimestre, a região correspondeu por 23% das vendas líquidas da BIC, que totalizaram € 308,4 milhões.
Tal desempenho fez com que a região ficasse de fora do plano de corte de custos de €30 milhões anunciados por Mario Guevara, presidente mundial da empresa. No mesmo intervalo, as vendas na Europa recuaram 2,8%, na América do Norte 6,3% e na África, Ásia e Oriente Médio 8,1%.
Para o Brasil, enquanto não há definição sobre aquisições, os dois principais focos da BIC são as ampliações de capacidades de produção de isqueiros e barbeadores. Com investimento estimado entre US$ 7 milhões e US$ 9 milhões, a BIC planeja incrementar em 25% sua produção de isqueiros, passando de 160 milhões para 200 milhões de unidades por ano, e em cerca de 12% a de barbeadores, para ultrapassar a marca de 300 milhões de unidades.
Segundo o diretor-geral da BIC no Brasil, Horácio Balseiro, o investimento está ocorrendo na fábrica da empresa localizada no polo industrial de Manaus (AM). "Estamos reorganizando o layout da fábrica, pois ganhamos espaço com a inauguração de um centro de distribuição no terreno em frente no fim do ano passado", explicou Balseiro.
A fábrica de Manaus, ressaltou o executivo, é a única da companhia que produz as três principais linhas da BIC (papelaria, isqueiros e barbeadores). Além dela, a companhia conta com a fábrica da Pimaco no Rio de Janeiro e com uma divisão de papelaria em Cajamar, onde está localizado também a sede administrativa no Brasil. As outras unidades instaladas na América Latina estão situadas no México e Equador.
Veículo: Valor Econômico