Leader planeja novas lojas no Nordeste e investe R$ 20 milhões

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Durante oito meses, a família Gouvêa, de Niterói, conviveu com a expectativa de colocar no bolso R$ 670 milhões. Em fevereiro de 2008, a Lojas Renner fez uma oferta pela Leader, rede varejista fundada pelos Gouvêa em 1951, que faturou R$ 778 milhões no ano passado. Mas a crise financeira internacional fez a Renner desistir do negócio em outubro e a família precisou mudar de planos.

 

Em vez dos oito Gouvêa sócios controladores buscarem novos caminhos, o jeito foi voltar a definir estratégias para a Leader, que hoje conta com 44 lojas no Sudeste (exceto São Paulo) e Nordeste, com um mix que inclui roupas, artigos de cama, mesa e banho e utilidades para o lar. Robson Gouvêa, acionista e presidente da varejista, diz que os planos para crescer estão mais vivos do que nunca. Este ano estão previstos investimentos de R$ 20 milhões.

 

O projeto de expansão inclui a estreia da varejista em Salvador (BA) e a inauguração de uma segunda unidade em Recife (PE). O grupo já está no Espírito Santo, em Minas Gerais, Sergipe, Alagoas e Rio Grande do Norte. Em março, o Rio ganhou mais uma casa antiga e ampla, no bairro do Catete, zona sul da cidade. Foi montada uma operação de "retrofit" (recuperação do imóvel) em que parceiros ficam responsáveis por toda a parte de construção civil.

 

Robson afirma que venda, ao menos por enquanto, não está na agenda da família. Ele desmente especulações de que haveria negociações com a concorrente Marisa, grupo com perfil semelhante e 216 lojas espalhadas pelo país. Apesar de, na entrevista ao Valor ter deixado espaço para interpretações de que vender a Leader continua no foco, Robson diz que o momento inibe qualquer movimento, uma vez que a crise financeira distorceu os preços dos ativos.

 

O empresário conta que não foi ele quem procurou a Renner. Lembra que, no início de 2008, recebeu um telefonema do presidente da varejista gaúcha, José Galló. "Já nos conhecíamos e conversávamos, mas naquela ocasião ele disse que queria fazer uma oferta pela Leader", disse. A proposta agradou, embora a expectativa da venda tenha deixado seu pai, Newton Gouvêa, de 86 anos, "bastante emocionado". Afinal, foi ele quem abriu a primeira loja junto com um irmão (Laênio) e um tio (Omar). Mas pesou o lado prático: na terceira geração da família não há jovens com perfil para se envolver no negócio.

 

Robson conta que foi o que pesou na opção da família de partir para a profissionalização, em 1998. "Essa é uma tendência natural numa empresa familiar, se não houver um descendente que seja um craque. É melhor ser um bom sócio do que um mau executivo", diz.

 

O processo começou com a contratação de uma consultoria para montar a transição. Uma das definições foi que os membros da família Gouvêa só trabalhariam na empresa após cuidadoso recrutamento. Teriam que passar pelas mesmas etapas de seleção que qualquer outro empregado.

 

Outro caminho definido foi de profissionalizar o comando e representantes da família deixaram os cargos executivos. Rogério Macedo, que entrou no grupo em 2001, foi escolhido para a presidência. Assumiu em 2005, após um período frente à subsidiária de cartões e foi um dos responsáveis por um salto na empresa. Há dois anos, 50% dessa subsidiária foi vendido para o Bradesco. Hoje são mais de 5 milhões de clientes fidelizados.

 

Macedo acompanhou de perto todas as negociações com a Renner. O executivo deixou a Leader em abril. "Ele cumpriu um ciclo", afirma Robson Gouvêa, de forma sucinta. Com a saída, ele próprio, de 51 anos, formado em administração de empresas, optou por assumir a presidência-executiva. E não tem data fixada para sair.

 

Robson, o pai e os irmãos detêm 58% da companhia. A participação restante é divida em sete sócios, todos do clã dos Gouvêa. Seu irmão Emerson tem assento no conselho de administração, assim como a prima Suzi. A família tem uma sala, ao lado da diretoria, onde pode se reunir e conversar sobre a empresa. Newton Gouvêa, mesmo com 86 anos, vai ao escritório praticamente todos os dias, diz o filho. Os outros três conselheiros são profissionais do mercado, o que, segundo Robson, garante equilibrio na tomada de decisões.

 

A Lojas Renner iria comprar a Leader e absorver a dívida de R$ 74 milhões. Alguns analistas consideravam o preço alto demais. Para Robson, entretanto, o preço não só era justo, como para a Renner "seria um grande negócio" e possibilitaria que a rede gaúcha, com 111 lojas, "desse um salto no varejo". "A Renner está voltada para as classe B, nós para C e D", diz.

 

Agora, entre os novos projetos da Leader está uma parceria com a Globo Marcas, que começou a ser implementada na semana passada. Trata-se de uma coleção inteira inspirada na novela "Caminho das Índias", da Rede Globo. Foram criados vários atrativos, como um karaokê nas lojas com as músicas da novela. Desde 2007, há um contrato com Juliana Paes, estrela da novela. Foi criada uma linha de produtos que levam o nome da atriz, que como a sede da Leader, é de Niterói.

 

Robson afirma que, mesmo em meio à crise, as vendas da Leader cresceram 3% no primeiro trimestre de 2009, na comparação com o mesmo período do ano anterior, e 12% em 2008 frente a 2007. "Estamos vendendo bem, mas nada comparado com o período em que crescíamos 31% ao ano. O último Natal foi difícil, todo mundo estava assustado", diz.
 


Veículo: Valor Econômico


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