Grifes de calçados lançam segunda marca para atrair clientela

Leia em 5min 30s

Um fenômeno começa a ganhar corpo no varejo brasileiro de calçados: de olho na ampliação da base de clientes, algumas marcas estão reajustando os preços - para baixo - ou criando segundas linhas de produtos mais acessíveis. O movimento atinge, sobretudo, as grifes de calçados premium, cujos preços médios giram em torno dos R$ 700. É esse o caso de Pollignanno Al'Mare, Tao Galeria e Sandra Silveira - todas marcas que produzem calçados à mão, com matéria-prima especial e acabamento cuidadoso. As duas primeiras estão colocando no mercado novas marcas. Já Sandra Silveira optou por baixar em cerca de 30% os preços de seus sapatos, sem (ainda) partir para a segmentação de linhas.

 

"Esta estratégia, apesar de não ser nova, é inteligente, pois não é fácil viver apenas do mercado premium", diz a consultora de varejo Celina Kochen. "Uma segunda linha pode complementar a primeira e atrair clientes novas às lojas."

 

Há três meses, a Arezzo vem fazendo uma experiência com uma segunda marca de sapatos mais baratos, a Ana Capri. A empresa abriu dois pontos de venda no bairro do Itaim, em São Paulo. Mas nem todas as grandes redes estão seguindo esse caminho. A Capodarte e a Dumond - ambas do grupo Paquetá - seguem trabalhando com suas linhas regulares. "Acreditamos na diferenciação por meio da qualidade", diz Leandro Mosmann, gestor superintendente da Capodarte e Dumond. Por conta disso, o executivo não vê a necessidade de criar outras linhas de produtos, para aumentar a base de clientes. "Tivemos um crescimento de 15% no primeiro quadrimestre do ano e estamos expandindo a rede de lojas". De acordo com Mosmann, o grupo Paquetá deverá fechar o ano com R$ 1,5 bilhão de faturamento.

 

Mas para marcas menores - e mais caras - a redução nos preços parece ser uma tendência, acentuada em tempos de crise. No lugar de gastar R$ 350, em média, por um calçado, a cliente da Sandra Silveira paga uma média de R$ 250 nos modelos da atual coleção de inverno. O segredo, segundo Marcia Lagos, sócia da marca, está no consumo mais consciente de matéria-prima. "Não dá mais para gastar como gastávamos antes", diz Marcia. "As clientes que vinham à loja e compravam dez pares de sapato não existem mais."

 

Para baixar os custos, a grife fez mudanças sutis, mas eficientes. "Em alguns modelos, trocamos a sola de couro por uma sola de borracha colorida e moderna", diz Sandra. O forro de pele natural também foi substituído, em alguns casos, pelo neoprene. A estratégia, segundo a designer, mantém o charme dos produtos e ainda dá uma pitada de irreverência. "Uma das sapatilhas dessa coleção tem sola de borracha e custa R$ 250", diz Sandra. "A sola de couro faria com que ela custasse R$ 400."

 

Uma moeda de metal, com o logo da grife, que era aplicada à palmilha dos sapatos também foi suprimida, em nome da nova realidade. Segundo a sócia Marcia, essas mudanças só foram possíveis porque os materiais também evoluíram. "Antes, não encontrávamos matérias-primas alternativas de qualidade e era impensável usar borracha no lugar da sola de couro." Para o próximo ano, as empresárias estudam a diversificação de linhas de produto, dentro da grife. "Seria como fazer arte para o consumo de massa", diz Marcia. A grife Sandra Silveira - com uma butique no bairro dos Jardins e cerca de dez clientes multimarcas - faz cerca de 40 modelos de sapatos por coleção. A empresa também desenvolve calçados - no esquema private label - para grifes como Lita Mortari, Cavalera, Calvin Klein e UMA.

 

Com oito anos de mercado, a Pollignanno Al'Mare acaba de lançar sua segunda marca, a La Bella Nel, à venda na butique da Pollignanno aberta semana passada no Shopping Iguatemi, em São Paulo. A Pollignanno foi criada pelas irmãs Juliana Piva de Abulquerque Lewcovikz e Fernanda Piva de Abulquerque Vidigal e tem como premissa criar sapatos sofisticados, com saltos altos e ricos em detalhes. A La Bella Nel, mais casual, foi agregada à empresa com a entrada de uma nova sócia no negócio, a empresária e designer Nelma Goulart - ex-sócia da grife carioca Constança Basto. Esta última, aliás, também focada no segmento de calçados femininos premium, foi uma das precursoras desse movimento da segunda marca, quando lançou, há alguns anos, a linha Peach - que atualmente tem até loja própria.

 

Por enquanto, La Bella Nel se une à Pollignanno nas lojas da rua Oscar Freire e na Daslu, em São Paulo. "Mas a intenção é franquear butiques com a bandeira La Bella Nel", informa Nelma. Enquanto a Pollignanno Al'Mare tem preços médios de R$ 700, a segunda marca vende sapatos por, em média, R$ 450. "O estilo também é diferente: a La Bella Nel é mais discreta, com saltos mais baixos e indicados para o dia a dia."

 

Outra que está investindo numa linha mais casual é a Tao Galeria. Para o próximo verão, a grife ganhará uma "filha mais nova", a Galeria. Enquanto a Tao é uma grife de sapatos para classe AA, com uma construção complicada e requintada, a Galeria se destina à grande difusão. "A qualidade dos materiais é a mesma, mas a segunda linha tem menos detalhes que encarecem o produto", informa designer Martha Ribeiro, que tem 15 anos de mercado e experiência em desenvolver calçados para marcas como Shoestock, Jorge Alex e Daslu. A designer trabalhou por oito anos na Capodarte. "Meu forte sempre foi criar sapatos com cara chique, porém acessíveis", diz a designer, que se desligou da Capodarte em setembro do ano passado.

 

Segundo Martha, enquanto os sapatos da Tao custam, em média, R$ 700, os da Galeria ficarão na faixa dos R$ 200, em média. "Uma linha artesanal e pequena como a Tao, cuja produção não passa 2 mil pares por coleção, pode ter um sapato de couro pintado à mão", diz Martha. "Já na grife Galeria, com 10 mil pares por coleção, isso seria impossível." Os artigos da Tao são distribuídos, atualmente, para 30 lojas multimarcas. A Galeria deverá atingir os 300 pontos de venda.

 

Veículo: Valor Econômico


Veja também

Leader planeja novas lojas no Nordeste e investe R$ 20 milhões

Durante oito meses, a família Gouvêa, de Niterói, conviveu com a expectativa de colocar no bolso R$ ...

Veja mais
Patrocínio: Red Bull reforça aposta no automobilismo

A Red Bull, fabricante austríaca do energético com o mesmo nome, acaba de fechar contrato para patrocinar ...

Veja mais
Marca própria 1

A percepção do consumidor em relação à qualidade e ao preço dos produtos de ma...

Veja mais
RG da pele

A partir de junho, a Neutrogena (Johnson & Johnson) vai disponibilizar às principais redes de farmácia...

Veja mais
Área com trigo pode ter redução de até 30%

Às vésperas do início do período de plantio das lavouras de trigo no Rio Grande do Sul as pe...

Veja mais
Vacância zero impulsiona expansão dos shoppings

Nem mesmo o freio nos investimentos por parte de algumas lojas-âncoras, por conta da crise, parece ter atrapalhado...

Veja mais
O que se gasta

Qual é o peso dos alimentos nas compras mensais dos lares brasileiros em supermercados e no pequeno varejo? Uma p...

Veja mais
Toalha

O segmento de cama, mesa e banho registrou alta de 4% nas vendas na primeira quinzena de maio em relação a...

Veja mais
Sadia e Perdigão fazem campanha para anunciar fusão

Acionistas da Sadia resolvem rediscutir alguns pontos e com isso atrasam a assinatura dos contratos   A protagoni...

Veja mais