Por que, em plena crise econômica, a Gomes da Costa atingiu o maior faturamento trimestral de sua história
Em tempos de crise financeira, o consumidor adota um curioso comportamento em suas compras de alimentos. Para economizar, ele até troca seus produtos preferidos por outros mais baratos, mas, ao mesmo tempo, não abre mão de marcas reconhecidas no mercado. Isso explica por que a turbulência econômica ajudou a Gomes da Costa a conquistar, entre janeiro e março, o maior faturamento trimestral de sua história. As vendas da empresa, famosa por seus pescados enlatados, chegaram a R$ 130 milhões, valor 32% maior em relação a igual período do ano passado. No mesmo intervalo de tempo, o setor de alimentos expandiu-se apenas 3%.
Boa parte do crescimento nas vendas, avalia a empresa, ocorreu porque os consumidores estavam predispostos a pagar barato, em média R$ 2, pela lata de sardinha da marca. Há ainda os que economizam preparando mais comida em casa, em vez de sair para comer fora. Além deles, a empresa acredita ter conquistado brasileiros de poder aquisitivo maior, preocupados em consumir alimentos saudáveis - e, para ela, sardinhas e atuns em lata se encaixam nessa categoria. Para este ano, a previsão da Gomes da Costa é de um faturamento de R$ 415 milhões, 18,5% mais que em 2008. "Com certeza vamos atingir esse objetivo.
A indústria de alimentos não tem picos de crescimento em momentos de alavancagem, mas também não sofre com crises econômicas como esta", afirma o espanhol Alberto Encinas, presidente da Gomes da Costa. Fundada pelo português Rubem Gomes da Costa, em 1954, a empresa é controlada, desde 2004, pelo grupo espanhol Calvo, um dos maiores fabricantes de pescados em conserva do mundo. A primeira iniciativa da espanhola por aqui foi investir R$ 100 milhões no aumento da capacidade produtiva da fábrica brasileira e na construção de uma indústria de embalagens, ambas em Itajaí, no Rio de Janeiro.
A intenção da empresa era a de trazer para o País a tampa abre fácil nas latinhas de atum e sardinha. "Foi uma mudança pequena, mas de grande impacto na logística, no marketing e no consumo", afirma Encinas. A nova apresentação do produto aumentou as vendas internas e abriu espaço para exportações para países latinos, entre eles a Argentina, o Uruguai e o Chile. As vendas para o Exterior saltaram de 10% para 15% do faturamento da companhia. Assim, a Gomes da Costa passou a enviar os enlatados também para países africanos, como Angola e Líbia.
"A embalagem abre fácil era uma tendência lá fora, mas não existia no Brasil até a lançarmos", explica Encinas. Segundo ele, o diferencial reforçou a marca no Brasil e mudou o hábito de consumo de pescados em lata dos brasileiros. "Depois que conheceram a nova embalagem, os consumidores não queriam mais as embalagens convencionais. Os concorrentes tiveram que nos acompanhar e adaptar seus produtos para essa nova demanda", afirma.
O resultado recorde deste primeiro trimestre ainda está aquém dos planos da empresa. Encinas acredita que o consumo brasileiro de pescados em conserva ainda está longe de atingir o nível da Europa, por exemplo. Enquanto cada espanhol consome 36,7 quilos por ano de peixes e mariscos, dos quais 4,77 quilos são de enlatados, os brasileiros ingerem 6,9 quilos por ano cada um. Desses, apenas 230 gramas são de atum e sardinha em lata. "Não há no Brasil a cultura de incluir peixes na alimentação como um hábito saudável", afirma Encinas. "Estamos fazendo parcerias com o Ministério da Pesca para desenvolver campanhas nesse sentido", diz o executivo.
Veículo: Revista Isto É Dinheiro