Varejo cria modelo de gestão para exportar

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O forte desempenho do varejo brasileiro nos últimos três anos, especialmente no segmento supermercadista, chama a atenção das companhias para o fato de que é possível estudar a exportação do modelo de gestão de negócios e formatos de lojas nacionais. Prova disso é que duas das três maiores redes que atuam no País, o Grupo Pão de Açúcar (GPA), e a rede Wal-Mart, por exemplo, têm desenhado planos para internacionalizar seus negócios formatados no mercado interno. No caso do GPA, a possibilidade é exportar a bandeira de "atacarejo" Assai, que, um ano e meio depois da sua aquisição, dobrou de tamanho e conta com 28 lojas.

 

Já o Wal-Mart desenvolve na Região Nordeste projetos pilotos com a Loja da Comunidade, oferecendo diversos serviços populares com as marcas populares Todo Dia e Maxxi Atacado. Segundo afirmação recente de Héctor Núñez, presidente do Wal-Mart Brasil, o novo formato poderá ganhar os mercados indiano e chinês por sua semelhança com a realidade brasileira.

 

A respeito da internacionalização da rede de "atacarejo" Assai, o empresário Abilio Diniz, presidente do Conselho de Administração do Grupo Pão de Açúcar, afirmou a possibilidade de adotar essa estratégia, mas sem data pré-definida. "Se quisermos levar este modelo de loja [Assai] a outro país já temos tudo pronto", garantiu ele, durante a 25ª Feira Internacional de Negócios em Supermercados (Apas 2009), realizada em São Paulo, e promovida pela Associação Paulista de Supermercados (Apas).

 

Diniz se baseia no fato de que a iniciativa pode ganhar força, devido ao fato de o GPA ter como principal acionista o francês Groupe Casino, segundo maior supermercadista da Europa. Para a cúpula do Pão de Açúcar, a expansão do modelo híbrido de atacado com varejo será uma das prioridades este ano, e juntamente com a bandeira de loja de vizinhança Extra Fácil, será responsável por praticamente 70% das lojas a serem inauguradas no decorrer deste ano.

 

O Assai, quando arrematado a R$ 208 milhões, tinha presença restrita ao Estado de São Paulo. Desde o ano passado, porém, a rede segue com inaugurações em Fortaleza (CE) e Rio de Janeiro (RJ), além de procurar pontos em João Pessoa (PB), Maceió (AL) e nas cidades pernambucanas de Recife e Caruaru. "O 'atacarejo' é o modelo da moda, uma onda em que queríamos surfar há algum tempo, mas sabemos que acabará. Quem não aproveitar o momento, não terá mais chance. É preciso ter competência para ganhar mercado com esta oportunidade", afirma o presidente do GPA. Questionado, o executivo não comentou quando este movimento começaria a definhar.

 

Expansão

 

A Loja da Comunidade, do Wal-Mart, tem três pontos-de-venda entre Bahia e Pernambuco, e há planos de trazê-la às Regiões Sul e Sudeste ainda este ano, adaptando o formato à realidade das comunidades locais. Entre os avanços no projeto está o "Expresso Cidadão" e o "Sistema Público de Emprego", os quais são desenvolvidos em parceria com o Governo do Estado e a Prefeitura de Pernambuco.

 

De acordo com a companhia, o objetivo do projeto é oferecer serviços de interesse da população local que muitas vezes não estão disponíveis no próprio bairro. São investidos, em média, R$ 6 milhões em unidade. Héctor Núñez aponta de que a estratégia foi desenvolvida para ganhar escala, para manter bons níveis de rentabilidade e aumentar fluxo de clientes em 50% nestas lojas. Desde o início do funcionamento da primeira Loja da Comunidade, há dez meses, houve mais de 70 mil atendimentos à população. Segundo o presidente da rede, o projeto tem potencial para ser internacionalizado em países como a China e a Índia - onde a varejista opera com um parceiro local - devido às semelhanças com o Brasil. Com formato que lembra o de um centro comercial, a ação marca também o início da operação no segmento de clínica médica, administrada pela Clinicheck, diferentemente do que ocorre nos Estados Unidos, onde a varejista opera as clínicas com parceiros privados.

 

Para assegurar rentabilidade, o Wal-Mart concentrará sua expansão no País pelos próximos cinco anos com as bandeiras Todo Dia e Maxxi Atacado, voltadas às classes sociais de menor poder aquisitivo, área que também é alvo dos concorrentes Carrefour e Grupo Pão de Açúcar.

 

Cenário

 

Sobre o cenário decorrente da crise financeira internacional, o presidente do Conselho de Administração do Grupo Pão de Açúcar afirmou que ela ainda não atingiu o setor de supermercados. Segundo ele, o crescimento acumulado nos últimos anos e a mudança de nível social da população levou o brasileiro a consumir mais. "O que nos afeta é a redução da renda e o aumento do desemprego. Não há sinais de que haverá aumento do desemprego: ao contrário, já está havendo uma retomada dos postos de trabalho. Não vejo perspectivas ruins para o comércio em 2009."

 

Com relação à possível compra da rede varejista Ponto Frio - que foi posta à venda no final de março - pelo Pão de Açúcar, Diniz evitou fazer comentários. "Negociações nós não comentamos, só comentamos se ocorrerem. Não aconteceu nada, então não temos nada a comentar", afirmou. O executivo limitou-se a responder que a companhia "considera todos os negócios" disponíveis. "Temos a obrigação, com nossos acionistas, de sermos responsáveis. Eles esperam que nós consideremos todas as oportunidades. Se vamos fazer ou não é uma decisão posterior" afirmou.

 

Ontem, o Pão de Açúcar reafirmou que o teto aprovado por acionistas para investimentos em expansão em 2009 é de R$ 1,3 bilhão, podendo ser abertas até 100 unidades. "A renda do brasileiro continua crescendo e isso reverte em nosso favor. Por isso vamos abrir mais lojas, inclusive em cidades em que tenhamos uma boa presença, mesmo que isso pareça falta de juízo", endossou Diniz.

 

Quanto à líder supermercadista Carrefour, o aporte destinado para 2009 será de R$ 1 bilhão.

 

O Wal-Mart mantém a meta de aportes de R$ 1,8 bilhão este ano na abertura de lojas. A rede confirma que está mantido o número de parcelamentos a longo prazo no momento da venda de produtos, "porque é em momentos críticos que reforçamos nossa presença junto aos clientes", disse Núñez.

 

Veículo: DCI


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