Café com gosto de sofisticação

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Bebida nacional por excelência desde os tempos do Império, o café brasileiro sofisticou-se nos últimos anos, não só no mercado externo - no qual detém cerca de 30% de participação, segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic). Os brasileiros ficaram mais exigentes com a bebida, e apesar de o cafezinho da padaria ainda ser tradicional, cafeterias especializadas em café de qualidade (premium) são cada vez mais presentes nas grandes cidades do País.

 

Dados da Abic apontam que o consumo de cafés gourmet, que até 2001/2002 praticamente inexistia, tem crescido em média 15% ao ano. Em 2008, do consumo total de café torrado e moído (17,66 milhões de sacas), os cafés gourmets representaram 4% (690 mil sacas). O volume pode parecer pequeno, mas em valor, o segmento gourmet representa de 7% a 8% das vendas totais (que foram de R$ 6,5 bilhões em 2008).

 

Segundo o consultor Luiz Freitas, do Centro de Estudos e Varejo, as lojas do segmento podem oferecer bons lucros. "O segmento está crescendo, mas esse crescimento também pode ser perigoso, porque faz com que o negócio fique comum, perca o diferencial. Para continuar dando certo, o ideal seria a loja agregar sempre serviços diferenciados", analisa Freitas.

 

A melhor estratégia é manter-se "diferente", segundo o consultor, e apostar no treinamento dos funcionários. "A forma de atendimento faz toda diferença na hora de cativar os clientes e na repercussão do marketing da loja. Normalmente, essas lojas são direcionadas para um publico de maior poder aquisitivo, que são justamente os que valorizam mais a forma de atendimento com qualidade", explica.

 

A loja Café Mix, que fica no Taguatinga Shopping, em Brasília, foi inaugurada no último dia 30. Segundo um dos sócios, Leonardo Bruno Ferreira Gregorim, a empresa surgiu devido a oportunidade oferecida pelo estabelecimento e a carência de uma cafeteria no local. "Por ser um produto de baixo custo e o Brasil sendo um dos maiores produtores de café do mundo, resistiu bem a crise, mantendo a demanda constante", diz Gregorim.

 


De acordo com ele, o consumidor que aprecia café exige elevado padrão de qualidade, preza o grau de pureza dos grãos e não se importa com um curto período de espera para apreciar a bebida. Gregorim revela que uma estratégia para atrair mais clientes é contar um pouco da história do café, mostrar as diferenças da extração. "Também temos um ambiente agradável e confortável, a apostamos nas promoções. O cliente, além de apreciar um bom café, poderá degustar de um bom pão de queijo por um preço acessível".

 

O sócio da Café Mix afirma que existem muitas lojas que oferecem café, mas cafeterias que servem café de qualidade são poucas. "A concorrência é saudável, estimula novas idéias e traz benefícios principalmente ao consumidor. Para ter um diferencial, é bom agregar serviços, contudo deve-se ter cuidado para não desviar muito o foco. Buscamos sempre agregar salgados mais refinados, e doces mais bem elaborados. Temos biscoitos caseiros também", diz.

 

Outra cafeteria de Brasília especializada em cafés de qualidade é a Casa do Pão de Queijo, no Terraço Shopping, A franqueada é Maria de Fátima Almeida Tostes, que tem a loja desde 1999. Segundo ela, mesmo com crise, a demanda de café não mudou, mas o tíquete médio de venda de lanches sofreu alterações. "As pessoas continuam consumindo, mas compram em menos quantidade. O cliente de Brasília é muito exigente. São pessoas que apreciam o café e têm o hábito de degustá-lo. O que está muito comum aqui são cursos de barismo", diz.

 

Para ela, estar instalada em um shopping é um fator positivo, já que, além da segurança, os clientes possuem alto poder aquisitivo. "O cheiro do café também é um atrativo. Trabalhamos com o melhor café do mercado, 100% arábico, grão de qualidade e cheiroso. Ele é mais adocicado e com alta cremosidade. A principal estratégia é a qualidade. Todos os funcionários fazem cursos duas vezes por ano para aprimorar o atendimento e o manuseio do café. Não adianta ter o melhor grão se o atendente não sabe extrair o melhor do café na máquina", explica Maria de Fátima.

 

A proximidade com outras lojas não afeta as vendas, segundo a franqueada, que acha a concorrência "importante". "A concorrência obriga as empresas a oferecerem o melhor aos clientes, senão perdem espaço. Como diferencial, ofereço mais produtos com o tíquete médio. Em vez de tomar apenas um café, o cliente lancha e experimenta novidades. Ofereceremos pão de queijo, folheados, sanduíches e outras bebidas de café e de chocolate. Os drinks de café também são um diferencial. Um dos mais pedidos é o Fredo, um shake de café servido gelado", conta.

 

No Rio de Janeiro, a cafeteria Mio Café, foi inaugurada no Rio Plaza Shopping esse ano. A proprietária Alexandra Bastos, ex-sócia da Blends Cafés Especiais, investiu R$ 250 mil em equipamentos, projeto décor e treinamento dos baristas. A carta de cafés tem 50 combinações da bebida. A decoração foi toda pensada para favorecer o ambiente. A sócia tem a expectativa de que ainda esse ano mais duas unidades sejam inauguradas no Rio.

 

Alexandra conta que foi apresentada ao segmento de cafés especiais há alguns anos, ao visitar uma fazenda durante um estudo para exportações. "Sempre brinco que me apaixonei por um pé de café. Me envolvi com uma rede de cafeterias que estava se reorganizando e, após o fim deste período, decidi investir numa marca própria que tivesse todos os elementos que eu achava importantes numa cafeteria. O Mio Caffè nasceu dessa paixão"diz.

 

Segundo Alexandra, a reação do mercado ao empreendimento tem sido positiva. "A nossa estratégia é oferecer produtos de alta qualidade. Isso inclui a escolha e qualificação dos fornecedores. Nosso cliente é exigente. São pessoas que procuram produtos diferenciados, e apreciadores de café de alta qualidade", diz. "Estamos numa fase de aumento de conhecimento sobre cafés especiais, então os consumidores ganham mais opções para experimentarem e formar suas opiniões a respeito. Os blends do Mio Caffè são exclusivos, então nossos clientes gostam de levar um pouco do Mio Caffè para casa", destaca.

 

Veículo: Jornal do Commercio - RJ


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