JOÃO SANZOVO NETO - Presidente da Associação Paulista de Supermercados (Apas), vice-presidente da Associação Brasileira de Supermercados (Abras)
Os supermercados não temem a crise. Temos percebido com satisfação que os supermercadistas continuam a desafiar o atual momento financeiro internacional e, em consequência, registram boas vendas e fazem planos de investimento.
Pelo histórico do segmento, sempre na vanguarda dos principais movimentos econômicos do País, não seria de esperar outro comportamento que não fosse o de enfrentar as turbulências corajosamente.
Por ter sido um ano de maior poder de consumo, 2008 foi positivo para os supermercadistas. Não por acaso o setor registrou crescimento real de 10,5% - o melhor dos últimos 13 anos. O segmento de supermercados registrou faturamento de R$ 49,3 bilhões no Estado de São Paulo, com participação de 1,7% no Produto Interno Bruto (PIB) e geração de 230 mil empregos diretos e 790 mil de indiretos.
No Brasil, o faturamento no ano passado chegou a R$ 158,5 bilhões, a participação no PIB foi de 5,5% e foram gerados 877 mil empregos diretos e cerca de 3 milhões indiretos.
A inflação de 2008 foi de 5,9% pelo IPCA-IBGE, de 6,17% pelo IPC-Fipe e de 6,68% pelo Índice de Preços no Supermercado (IPS-Apas), medido pela Fipe na Grande São Paulo. No acumulado desde o lançamento do Plano Real, em julho de 1994, os índices de preços nos supermercados são bem menores em relação a outros indicadores da economia. Nesses 15 anos, o IPA-FVG variou 366%, o IPC-Fipe 183% e o IPS-Apas apenas 91%.
Para 2009, a Apas prevê crescimento real de 2,5% nas vendas. O incremento nas vendas no primeiro trimestre foi de 5,6% sobre igual período do ano anterior, quando consideramos o critério mesmas lojas para efeito de comparação.
O setor supermercadista é mais sensível à renda do que ao crédito e menos dependente de financiamentos, e, por ser o elo final da cadeia do abastecimento, é sempre o último a sentir os efeitos de mudanças na economia. Os supermercados têm percebido certa cautela do consumidor, mas ainda não sentiram que tenha havido perda de renda.
O segmento está conclamando os parceiros e fornecedores para que se adaptem ao bolso do brasileiro e apostem cada vez mais nas promoções, porque o cliente vai multiplicar sua atenção a essas oportunidades nos pontos-de- venda ao longo de 2009.
Em vista das adversidades econômicas, o consumidor muda seu comportamento. Por exemplo, deixa de adquirir bens duráveis e passa a comprar mais alimentos. Deixa de comer fora de casa, mas se reúne com mais frequência com os amigos e a família, resultando em aumento do consumo de alimentos e bebidas contraídos nos supermercados. Atentas a esse movimento, as maiores redes reafirmaram seus planos de investimento para este ano. Juntas, vão gerar cerca de 20 mil novos empregos. Trata-se de um indicador de boas perspectivas diante de um cenário macroeconômico de incertezas. O ano de 2009 será basicamente de crescimento orgânico - o mercado assistirá à expansão de terrenos e abertura de lojas.
Com a intenção de discutir medidas anticrise e valorizar o capital humano, que se constitui no principal diferencial no atendimento e na prestação de serviços ao consumidor, representantes do segmento estiveram reunidos no 25 Congresso de Gestão e Feira Internacional de Negócios em Supermercados - Apas 2009, o maior evento do setor no mundo, que aconteceu entre os dias 18 e 21 de maio, no Expo Center Norte, em São Paulo.
Na contramão da tendência da economia, a Apas estima a geração de negócios da ordem de R$ 4 bilhões, proporcionando aos supermercadistas a possibilidade de continuarem a investir em seus estabelecimentos e, com isso, comprovar que não temem a crise.
Não podemos simplesmente ignorar o que está acontecendo no mercado global, mas devemos ter consciência de que nosso segmento tem sob sua responsabilidade o abastecimento da população.
Ao longo deste ano, os empresários supermercadistas deverão estar mais atentos às questões fundamentais que garantem o sucesso do negócio, como melhorar a eficiência da gestão, reordenar a estrutura de custos e dedicar atenção especial às necessidades de capital de giro.
Afinal, o destino dos supermercados é crescer - em maior ou menor ritmo, com ou sem os reflexos da crise internacional.
Veículo: Gazeta Mercantil