A nova bolha especulativa provocada pelo retorno dos fundos e as perspectivas de queda na produção internacional impulsionaram as cotações do café nos últimos meses e já animam os produtores. Depois de derrapar no primeiro trimestre de 2009, a commodity passou a registrar seguidas altas, amparada também pela desvalorização do dólar no mercado interna-cional. Desde o início de abril, o café para setembro subiu 15,9% em Nova York, cotado atualmente em US$ 1,375 a libra-peso (0,45 quilos). Conforme produtores, a valorização também foi percebida no mercado interno, cuja alta só não foi maior porque muitos aproveitaram o momento para vender. De acordo com analistas, a desvalorização da moeda americana também foi favorecida pelo retorno dos fundos de investimento ao mercado de renda variável.
Segundo informações do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada, da Universidade de São Paulo (Cepea/USP), a saca do café arábica tipo 6 era cotada ontem em R$ 269,32, alta de 4,68%. A situação é exatamente oposta aos três primeiros meses do ano, quando o café vinha registrando preços baixos tanto no mercado interno como no externo. À época os prognósticos de queda no consumo mundial por causa das incertezas sobre a economia eram o principal fator baixista. Porém, as notícias de quebra na produção da América Central abriram espaço para a alta.
"A partir de abril o cenário mudou. Há indícios de que o pior da crise ficou para trás e a corrida pelo dólar diminuiu porque a economia de alguns países já sinalizam melhora", avaliou Gil Barabach, analista da Safras & Mercado. Ele observa ainda que prova disso é o aumento das atividades dos fundos de investimento.
Conforme dados da consultoria, com base no índice que apura as Comissões dos Negócios Futuros das Commodities (CFTC, na sigla em inglês), em dezembro, a atuação dos fundos na Bolsa de Nova York indicava 13 mil contratos negativos. Isso significa, segundo o analista, que muitos estavam liquidando contratos (posição vendida). No último relatório, divulgado em 19 de maio, a posição líquida demonstrava 24 mil contratos comprados. "Esse número é interessante porque prova que o investidor passou de uma postura avessa a outra mais agressiva", destacou.
Lúcio de Araújo Dias, superintendente comercial da Cooperativa Regional de Cafeicultores em Guaxupé (Cooxupé), maior cooperativa de café do mundo, confirma a reação no mercado interno. Conforme explicou, a recuperação dos preços só não foi melhor porque o real está valorizando e as vendas de café foram mais intensas em maio. "Provavelmente havia alguma coisa represada na mão dos produtores e eles acharam melhor vender agora", afirmou. Conforme disse, foram reportados negócios com a saca a R$ 270. Barabach explica que como a commodity tem os preços dolarizados, quando a moeda americana perde valor ocorre um fortalecimento dos preços nas Bolsas para evitar crescimento da demanda com a valorização da moeda em outros países.
"A situação mudou um pouco e empolgou os cafeicultores. Essa melhora também foi favorecida por causa da queda na oferta de cafés da América Central, sobretudo na Colômbia, que enfrenta problemas com quebra de safra", completou Dias, da Cooxupé.
Veículo: Gazeta Mercantil