Casas Bahia compra Romelsa e acirra a disputa no varejo

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Alexandre Melo

 

SÃO PAULO - O mercado de fusões e aquisições está superaquecido no varejo brasileiro. Ontem, foi confirmada a compra da vice-líder no segmento de eletroeletrônicos e móveis Ponto Frio pelo Grupo Pão de Açúcar (GPA), negociação que poderá beirar R$ 1,1 bilhão, além colocar novamente a companhia do empresário Abilio Diniz e do francês Casino na liderança do setor, agora com faturamento de R$ 26 bilhões. Mas a concorrência não perdeu tempo: a Casas Bahia acaba de arrematar a baiana Romelsa, com 17 lojas entre Salvador e municípios vizinhos, para se fortalecer naquele mercado. No sul, o Grupo Silvio Santos deverá anunciar ainda a compra da paranaense Dudony na próxima semana, conforme antecipado por este DCI.

 

Numa espécie de reação à entrada do Pão de Açúcar em seu mercado, a Casas Bahia ganhou fôlego extra no nordeste, ao adquirir 17 pontos da Romelsa. Sem abrir o valor da negociação, a rede paulista, que chegou à Bahia em abril, com quatro filiais, prevê alcançar 49 lojas até o primeiro semestre do ano que vem. "Nossas filiais em Salvador têm tido um desempenho extraordinário, superando todas as expectativas. Decidimos, por isso, quebrar o nosso jejum de nove anos de aquisições de redes e acelerar nossos planos de expansão no nordeste", afirma Michael Klein, diretor executivo da Casas Bahia, ao ser questionado sobre a entrada de um novo concorrente, de peso, em seu segmento.

 

Klein disse, ainda, estar de olho em novas oportunidades que vêm ao encontro dos objetivos da rede. Há nove anos, Klein comprou o Mourão e a Spirandelli, redes de Goiás e do Distrito Federal, respectivamente.

 

O Grupo Pão de Açúcar, agora na segunda posição de revendedor de eletrônicos, amplia sua participação neste mercado, de 2% para 10%, ao comprar a rede carioca Ponto Frio. Além das 445 lojas, dos dez centros de distribuição e da loja virtual, o GPA também passa a operar nos Estados de Espírito Santo, Mato Grosso, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. "Dominar a categoria de não-alimentos, no caso, os eletroeletrônicos, é algo importante", diz Abilio Diniz, presidente do Conselho de Administração da empresa. Ele garante que a compra da cadeia carioca não vai interferir no crescimento orgânico do GPA este ano. Para ele, a expansão se dará de maneira coordenada, ampliando a presença no nordeste, e chegando ao Tocantins, no norte. A cúpula da supermercadista pondera que a sobreposição de lojas é mínima, devendo o fechamento de unidades ser baixo.

 

Segundo o vice-presidente executivo do GPA, Enéas Pestana, será paga a vista, em aproximadamente 15 dias, a quantia de R$ 656 milhões à bilionária Lily Safra e seu enteado, Carlos Monteverde, que detinham 70% de participação no Ponto Frio, e a acionistas minoritários. O restante será quitado por meio de troca de ações da Globex Utilidades S.A. (controladora da rede carioca) e do GPA, em até dois anos, quando o capital do Ponto Frio poderá ser fechado.

 

O grupo enfatiza que não está receoso em relação ao mercado de "eletromóveis", visto que as construtoras estão retomando o ritmo de produção, que por sua vez alavancará o mercado de eletrodomésticos. "A ascensão de mais pessoas às classes B e C e a ampliação do crédito, sobretudo para compra de imóveis, darão sustentação às vendas de geladeiras e fogões", analisa Pestana.

 

Desequilíbrio

 

De acordo com a avaliação de Pedro Matizonkas, professor do Núcleo de Estudos do Varejo da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), não haverá desequilíbrio no mercado, uma vez que ninguém fica tão forte de um dia para o outro.

 

"A responsabilidade do Pão de Açúcar aumenta no mercado, pois a rede deverá manter uma equipe bem treinada para não perder negociações, seja de compra, com os fornecedores, seja com os clientes", analisa o professor.

 

Outro especialista em varejo, Claudio Felisoni, coordenador do Programa de Administração de Varejo da Fundação Instituto de Administração (Provar/FIA), dispara que será mais difícil para o Magazine Luiza executar os planos de crescer na região metropolitana de São Paulo.

 

Procurado pelo DCI, o Carrefour afirmou, por meio de nota, que a compra do Ponto Frio pelo Pão de Açúcar reflete o grau de dinamismo do varejo brasileiro. "Assim como a concorrência, estamos atentos às oportunidades de aquisição e fusão no setor para consolidar a nossa estratégia."

 

O Wal-Mart não se manifestou.

 


Veículo: DCI


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