Brasil "exporta" fábrica de calçado esportivo

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Com a crise, Argentina ampliou restrições a importados; empresas dizem que tiveram de abrir fábricas para chegar ao mercado vizinho - Para calçadistas, Brasil e Argentina estão sendo invadidos por produtos chineses, mas o país vizinho reage mais rapidamente

 

Para driblar as dificuldades em colocar seus produtos no mercado argentino, submetido a controle de importações, a indústria brasileira de calçados esportivos invadiu o país vizinho, com investimentos em produção local.

 

A mais recente empresa brasileira a aportar na Argentina foi a Penalty, que neste mês anunciou investimento de R$ 10,6 milhões para produzir 400 mil pares por ano no país e substituir metade de suas importações, em parceria com um sócio argentino.

 

"A dificuldade de importar faz com que a única forma de viabilizar o negócio na Argentina seja essa", disse à Folha Alexandre Estefano, diretor internacional da Penalty. A Argentina protege sua indústria de calçados desde 2005 com licenças não automáticas, pelas quais administra os volumes que entram no país. Com o agravamento da crise mundial, o governo Cristina Kirchner reforçou as restrições -segundo a Abicalçados (Associação Brasileira das Indústrias de Calçados), a liberação de licenças de importação para calçados brasileiros tem demorado mais de cem dias.

 

A participação da Penalty no mercado argentino ronda os 4% -20% da sua produção vai para o vizinho.

 

Segundo Estefano, a transferência da produção não implicará fechamento de linhas no Brasil, que conta com mercado interno em crescimento e outros clientes externos. "Os brasileiros invadiram a produção de calçado esportivo na Argentina", diz. À Penalty somam-se outros fabricantes brasileiros que já se instalaram na Argentina, como Vulcabras, Alpargatas, Paquetá, Aniger e Dilly -os dois últimos são fornecedores da Nike, que patrocinou a entrada das empresas no país vizinho.

 

Investimentos

 

Também neste mês, a Nike anunciou aporte de R$ 3,9 milhões para instalar fábrica da Aniger na Argentina e substituir R$ 15 milhões em importações de chuteiras de futebol por ano. "Vamos chegar a 50% de calçados fabricados aqui, em modelo diferente de como a Nike opera no mundo", afirmou Eduardo Mignaquy, da Nike Argentina, ao anunciar o investimento.

 

A Dilly produz 4.000 pares por dia em fábrica no norte do país, aberta em 2007 e que está contratando mais 250 empregados neste ano. "Estamos na Argentina pelas restrições a importações e por solicitação dos clientes", afirmou Alessandro Dilly, diretor de negócios do grupo Dass, dono da marca. O grupo Dass também planeja transferir em 2010 para a Argentina parte da produção da Tryon, outra de suas marcas.

 

Segundo o diretor da Tryon, Gabriel Moraes, a empresa exporta hoje cerca de 100 mil pares por mês ao mercado argentino. Com a produção no país, Moraes estima que o volume de venda da Tryon na Argentina triplique. Em maio, a Vulcabras, fabricante das marcas Reebok e Olympikus, inaugurou ampliação da fábrica da Indular, que comprou em 2007, para elevar sua produção de 10 mil para 21 mil pares por dia.

 

A Alpargatas, que adquiriu sua homônima argentina há dois anos, investe R$ 22 milhões para relançar a marca Topper no país vizinho, e a Paquetá produz Adidas e Diadora na Argentina desde 2007.

 

Concorrência chinesa

 

"Essas empresas que se instalaram na Argentina dizem que é impossível produzir no Brasil", afirma o presidente da Abicalçados e da Vulcabras, Milton Cardoso. De acordo com ele, Brasil e Argentina enfrentam "invasão absurda" de calçados chineses, e o governo argentino tem sido mais rápido na adoção de medidas de defesa comercial. Isso, afirma Cardoso, influi na decisão de empresários brasileiros de transferir parte da produção ao país vizinho.

 

"A área de defesa comercial no Brasil não acompanha o crescimento do comércio brasileiro", critica Cardoso. Segundo a Abicalçados, as importações brasileiras de calçados chineses cresceram 1.150% de 2001 a 2008 -passando de US$ 17,5 milhões para US$ 218,7 milhões.

 

Apuração preliminar do governo brasileiro apontou margem de dumping (preço abaixo do custo) de 435,7% no preço médio do sapato chinês que chega ao Brasil.

 

Veículo: Folha de S.Paulo


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