Nike, Adidas e Puma aumentam vendas no País e Vulcabrás pede ao governo sobretaxa de 327% nos importados
Com estoques em alta por causa da queda das vendas nos mercados americano e europeu provocada pela crise, Nike, Adidas e Puma aumentaram em até 30% as vendas para a América Latina no primeiro trimestre.
A estratégia provocou uma guerra comercial entre as multinacionais e a Vulcabrás, dona da Olympikus e controlada pelo empresário Pedro Grendene. As companhias se enfrentam em processo antidumping no Ministério de Desenvolvimento, que soma 17 mil páginas.
"O Brasil virou valeta de desova de tênis das grandes corporações internacionais", diz Milton Cardoso, diretor executivo da Vulcabrás. "Refutamos a tese de transferência de estoque para o mercado brasileiro. O processo de produção e de vendas é de longo prazo", responde Cristian Corsi, vice-presidente da Associação Brasileira do Mercado Esportivo (Abramesp), que representa Nike, Adidas, Puma e Asics no País.
A Adidas informa no balanço mundial que as vendas totais do grupo caíram em todas as regiões, menos na América Latina, no primeiro trimestre de 2009. Excluindo os efeitos cambiais, as vendas recuaram 5% na Europa, Oriente Médio e África, 17% na América do Norte, 6% na Ásia, mas subiram 31% na América Latina.
As vendas da Puma caíram 3% na Europa, Oriente Médio e África, 1,2% na Ásia de janeiro a março, mas subiram 3,4% nos Estados Unidos e 11,5% no restante das Américas. Na Nike, as vendas totais para entrega entre março e julho caíram 1% nos EUA, 9% na Europa, Oriente Médio e África, e cresceram 2% na Ásia e 22% nas Américas. As três empresas informaram alta dos estoques: 3% na Nike, 18% na Adidas e 23% na Puma.
Os dados constam dos balanços das empresas e foram apresentados pela Associação Brasileira da Indústria de Calçados (Abicalçados) no processo antidumping. As multinacionais dizem que os resultados incluem calçados e roupas e não se referem só ao Brasil, mas não informaram suas importações de tênis para o País.
Cardoso afirmou que as vendas de tênis da Vulcabrás caíram 15% no primeiro trimestre e que já deu férias coletivas duas vezes aos funcionários para evitar demissões. "Não precisava ser assim, porque o mercado brasileiro não caiu", disse. A companhia investiu R$ 110 milhões nos últimos anos para aumentar a capacidade produção no País e também adquiriu uma empresa na Argentina.
No processo, a Abicalçados pede antidumping para todos os tipos de calçados e solicita a aplicação de uma sobretaxa de 327% para o produto chinês. Corsi reclama que a margem é muito alta, porque foi utilizado o mercado italiano como base de comparação, em vez de outro país emergente. Ele também contesta a representatividade da Abicalçados no mercado de tênis e diz que suas associadas detêm mais da metade do mercado.
O empresário argumenta ainda que o processo não poderia incluir todos os tipos de calçados e que não existe no Brasil tecnologia para fabricar os tipos de tênis importados.
Esse caso não é uma disputa entre fabricante nacional e importador. A brasileira São Paulo Alpargatas, que produz as Havaianas, é contra o antidumping, porque importa parte dos tênis Mizuno que vende no País. "Qualquer proteção é nefasta ", disse Márcio Utsch, presidente da empresa. Uma fonte do governo brasileiro disse que essa é "uma briga de cachorro grande" e que o processo ainda deve se arrastar por um ano.
Veículo: O Estado de S.Paulo