Olho nos parceiros para manter a boa imagem

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Reflexo direto da crescente exigência dos consumidores e do mercado internacional por práticas sustentáveis, a relação entre empresas e fornecedores no Brasil está cada vez mais pautada por questões socioambientais. Da rastreabilidade de fazendas produtoras de carnes e commodities ao controle sobre a emissões de gases poluentes, passando pela atenção à problemática social das comunidades afetadas pela atuação das empresas, o cenário atual aos poucos impõe uma série de procedimentos às organizações. Quem não os segue sofre com danos à imagem corporativa, bem como sente o impacto direto na receita. Resta a todos se adequarem ao caminho, que, felizmente, parece sem volta.

 

O recente caso da Friboi, que se viu obrigado a paralisar as atividades de frigoríficos em Rondônia por conta da ação impetrada pelo Ministério Público Federal (MPF) do estado, mostrou que as empresas devem participar de toda a cadeia produtiva e ter especial atenção com a conduta de seus parceiros. "Rastreabilidade dos fornecedores é obrigação. Fomos a primeira empresa a anunciar a suspensão de compras das carnes produzidas nas fábricas localizadas no Pará, a maior parte identificada como áreas de desmatamento pelo Ministério Público daquele estado", diz Vagner Giomo, gerente de Desenvolvimento e Formação Técnica do Grupo Pão de Açúcar.

 

Ao lançar uma linha de carnes Taeq no mercado, o Grupo Pão de Açúcar teve que se estruturar para atender a todas as demandas deste competitivo setor. Em parceria com o Instituto Ethos, a empresa desenvolveu um programa para treinar e capacitar toda a cadeia produtiva. "Dos fornecedores de ração dos animais a mão de obra, todos foram contemplados. A parceria com pecuaristas começou em 2006, com apenas sete criadores de gado e cerca de sete mil vacas. Hoje são 47 criadores e 35 mil cabeças de gado. A meta é chegar a 120 mil", revela Giomo.

 

Além do processo de controle integral verificado nas carnes Taeq, o Grupo Pão de Açúcar mantém vários mecanismos para coibir o comércio de produtos ligados às cadeias produtivas da pecuária que não cumpram legislações trabalhistas e ambientais. "Os contratos de fornecimento atendem disposições especificas da legislação sobre proteção do meio ambiente e de segurança e medicina do trabalho", revela o executivo.

 

Responsabilidade. É consenso entre especialistas que a consolidação destas práticas no mercado brasileiro acompanha a trajetória do movimento de responsabilidade social empresarial (RSE) no País, que se disseminou com mais intensidade a partir do início da década. Nos últimos três anos, no entanto, o movimento ganhou força, impulsionado por pressões que vinham de todos os lados - opinião pública, consumidores e mercado externo -, que, no final das contas, ajudaram na construção de uma cultura empresarial que coloca lucratividade e sustentabilidade lado a lado.

 

"Despreparadas no início década, como as empresas poderiam cobrar a mesma postura de seus fornecedores? Há companhias com projetos e programas muito bem estruturados atualmente. Hoje, as práticas sustentáveis se tornaram uma exigência para as grandes organizações, com impacto direto na reputação e na imagem corporativa. Para companhias que possuem ou pretendem ter atuação global, a exigência é ainda maior. Europa e Japão, por exemplo, são rígidos quanto aos certificados dos fornecedores e parceiros", explica Alexandre Heinermann, sócio-diretor da área de Sustentabilidade da auditoria KPMG.

 

Segundo o executivo, duas tendências são bem claras no mercado brasileiros. "De uma lado há empresas pró-ativas, que tem o tema sustentabilidade como uma ação já inserida em sua cultura empresarial. Do outro, existem companhias que estimulam práticas sustentáveis por questões legais (para atuarem em determinados mercados ou países) ou por uma jogada de marketing. Enquanto o primeiro grupo está preocupado com a reputação, o segundo está interessado em melhorar a imagem corporativa. Independentemente das razões, é bom para a sociedade, pois a semente da responsabilidade social empresarial está sendo disseminada", acredita.

 

Antonio Carlos Porto, consultor da Trevisan na área de Sustentabilidade, corrobora as palavras de Heinermann. "O movimento não tem mais volta e a mudança de comportamento dos consumidores é parte importante do processo. Ao mesmo tempo, eles não estão mais tão bobos. Não caem mais tão facilmente em campanhas publicitárias. As empresas precisam mostrar resultados. Quem não privilegia práticas sustentáveis e não exige o mesmo de seus fornecedores ficará para trás", afirma.

 

Porto também enxerga um movimento migratório por parte das empresas. "O que normalmente surge no departamento de marketing, logo passa para o financeiro e, a seguir, insere-se definitivamente na cultura empresarial. A recompensa vem em retorno de mídia, economia nos processos, uma vez que os fornecedores estarão mais bem capacitados, e isso rapidamente se transforma em lucros, pois, hoje, há um público consumidor antenado e fiel".

 

Grandes empresas de todos os setores vêm formalizando regras para evitar surpresas desagradáveis para a imagem por conta da relação com seus fornecedores.

 

Controladora das marcas Brastemp, Consul e KitchenAid, a Whirlpool Latin America também impõe um rígido controle sobre seus fornecedores, mas aposta no trabalho em parceria para mover a cadeia produtiva. "Para a Whirlpool, é fundamental que seus fornecedores de matérias primas e prestadores de serviços atuem compartilhando os valores e princípios adotados pela companhia e, principalmente cumprindo a legislação local. Essa exigência é condição essencial para o fechamento de qualquer negócio", diz Paulo Miri, gerente geral da área de Suprimentos da Whirlpool Latin America.

 

Em linha com esse posicionamento, a empresa lançou, no início do ano passado, o Código de Conduta para Fornecedores/Whirlpool, que formaliza a conduta de relação com seus parceiros, incluindo o tema dos direitos humanos. "Dessa maneira, a Whirlpool cumpre o papel de influenciar seus públicos e garantir que os produtos sejam fabricados seguindo condições de sustentabilidade. Praticamente todos os fornecedores de materiais diretos já registraram sua aceitação. Dos fornecedores ativos de materiais indiretos, aproximadamente 70% também já fizeram o registro de aceitação do código", revela Miri.

 


Veículo: Jornal do Commercio - RJ


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