Sonda contra-ataca o rival Zaffari em São Paulo

Leia em 8min 30s

A rede de supermercados Sonda vai inaugurar dentro de 60 ou 90 dias a sua loja mais cara e vistosa na cidade de São Paulo. Estão sendo investidos no projeto R$ 70 milhões, mais que o dobro do valor destinado a um supermercado convencional. E não foram poupados esforços para a construção dessa nova loja, cujo endereço, na Pompeia, bairro de classe média alta na zona oeste da capital paulista, foi escolhido a dedo pelos controladores do Sonda, os irmãos Idi e Delcir Sonda.

 

O supermercado fica estrategicamente posicionado a poucos metros de distância do Shopping Bourbon, que foi inaugurado no início de 2008 pelo grupo gaúcho Zaffari. Dentro do shopping foi aberto o primeiro supermercado Zaffari em São Paulo.

 

O contra-ataque do Sonda, porém, não é fruto de uma simples queda de braço entre dois fortes concorrentes do varejo. Descendentes de imigrantes italianos que se estabeleceram na região de Erechim, ao Norte do Rio Grande do Sul, as famílias Zaffari e Sonda travam há anos uma das mais viscerais disputas do varejo brasileiro.

 

As desavenças entre os dois clãs vêm de longa data e podem ser explicadas, em grande parte, pelos antigos vínculos entre os dois grupos. A história começa quando um dos quatro irmãos que fundaram o Sonda, Alcides Sonda, casou-se com uma das filhas do patriarca da família Zaffari, Teresinha Zaffari. Alcides faleceu em 2001.

 

Há cerca de 15 anos, os conflitos entre os irmãos Sonda intensificaram-se depois da morte de um deles, Vilamir. Na época, segundo relatos de pessoas próximas, Alcides foi contrário à possibilidade de que os filhos de Vilamir herdassem as ações e se tornassem sócios da varejista, fato que culminou com a sua saída do grupo Sonda. Mais tarde, a família fechou um acordo e as ações da rede foram distribuídas, meio a meio, entre os dois outros irmãos, Idi e Delcir, que administram a empresa até hoje.

 

Em e-mail enviado ao Valor, por meio de sua assessoria de imprensa, Terezinha Zaffari Sonda nega "veementemente" que Alcides Sonda tenha saído da sociedade com seus irmãos pelos conflitos mencionados. O empresário "se dissociou dos irmãos para estabelecer seu próprio negócio em 1997", informa o comunicado.

 

Nos anos 90, o Sonda possuía apenas seis supermercados. As três unidades no Rio Grande do Sul foram transferidas a Alcides Sonda, enquanto Idi e Delcir Sonda ficaram com as três lojas da rede em São Paulo.

 

Alcides Sonda constituiu então a rede Master, que possui hoje quatro lojas no Rio Grande do Sul e três unidade em São Paulo. O negócio é dirigido atualmente por Terezinha e suas três filhas.

 

As relações entre os irmãos voltaram a azedar quando o Zaffari decidiu arrematar o antigo Shopping Matarazzo, no bairro da Pompeia, em São Paulo, que foi a leilão em 1997. A família Sonda considerou a iniciativa como uma desfeita de caráter pessoal já que, no shopping center, funcionava uma grande loja do Sonda. O próprio grupo Sonda tinha planos de arrematar o empreendimento que pertencia à família Matarazzo.

 

Depois de incorporar o centro comercial, o Zaffari foi à Justiça até que, finalmente, conseguiu desalojar o Sonda do shopping center. No local, o grupo gaúcho construiu o Shopping Bourbon e deu seus primeiros passos no mercado paulistano. A partir desse momento, o Sonda começou a planejar seu contra-ataque, o que espera fazer em breve com a abertura do seu mais sofisticado supermercado, localizado bem em frente ao Bourbon. A data de inauguração do supermercado de R$ 70 milhões só não foi definida ainda devido aos trâmites legais para a obtenção de todas as licenças.

 

Para fazer concorrência direta ao Zaffari, os irmãos Sonda escolheram e compraram um imóvel na Pompeia onde funcionava uma concessionária da Caoa. Além disso, o grupo adquiriu o imóvel ao lado, que abrigava uma agência do Bradesco, para dar uma maior visibilidade ao novo supermercado. A agência do banco vai funcionar dentro da nova loja, afirma Roberto Moreno, presidente executivo e diretor financeiro do Sonda.

 

Segundo ele, a nova loja foi inspirada em varejistas da Itália, França e Alemanha e incorpora os mais atuais conceitos no setor.

 

Com esse novo supermercado, que terá uma variedade maior de produtos, o Sonda pretende atrair clientes que vão à loja do Zaffari, dentro do shopping.

 

De acordo com Moreno, já está comprovado que supermercados e shopping centers não são negócios sinérgicos. O cliente que vai comprar alimentos não quer enfrentar o estacionamento de um shopping, e quem vai ao shopping não quer carregar as compras do supermercado.

 

"O Sonda possui lojas nos shoppings Penha e Boa Vista. As vendas seriam 20% maiores se houvesse acesso independente para os supermercados", diz Moreno.

 

O Sonda, que completa 35 anos em 2009, é atualmente uma empresa muito diferente do que era há 15 anos, na época do conflito entre os irmãos, quando sua sede ficava em cima de um supermercado no bairro do Jaçanã. Hoje, o escritório do grupo fica na Avenida Paulista. Com 22 lojas, a rede de supermercados projeta faturar R$ 1,5 bilhão em 2009, 50% mais do que em 2008. Só no segundo semestre do ano passado, a varejista abriu sete supermercados.

 

E a segunda geração da família já começa a ser preparada para assumir os negócios. Os dois filhos de Idi Sonda, Igor e Claudio, respondem pelas áreas de obras e postos de gasolina, respectivamente. Dois filhos de Vilamir, embora não tenham participação acionária, também possuem cargos administrativos na varejista. Delcir não tem filhos.

 

Cobiçada há anos, a rede recusa propostas de compra
  


Durante um almoço no restaurante Casa da Fazenda, no bairro chique do Morumbi, na zona sul de São Paulo, o presidente de uma grande rede de varejo perguntou a Idi Sonda, um dos controladores da cadeia de supermercados Sonda, quanto ele queria por sua empresa. "Não vou falar nenhum valor porque a empresa não está à venda", respondeu o empresário.

 

O encontro, que ocorreu há cerca de dois anos, é narrado pelo presidente executivo do Sonda, Roberto Moreno, ao ser questionado sobre o interesse das três grandes varejistas - Wal-Mart, Carrefour e Pão de Açúcar - em adquirir a rede paulista de supermercados. Moreno não revela o nome do presidente com quem Idi Sonda teria almoçado.

 

Segundo ele, uma reunião com o mesmo executivo ocorreu há cerca um ano, desta vez no escritório da varejista mantida no anonimato, e a resposta do controlador do Sonda foi a mesma.

 

Não é só o Sonda que é considerado por analistas como um dos alvos mais cobiçados de aquisição pelas três grandes varejistas. Na lista figuram todas as redes de controle familiar com faturamento anual em torno de R$ 1 bilhão e R$ 2 bilhões. E as mais bem cotadas são o Bretas, de Minas Gerais, o Zaffari, do Rio Grande do Sul, e o Angeloni, de Santa Catarina.

 

No caso do Sonda, a varejista possui a vantagem de ter a maior parte de seus supermercados dentro da cidade de São Paulo. A incorporação da rede, portanto, seria fácil e rápida para o Pão de Açúcar, Wal-Mart e Carrefour. Além disso, as três cadeias têm interesse em expandir suas operações com lojas de vizinhança na capital paulista.

 

O Sonda ocupa o 15º lugar no ranking da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), com faturamento de R$ 1,037 bilhão e 20 lojas em 2008. No Estado de São Paulo, a empresa é a quinta maior rede de supermercados, atrás apenas do Carrefour, Pão de Açúcar, Wal-Mart e da cooperativa Coop.

 

Segundo um especialista em fusões e aquisições, os preços pedidos pela família Sonda, porém, são "exorbitantes". Os valores girariam em torno de 80% a 100% das vendas anuais, enquanto, no setor de supermercados, as transações costumam sair por volta de 30% a 50% do faturamento.

 

Mas um fator pode impelir os controladores das redes de médio porte a aceitar ofertas de aquisição: a maior dificuldade de acesso ao capital. Até a primeira metade do ano passado, a captação de vultosas somas de dinheiro na Bolsa de Valores era uma alternativa que seduzia as companhias médias. Mas essa agora é uma possibilidade bem mais remota, apesar da recente recuperação das ações.

 

Os bancos também diminuíram a oferta de crédito, embora a escassez já não seja mais tão dramática quanto era no fim de 2008.

 

Segundo Moreno, o Sonda precisou pisar no freio e adiou as inaugurações neste ano devido à falta de crédito no bancos. Apenas no segundo semestre de 2008, a rede abriu sete lojas. Essa expansão deve garantir um crescimento de 50% na receita da varejista em 2009. As duas lojas da rede que serão inauguradas neste ano em São Paulo já deveriam ter sido abertas no fim do ano passado.

 

Os supermercados contam com uma importante alavanca de crédito: os recebíveis obtidos com a venda de mercadorias. O Sonda, por exemplo, gera R$ 30 milhões ao mês somente com os pagamentos recebidos com o cartões da bandeira Visa. Mas, ainda assim, o bancos limitaram linhas de crédito de capital de giro, conhecidas no setor como "operação fumaça".

 

O lançamento de ações na Bolsa de Valores chegou a ser cogitado pelo Sonda, mas a ideia foi engavetada pela crise. "Estamos financiando nossa expansão com recursos próprios", afirma Moreno. (CF)

 

Veículo: Valor Econômico


Veja também

Embalagens ''verdes'' chegam ao mercado

Empresas de alimentos investem no plástico biodegradável   A tendência do uso de embalagens d...

Veja mais
Pão de Açúcar nomeia novo presidente para o Ponto Frio

Jorge Herzog, responsável pela recuperação da rede Sendas, assume o posto no lugar de Manoel Amorim...

Veja mais
Rede de supermercados compra unidade da Coopervolks

Depois de muito segredo durante as negociações, o nome do comprador da Cooperativa da Volkswagen foi divul...

Veja mais
Projeto pode substituir as sacolas plásticas no comércio

A Comissão de Desenvolvimento Econômico, Indústria e Comércio realizou ontem uma audiên...

Veja mais
Distribuidoras na área farmacêutica tem faturamento superior a R$ 6 bi

As distribuidoras de farmácias e drogarias brasileiras estão registrando bons resultados mesmo em meio &ag...

Veja mais
Atividade varejista avança 1,7% em junho puxada pelo inverno

A atividade do comércio varejista nacional cresceu 1,7% em junho, na comparação com o quinto m&ecir...

Veja mais
Redes diversificam e reduzem seus custos

Para reduzir custos e ampliar seus negócios, duas das maiores redes supermercadistas têm investido mais em ...

Veja mais
No Brasil, Trident é o chiclete preferido do consumidor

O mercado de pastilhas, gomas e confeitos no Brasil cresceu de US$ 5,4 bilhões em 2007 para US$ 5,8 bilhõe...

Veja mais
Neotextil, de SP, amplia fábrica para exportar mais

A fabricante brasileira de tecidos tecnológicos Neotextil está investindo R$ 30 milhões nos pr&oacu...

Veja mais