Depois de içar bandeiras de lojas pequenas e simplificadas por todos os cantos do País – como Extra Fácil, Dia%, Econ – as maiores redes de supermercados trataram de garantir seu espaço também num outro ramo, o “atacarejo”, misto de autosserviço com atacado. O objetivo é o mesmo: atrair as classes C e D. Nos últimos dois a três anos, o Pão de Açúcar comprou e ampliou a rede Assai, o Carrefour adquiriu e expandiu o Atacadão e o Wall Mart (que já tinha o Sam’s Club) incorporou a rede Maxxi.
Com a estratégia, os grandes começaram a ameaçar as redes de porte médio: “As lojas pequenas não são afetadas, mas as médias têm de tomar cuidado”, diz Martinho Paiva Moreira, vice-presidente de Comunicação da Associação Paulista de Supermercados: “Estes têm de rever sempre seus processos e modelo de negócios. Como os preços estão cada vez mais baixos, têm de oferecer serviços diferenciados e preços justos”.
Segundo Paiva, o “atacarejo” consegue vender mais barato principalmente porque tem estrutura muito enxuta: a mercadoria é exposta em palets, não em gôndolas, a própria loja funciona como depósito, não há qualquer tipo de serviço à disposição do cliente.
Roberto Moreno, diretor executivo e financeiro da rede Sonda, credita parte do avanço ao fato de ter caído um benefício fiscal para o ramo de atacado, que tinha tratamento tributário diferenciado em relação ao varejo de consumo. E ainda à obrigatoriedade de aquelas lojas venderem os produtos ao consumidor pelo mesmo valor unitário do artigo adquirido em lotes. Diz ainda que a maior preocupação em São Paulo é com a falta de uma legislação que proíba a abertura de lojas muito próximas umas das outras, como ocorre no Rio Grande do Sul, onde a empresa se originou.
Ao contrário do empresário Abílio Diniz (para quem o “atacarejo” está com os dias contados, embora o Pão de Açúcar continue investindo fortemente no modelo), Moreno entende que esse tipo de loja veio para ficar. Por isso, segue o conselho de Paiva, oferecendo cada dia mais serviços, ao agregar lotéricas, lojas de cosméticos e quitutes, óticas e caixas eletrônicos às suas lojas, que também atuam como correspondentes bancários: “Procuramos levar o cliente mais e mais para dentro do supermercado, possibilitando que faça tudo o que precisa nas lojas”.
Outra estratégia refere-se aos preços. Como baixá-los é essencial nesse tipo de concorrência, o jeito é reduzir o lucro. No caso dos itens da cesta básica, cujos preços já são os mais baixos possíveis e muito semelhantes nos supermercados de modo geral, resta investir em variedade: “O ‘atacarejo’ trabalha com alguns tipos de arroz. Nós, com 14 a 16. Atraímos o cliente pela excelência do produto”, diz Moreno.
Segundo o executivo, a rede também está revisando o tamanho de suas lojas. Nesse caso, para acompanhar uma outra tendência, a de servir os clientes que preferem lojas pequenas. Ele não imagina, contudo, lojas Sonda do tipo Extra Fácil: “Estas são muito pequenas, com mix de 500 a 800 itens. O consumidor nem sempre encontra o que deseja nesse formato, que se concentra nos quesitos preço e marcas próprias”.
As lojas Sonda têm área de venda de 800 a 6 mil metros quadrados. As próximas, de acordo com Moreno, serão menores, com no máximo 3,5 mil metros quadrados: “Acredito em lojas menores com serviços. Não mais em hipermercados”.
Veículo: Diário do Comércio - SP