Com a aquisição da unidade industrial da Parmalat em Carazinho (RS), anunciada na semana passada, a Nestlé irá rever para cima a meta de alcançar neste ano 5% do mercado de leite longa vida, calculado em cinco bilhões de litros pela Latin Panel. Essa fatia de mercado será alcançada com a produção de 250 milhões de litros previstos na unidade terceirizada no interior de São Paulo e o restante virá da unidade de Carazinho. Essa unidade fabrica 1,6 milhão de litros de leite por dia, mas apenas uma parte - que as empresas não informam - é destinada para leite líquido.
Se a Nestlé utilizasse toda a capacidade da fábrica de Carazinho para a produção de leite líquido, ela teria mais de 570 milhões de litros de leite por ano. Considerando que a aquisição da unidade se dá na metade do ano, a Nestlé poderia dobrar ainda em 2009 sua meta de participação no mercado de leite longa vida. A empresa, no entanto, disse que ainda não finalizou esses cálculos, pois não teria definido se irá fabricar no local só o leite líquido ou se aproveitará o maquinário das Parmalat para manter a produção de itens como leite em pó, leite condensado e creme de leite.
A Nestlé ingressou no mercado de leites líquidos por São Paulo, há três meses, com as marcas Ninho e Molico e quer ampliar a distribuição para outros estados. "A operação dessa fábrica nos possibilitará crescer no segmento de leites Premium com diferencial nutricional em que ingressamos neste ano com muito sucesso por meio de marcas fortes e reconhecidas pela alta qualidade", disse, em nota, o presidente da Nestlé Brasil, Ivan Zurita.
Nem a Nestlé, nem a Parmalat quiseram comentar a operação, que já era esperada pelo mercado tendo em vista que as negociações teriam começado há mais de sete meses. Como a Parmalat está em processo de recuperação judicial, questões jurídicas impediram a compra imediata da unidade de Carazinho, que acabou sendo arrendada pela Nestlé por um período de 35 anos com opção de compra. Segundo a Parmalat informou em nota, a decisão de arrendar a sua maior fábrica faz parte da estratégia de desenvolver uma plataforma industrial na Região Sudeste.
"Cerca de 80% do nosso mercado consumidor está situado nesta região. Esta concentração permite que a empresa estabeleça uma logística mais racional, com uma substancial redução no custo do frete no transporte de leite e seus derivados", disse a companhia.
Ociosidade. Segundo o presidente do Conselho de Administração da Laep, Marcus Elias, a Parmalat vinha operando com alto nível de ociosidade industrial nos últimos meses. "O arrendamento da fábrica da Carazinho inverte essa curva, pois passamos a operar com baixa ociosidade e gastos fixos reduzidos", considerou Elias. No ano passado, a Parmalat - por meio de sua controladora Laep Investimentos - iniciou plano de re-estruturação para reverter perdas financeiras. Esse plano incluía fechamento de unidades industriais não rentáveis, redução de despesas e foco em produtos de alta margem.
No início do ano, a Parmalat já havia vendido a unidade de Guaranhuns, em Pernambuco, por R$ 31 milhões à indústria gaúcha Bom Gosto. "Estávamos muito concentrados em Carazinho. Mais de 50% dessa produção de leite não se destinava ao mercado gaúcho, pois era destinada aos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, o que implicava em alto custo de frete, além de a empresa não ter benefícios fiscais uma vez que o leite era produzido no Rio Grande do Sul", explicou.
Segundo Elias, a venda da unidade de Carazinho não implicará na redução da presença da Parmalat no mercado brasileiro de leite, pois a empresa instalou no município de Estrela (RS) uma central de captação de leite junto aos produtores e firmou acordos com outros fabricantes locais para a produção e distribuição do leite longa vida da Parmalat na região. Além disso, a Parmalat informou que está negociando com a Nestlé o fornecimento de leite por um período estabelecido. A empresa não informou o prazo, nem a quantidade.
Hoje, a Parmalat tem seis fábricas, entre próprias e arrendadas. A Nestlé e sua filiada DPA são as líderes em captação de leite no Brasil, com 1,9 bilhão de litros no ano passado e 48 mil fornecedores em São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Rio Grande do Sul e Bahia. (A.C.)
Veículo: Jornal do Commercio - RJ