Depois de perder mais de R$ 11 bilhões de receita neste ano, a agricultura de grãos deve voltar a crescer de forma significativa só em 2011. A safra 2010 de soja, milho, algodão, arroz e feijão, que começa a ser semeada no Centro-Sul a partir deste mês, promete praticamente repetir o desempenho da safra deste ano, tanto em receita como em volume de produção.
É consenso entre especialistas e produtores que não haverá avanços importantes na área plantada total, apenas mudanças no mix de produção, com aumento da lavoura de soja em detrimento da de milho. A razão para esse rearranjo é o preço desfavorável hoje do milho e ainda atraente da soja. Essa freada da arrumação no agronegócio de grãos reflete, segundo especialistas, o próprio ajuste da atividade por causa do menor ritmo da economia mundial, com a recessão nos Estados Unidos e na Europa e crescimento em mercados emergentes, como China e Índia.
A safra de grãos 2009/2010 projetada pela RC Consultores é de 136,5 milhões de toneladas e a receita, de R$ 86,3 bilhões, com aumento em torno de 1% ante a última colheita. “Falar hoje em expansão da área plantada é temerário”, afirma o sócio da consultoria e responsável pelas projeções, Fabio Silveira.
Com a perspectiva para 2010 de queda de 9% dos preços em dólar da soja e 12% no milho e sem correções significativas na taxa de câmbio, ele não acredita que a receita terá forte expansão. O economista acrescenta também que houve retração no capital dos agricultores na última safra, o que reduz o fôlego para expansões na área.
“O cenário é positivo, mas não é empolgante a ponto de levar a abertura de novas áreas de produção”, afirma Ricardo Tomczyk, diretor da Associação dos Produtores de Soja do Mato Grosso, o maior Estado produtor do grão. A venda de adubos, por exemplo, que é um termômetro da safra, aponta para a estabilização da produção.
Segundo o diretor da Associação Nacional para a Difusão de Adubos (Anda), Eduardo Daher, a expectativa é repetir neste ano as quantidades de fertilizantes entregues em 2008, que somaram 22,4 milhões de toneladas. Os números do setor mostram uma retração nas entregas de 22,4% entre janeiro e julho deste ano em relação a igual período de 2008. Daher explica que, neste a ano, voltou-se ao comportamento normal de compras, onde a maior parte ocorre no segundo semestre. Isso porque os preços dos adubos recuaram quase 30% em dólar.
Apesar da perspectiva de estabilidade sinalizada pelos fabricantes de adubos e pelos produtores, o sócio da Agroconsult, André Pessôa, considera a possibilidade de aumento nos volumes na safra 2009/2010. “Mas a renda é ainda preocupante, sobretudo no Centro-Oeste”, frisa. Ele argumenta que, a cada safra, há mais agricultores na região plantando soja, sem equacionar totalmente as dívidas pendentes. “Esse é um sinal ruim”, diz.
Além disso, lembra Pessôa, corre-se o risco de que a China, a maior compradora da soja brasileira, reduza o ritmo de aquisições no ano que vem, quando se deparar com a maior oferta do grão em razão das boas safras dos EUA, da Argentina e do Brasil, os maiores exportadores. Um levantamento nacional feito pela Agroconsult com produtores, cooperativas e revendas de insumos indica que área plantada com soja terá expansão de 4% na safra 2009/2010, enquanto o milho deve apresentar retração de 8%.
O avanço da soja no lugar do milho é confirmado pelos produtores de sementes. “Já faltam no mercado as variedades melhores de soja. Essas sementes terminaram no mês passado”, afirma o presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Sementes (Abrasem), Ywao Miyamoto.
Pelas vendas de sementes, a área plantada com soja deverá crescer entre 5% e 7% na próxima safra, diz o presidente da Abrasem, que reúne mais de 600 produtores de sementes, de cooperativas a grandes empresas multinacionais. Segundo ele, houve uma antecipação na compra do produto neste ano. Até agora, conta, metade da oferta de sementes para próxima safra de grãos foi vendida. No mesmo período de 2008, tinham sido comercializados 35% dos volumes.
Além da retração na área ocupada pelo milho, há perspectivas de queda na área plantada com arroz, segundo o presidente da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), Carlos Sperotto. O Rio Grande do Sul, que responde por cerca de 60% da produção de arroz do País deve reduzir em 30% a área plantada. Os preços em queda do grão e a falta de mananciais para irrigar a lavoura são apontados como fatores que vão afetar a produção. “Vai faltar arroz em 2010.” (AE)
Veículo: Agência Estado