Empresas contêm alta do custo do trabalho

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As pressões sobre os custos trabalhistas na indústria começaram a amainar, indicando que as perspectivas para o emprego no setor são mais promissoras. De janeiro a julho, o custo do trabalho na indústria caiu 12,5%, na série livre de influências sazonais. É um uma queda significativa depois da alta de 19,6% registrada entre outubro e dezembro do ano passado, no auge do impacto da crise sobre a economia, segundo cálculos da LCA Consultores.

 

No acumulado dos 12 meses até julho, porém, a situação é menos favorável. Nessa base de comparação, o custo do trabalho subiu 9,74%, resultado da alta de 4,3% dos gastos das empresas com a folha de salários, já descontada a inflação, e de uma queda de 4,96% da produtividade.

 
 
O economista-chefe da LCA Consultores, Bráulio Borges, acredita que a fase de ajustes no mercado de trabalho ficou para trás, destacando a queda significativa do custo do trabalho na indústria no período entre janeiro e julho, feito o ajuste sazonal. Ele também chama a atenção para os ganhos de eficiência da indústria neste ano, também na série dessazonalizada. Calculada pela comparação da produção com o número de horas pagas aos trabalhadores, a produtividade da indústria subiu 15,1% nos primeiros sete meses do ano. No período, os gastos com a folha de salários caíram 2,9%.

 

"Em dois ou três meses, tanto a produtividade quanto o custo do trabalho deverão voltar aos níveis observados em setembro do ano passado, feito o ajuste sazonal." Quando a produção média por trabalhador voltar aos patamares elevados de 2008, as empresas tendem a voltar a contratar com mais força, diz Borges. O ponto é que ficará cada vez mais difícil extrair mais eficiência dos funcionários - para produzir mais, será necessário fazer novas contratações.

 

Vale ressaltar que o panorama entre os diversos setores da indústria não é homogêneo. No de vestuário, por exemplo, o custo do trabalho acumula alta de 2,43% nos 12 meses até julho, devido à alta de 4,52% nos gastos com a folha de salários, descontada a inflação, e à alta de 2,04% da produtividade. No caso da indústria extrativa, o custo do trabalho teve um salto de 29,88% no período, um movimento muito influenciado pelo aumento das despesas salariais de empresas como a Petrobras.

 

Os gastos com a folha na indústria extrativa cresceram 18,01% em termos reais, ao passo que a produtividade caiu 9,14%. Para Borges, isso não é uma tendência preocupante, não devendo levar a ajustes fortes de mão de obra. Os números acumulados em 12 meses ainda "carregam" resultados muito ruins registrados no auge da crise, afirma o economista.

 

Quando se compara o desempenho no período mais recente, o resultado é de fato mais benigno, como diz, em relatório, a economista Ariadne Vitoriano, da Tendências Consultoria Integrada. Em julho, a produtividade da indústria aumentou 2,1% em relação ao mês anterior, feito o ajuste sazonal. Segundo ela, o resultado refletiu o forte aumento da produção no período, de 2,2%, ao passo que o número de horas pagas ficou estável.

 

Para o Banco Fator, o fato da variação do emprego industrial ter passado de negativa para positiva indica que o processo de demissões nesse setor, "o mais afetado pela crise internacional", pode ter chegado ao fim. Os economistas do Fator ponderam, porém, que a perda de força das horas pagas - em junho, elas haviam crescido 0,6% em relação a maio - "pode fazer o ritmo de contratação não ser tão intenso, assim como a maior produtividade por trabalhador, resultado dos vultosos investimentos em capital feitos nos anos anteriores".

 

Ariadne destaca também a alta do emprego industrial como outro número favorável da Pesquisa Industrial Mensal de Emprego e Salário (Pimes), divulgada ontem pelo IBGE. O nível de ocupação cresceu 0,4% na comparação com junho, na série livre de influências sazonais. Foi o primeiro resultado positivo em nove meses. Para a economista, "o mercado de trabalho apresentou bons resultados em julho, como consequência da recuperação gradual da atividade industrial", indicando "o fim do processo de ajustes no emprego que vinha ocorrendo em decorrência da crise".

 

Na comparação com julho do ano passado, porém, o resultado foi bastante negativo: a ocupação caiu 7%, a maior queda da série histórica iniciada em 2001, de acordo com o IBGE. A questão, como diz Borges, é que o desempenho em 2008 nesse período foi muito bom, e a indústria só agora começa a se recuperar. De janeiro a julho, o emprego na indústria encolheu 5,4% e caiu 2,7% em 12 meses.

 

Nesta semana, os metalúrgicos dos municípios do ABC iniciam mobilização para reivindicar aumento real de salários. Os trabalhadores de autopeças devem parar hoje e sexta-feira, enquanto os das montadoras vão cruzar os braços amanhã. O dissídio da categoria, bastante forte, será importante para ver se há espaço para reajustes mais robustos, um ano depois do agravamento da crise.
 


Veículo: Valor Econômico


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