Com direito à claque de mais de cem pessoas vestidas de amarelo, a bolo de parabéns e a vídeos dos funcionários pedindo que as empresas votassem sim, a assembleia de credores aprovou ontem o plano de reestruturação da Casa & Vídeo. A festa era tanta que até o dono da empresa, Luigi Fernando Milone, fez sua primeira aparição pública desde novembro, quando foi preso pela Polícia Federal. Passado o sufoco, os planos são grandiosos: se tornar a maior empresa de varejo do país, afirmou Milone.
Já o novo presidente da companhia, Flávio Carvalho, que era advogado do escritório Alvarez e Marçal responsável pela estruturação da rede de lojas, é mais cauteloso. "Nosso objetivo primeiro é terminar a reestruturação da empresa, equalizar a operação. Mas claro, nós queremos ser os maiores", confirmou Flávio Carvalho.
Além disso, o novo presidente afirma que, com a estrutura atual pode administrar 120 lojas, o dobro do que tem hoje, 61 lojas. "Nada como uma crise para levar eficiência à empresa", diz. Hoje, segundo Carvalho, é possível elevar o faturamento aumentando as vendas, sem precisar contratar mais pessoas. Enquanto em janeiro, no auge de sua crise, a empresa faturou R$ 35 milhões, hoje fatura R$ 70 milhões. No entanto, no início de 2008, esse número chegava a R$ 100 milhões.
Dos 540 credores presentes, que representam R$ 280 milhões em dívidas, 488 votaram a favor e 44 contra. Como o que pesa na aprovação é o volume de crédito, a reestruturação foi aprovada por 74,54% dos credores. No entanto, grandes companhias, como Motorola, Sony Ericsson e Philips votaram contra.
Luigi Milone, vestido de amarelo, cor da Casa & Vídeo, da cabeça aos pés, era o mais exultante. Em seu discurso disse que estava planejando uma forma de voltar à operação da empresa, embora a lei de recuperação judicial impeça o acionista majoritário de participar da nova companhia saneada. "Descobri que sou substituível", lamentou em tom de brincadeira.
A partir de agora, será constituído um fundo de investimento em participação, o FIP Controle, gerido pelo Bank of New York Mellon, para capitalizar a nova empresa e reduzir sua dívida. Esse fundo terá uma oferta inicial de R$ 43 milhões a investidores qualificados e a credores do banco. Cerca de R$ 23,4 milhões virão dos credores com dívida de mais de R$ 1,5 milhão que terão ainda deságio de 50%. Como serão participantes de um fundo, não estarão na gestão da empresa.
Com a estruturação do fundo, a empresa passará ser auditada, como se fosse uma companhia aberta e vai divulgar balanços semestrais. Além disso, adotará governança corporativa nos níveis do Novo Mercado da BMF&Bovespa, promete Carvalho.
A empresa pagará aos outros credores em até 30 anos. Primeiro recebem aqueles que detêm créditos de até R$ 80 mil. O pagamento será em 12 vezes com desconto de 40%. Os credores maiores que concordaram com um abatimento de 30%, chamados de classe A, receberão em 16 parcelas semestrais a partir de julho de 2012. Já aqueles que quiserem ter a dívida paga integralmente terão a devolução em 32 semestrais, também a partir de julho de 2012.
O plano ainda criou um sistema parecido com o de milhagem de companhias aéreas, chamado de plano de aceleração de pagamentos. A cada R$ 100 em vendas com 45 dias de prazo, o fornecedor ganha um ponto, que equivale a R$ 1 em antecipação. No entanto, os pontos só poderão ser descontados quando o Ebtida for positivo.
A dívida fiscal fica com a Casa & Vídeo Licenciamentos. Segundo Carvalho, são R$ 100 milhões concentrados em quatro anos. O dinheiro será repassado pela empresa fluminense. Ele explica que o repasse será feito em quatro anos, já que a dívida com o Fisco foi parcelada durante a crise, e devolvida em 15 anos.
Milone ainda responde a processo criminal, que corre em segredo de Justiça. Ele foi preso em novembro, com outras 12 pessoas, na operação "Negócio da China" da Polícia Federal, acusado de sonegação fiscal, evasão de divisas, lavagem de dinheiro, formação de quadrilha e contrabando.
Veículo: Valor Econômico