A Hewlett-Packard Co. começou a aproveitar a crise no mercado de tecnologia para fortalecer sua posição como a maior fabricante de computadores do mundo. A estratégia para isso fica evidente com um notebook de US$ 298 vendido em julho nas lojas do Wal-Mart Stores Inc. nos Estados Unidos.
O computador baratinho foi desenvolvido este ano para aumentar as vendas do período de volta às aulas e ser mais barato que um modelo semelhante da Dell Inc., vendido a US$ 398 no Wal-Mart. O notebook da HP se esgotou dois dias depois de chegar às prateleiras, afirma o Wal-Mart. Uma segunda remessa também sumiu das prateleiras no fim de semana seguinte.
Era uma "pechincha incrível", diz Alain Nzigamasabo, diretor do Wal-Mart que cuida das vendas de computadores. Ele diz também que um notebook da HP a esse preço era difícil de imaginar há um ano, quando os fabricantes americanos optavam por manter os preços altos para resguardar o lucro.
Desde que a economia entrou em crise, no ano passado, a HP solidificou sua liderança baixando os preços de seus produtos, que ficaram ainda mais baratos que os de fabricantes asiáticos conhecidos por oferecer PCs de baixo custo, como a Acer Inc. E embora a margem de lucro da HP tenha caído, não sofreu tanto quanto as dos concorrentes.
Sediada em Palo Alto, na Califórnia, a HP conseguiu evitar que o lucro caísse demais graças a seu volume gigantesco de vendas, que usou para conseguir preços melhores dos fornecedores e fábricas que contrata.
Este mês a HP lançou novos computadores para a temporada de fim de ano, oferecendo-os a preços mais baixos do que os de versões anteriores. Um notebook ultrafino chamado dm3, com monitor de 13 polegadas, por exemplo, chegou às lojas americanas por US$ 549, ante US$ 699 cobrados por seu antecessor, lançado em janeiro.
Tantos descontos acabaram derrubando a margem de lucro operacional da divisão de PCs da HP para 4,6% no fim de julho, ante 5,7% um ano antes. Mas ela continua maior que a da Dell, calculada em 4,3%, segundo o analista Shaw Wu, da Kaufman Brothers.
Hoje, durante uma reunião da HP com analistas de Wall Street, os investidores estarão à espera de que a empresa expresse otimismo de que as maiores vendas de PCs vão ajudar a compensar a queda nas margens, disse Gil Simon, da Apex Capital Management, que tem ações da HP. "A questão", disse, "é saber qual é a sustentabilidade disso."
A Dell, em contrapartida, está cedendo participação de mercado em vez de baixar drasticamente os preços para se equiparar à HP. A empresa está "priorizando rentabilidade em vez de participação e crescimento", disse o diretor financeiro Brian Gladden em julho.
A fatia de mercado da HP subiu para quase 20% das vendas mundiais de PCs no segundo trimestre, ante 18,5% há um ano, segundo a IDC. No mesmo período, a fatia da Dell diminuiu dois pontos porcentuais, para 13,7%.
A Acer antigamente quase não concorria com a HP, já que se focava em vender grandes volumes de máquinas baratas. Agora "nós começamos a enxergá-los (como rivais) neste período difícil", diz Sumit Agnihotry, diretor de marketing de produto da Acer nos EUA.
A HP estabeleceu há dois anos as bases de sua expansão no mercado de computadores baratos, dizem pessoas envolvidas com os sistemas de produção e vendas da empresa. Ao mesmo tempo, mudou a maneira como comprava peças e enviava os PCs aos varejistas, dizem pessoas a par da questão.
Uma mudança importante foi reduzir o número de diagramas diferentes dos esqueletos dos notebooks, dizem essas pessoas. A simplificação poupa dinheiro ao permitir que os fornecedores produzam um volume muito maior do mesmo item, diz Lorcan Sheehan, consultor da Modus Link, que ajuda empresas como a HP a gerir cadeias de suprimento.
Outra mudança na HP foi estreitar o relacionamento com varejistas como Wal-Mart, para antecipar melhor a demanda.
Mais recentemente, a HP renegociou os contratos com ao menos um de seus fabricantes terceirizados de notebooks, argumentando que a queda nos preços do varejo justificava pagar menos, diz uma pessoa a par da questão.
Veículo: Valor Econômico