Filiais de múltis ganham novo status no Brasil

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Crise global aumentou a importância das operações brasileiras de grandes empresas internacionais

 

Nos últimos anos, ficou cada vez mais comum ver funcionários da área de marketing da Nivea do Brasil circulando pelos corredores da sede do grupo, na Alemanha. As ideias da equipe brasileira passaram a ganhar importância no desenvolvimento de alguns dos principais produtos e campanhas da multinacional de cosméticos. Uma das criações nascidas no País e "exportadas" para o resto do mundo foi uma linha de sabonetes em barra com fragrâncias florais, ao gosto do brasileiro. Hoje, ela faz parte do portfólio de subsidiárias da Nivea nos Emirados Árabes, Itália e Rússia.

 

A participação dos funcionários brasileiros ocorreu conforme aumentava a importância do Brasil dentro das operações da companhia. Desde 2005, a filial cresce 15% ao ano, mais que o dobro do registrado pela empresa globalmente. No ano em que eclodiu a crise global, a expansão foi de 22%. "O Brasil é um dos países que puxam o crescimento do grupo", afirma o presidente da Nivea do Brasil, o alemão Nicolas Fischer. O entusiasmo, porém, vai além das palavras e dos números. O novo "status" da subsidiária brasileira trouxe também maior autonomia na gestão local, além de participação mais ativa na definição das estratégias globais.

 

Multinacionais de diversos setores têm experimentado essas mudanças. Em 2008, a operação da Siemens no Brasil foi a que mais cresceu entre as 197 do grupo, assumindo a liderança entre as subsidiárias estabelecidas nos Brics (grupo formado por Brasil, China, Índia e Rússia). O resultado foi um dos motivos para a filial receber carta branca da matriz para seguir com os investimentos milionários iniciados no País, mesmo com a crise global. "A crise atingiu de forma brutal o mercado europeu e inviabilizou muitos projetos. Não obstante, a empresa continuou com investimentos pesados no Brasil", afirma o diretor geral da área de energia, Nilton Duarte.

 

Até o final deste ano, o resultado desses investimentos deve aparecer. A Siemens inaugurará duas novas fábricas no País, que vão produzir transformadores e capacitores elétricos. Uma das unidades será utilizada como plataforma para exportação, a exemplo do que já ocorre na fábrica de Jundiaí (SP). Cerca de 40% da produção dessa unidade é destinada ao exterior. Uma das tecnologias desenvolvidas ali - um transformador à prova d"água, criado com base em uma demanda da Eletropaulo -, está sendo apresentada a grandes distribuidoras de energia no mundo.

 

CRESCIMENTO

 

O modelo de "exportação" de criações brasileiras, surgido à medida que o País ganha relevância na atuação global das multinacionais, também passou a ser adotado na inglesa Diageo, de bebidas. Pela primeira vez, a campanha mundial de uma de suas principais marcas, a vodca Smirnoff, foi desenvolvida e produzida no Brasil. "É uma aposta do grupo em função do que o País já representa e do que vai representar", explica o diretor de marketing, Eduardo Bendzius. Segundo ele, a nova campanha fez parte do maior investimento em marketing da história do grupo no País.

 

Também neste ano, o mercado brasileiro subiu uma posição e tornou-se o quarto maior da marca de vodca no mundo, atrás apenas da Inglaterra, Estados Unidos e Canadá. O País já é o maior mercado do uísque Johnnie Walker Red Label. "Todas as marcas principais vêm crescendo a dois dígitos", afirma Bendzius. Por esse motivo, além da nova campanha, outras ideias nascidas no País estão rodando o mundo. Na área de vendas, a estratégia de promover reuniões com as principais redes de varejo, em cada uma das categorias de bebidas, passou a ser adotada em outros países da América Latina. "São práticas redondas, adotadas e conhecidas mundialmente pela companhia", comenta.

 

Na farmacêutica Novartis, o desempenho dos últimos anos também tem feito do Brasil a nova vedete entre as filiais do grupo. O País foi incluído recentemente no grupo de mercados emergentes, do qual faz parte, além dos Brics, México, Coreia do Sul e Turquia. As vendas nesses países cresceram 18% em 2008, mais que a média do grupo. "Apesar da crise, aumentaram os investimentos nesse seleto grupo", informa o diretor de relações institucionais, Renard Aron. No mês passado, a Novartis inaugurou uma fábrica de vacinas no Nordeste, para abastecer o mercado doméstico e, no futuro, exportar para a América Latina.

 

País ficou interessante para os estrangeiros

 

Na multinacional de produtos de limpeza e higiene Reckitt Benckiser, uma das principais mudanças decorrentes da nova posição do Brasil foi o interesse de executivos estrangeiros pela operação nacional. O gerente de mídia da empresa anglo-holandesa, Ricardo Monteiro, conta que, há cinco anos, profissionais americanos e europeus não tinham interesse em trabalhar na América Latina. Agora, ocorre o inverso. "O Brasil ficou muito mais interessante para esse executivo. Com seu potencial de crescimento e capacidade do mercado interno, há pouca chance de se errar."

 

A movimentação de estrangeiros na sede da empresa, em São Paulo, só cresceu nos últimos anos. Um deles é o belga Frederic Larmuseau, que assumiu a operação brasileira há pouco mais de um ano - e já foi promovido. Nas próximas semanas, passará a comandar a empresa na América Latina. "Os brasileiros, paralelamente, também têm sido mais valorizados", diz Monteiro. Reuniões globais de cada uma das categorias em que a companhia atua passaram a ter a participação de um executivo do País. Em quatro anos, o Brasil passou da 14ª para a 7ª posição entre os maiores mercados da Reckitt.

 

A Siemens no Brasil também passou a "exportar" executivos. "Temos gente trabalhando em grandes mercados como China e Estados Unidos", diz o diretor Nilton Duarte. Esse processo deve se intensificar nos próximos meses. Uma equipe da Chemtech - empresa de engenharia, adquirida pela Siemens em 2001 -, será enviada a Abu Dhabi, nos Emirados Árabes. As soluções da companhia serão aplicadas em projetos para empresas petrolíferas da região.

 


Veículo: O Estado de S.Paulo


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