Excesso de sal reprova macarrão instantâneo

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Pesquisa feita pela Pro Teste revela que as dez principais marcas vendidas no País têm substâncias que podem fazer mal à saúde

 

As dez principais versões de macarrão instantâneo, de diferentes fabricantes, fazem mal à saúde, segundo a Associação Brasileira de Defesa do Consumidor (Pro Teste). Por meio de análise dos produtos, a entidade constatou que o tempero em pó (que vem num saquinho) tem mais sódio que o valor total diário recomendado para o consumo e quantidades abusivas de glutamato monossódico, conhecido como realçador de sabor, que pode causar dependência. Nos macarrões, também foram encontradas quantidade excessiva de gordura.

 

A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda a ingestão diária de, no máximo, 2g de sódio ou 4g de sal. Entre os produtos avaliados, a menor concentração de sódio encontrada foi de 16g a cada 100g do sachê de tempero, no Nissin Lamen Light. As marcas Qualitá e Piraquê foram as que mais apresentaram a substância acima da quantidade ideal diária em seus produtos. “É abusivo à saúde tanto sódio em uma receita”, afirma Alessandra de Macedo, coordenadora técnica de produtos da Pro Teste. Levando em conta que o sachê utilizado tem 8 g, a quantidade de sódio nos dois produtos com a pior avaliação é de 2,32 g - mais que a porção diária recomendada.

 

O sódio é utilizado como sal nos macarrões instantâneos e o consumo excessivo é fator de risco para problemas cardíacos e hipertensão. “O sódio é necessário para o equilíbrio hídrico do corpo. Ele atua na transpiração, na urina e, no sangue, controla a saída e entrada de líquidos das células. Mas, em excesso, o sódio é o grande vilão da pressão arterial”, afirma o nutricionista Daniel Bandoni, do Departamento de Nutrição da Faculdade de Saúde Pública da USP.

 

A vice-presidente da Associação Brasileira de Nutrição, Virginia Nascimento, alerta para os perigos do glutamato monossódico, utilizado para mascarar a pobreza de ingredientes. “Ainda não há estudos que comprovem o impacto da substância no organismo. Ele atua como um realçador do sabor e existem indícios de que pode levar à dependência.”

 

Enxaqueca, dor de cabeça, náusea, vermelhidão facial, dor no pescoço, queimação no peito, sudorese e ondas de calor são reações observadas pelos especialistas em pessoas que consomem grandes quantidades de glutamato. No macarrão da Maggi Lamenitos, a Pro Teste detectou até 242g por 1kg do produto. “É muita coisa. Como não sabemos os efeitos e temos indícios negativos do consumo, indicamos que as pessoas evitem o glutamato monossódico”, diz Bandoni.

 

Tanto o sódio quanto o glutamato monossódico são substâncias encontradas na natureza. “As quantidades dos elementos na natureza é que deveriam ser respeitadas. O sódio está na composição de muitos alimentos e o glutamato, em queijos e cogumelos. O prejudicial é o excesso e não as substâncias (em si)”, afirma o Bandoni.

 

Apesar de a Pro Teste classificar o tempero como a “pior parte” do produto, a massa também apresentou problemas nutricionais. “Detectamos uma quantidade expressiva de gordura que, combinada ao sódio e ao glutamato monossódico, potencializa a gravidade de ingerir o alimento”, afirma Alessandra de Macedo.

 

Ela explica que o processo de desidratação - o macarrão é frito até ressecar antes de ser cozido - retém gordura. “Mesmo sem os temperos, eles apresentaram em média cinco vezes mais gordura do que o macarrão tradicional.” O produto com teor mais alto de gordura foi o Nissin Lamen Turma da Mônica, com 16g a cada 100g do produto. Em um macarrão tradicional, a concentração de colesterol (os especialistas tomam como base a gordura do ovo) é de 5mg por 100g do produto.

 

Para os nutricionistas, os macarrões instantâneos devem ser substituídos pelo macarrão tradicional. “As pessoas devem evitar a preguiça e a desculpa da praticidade. Uma boa massa, saudável, pode ser preparada em três minutos e, mesmo temperada, terá menos sal e glutamato monossódico do que os macarrões industrializados”, afirma Bandoni. Uma alternativa mais saudável é o macarrão conhecido como “cabelo de anjo”, pela menor concentração de colesterol. Mas, caso seja impossível banir os instantâneos da dieta, Alessandra de Macedo aconselha consumi-los sem o tempero, “que pode ser substituído por temperos naturais,como o molho de tomate.” As marcas avaliadas foram Adria, Carrefour, Great Value, Maggi, Nissin Lamen, Piraquê, Qualitá, Renata Express, Maggi Lamenitos e Nissin Turma da Mônica.

 

O RESULTADO DO TESTE

 

Concentração de SÓDIO encontrada nos temperos dos 10 macarrões instantâneos avaliados:

Menor quantidade

Nissin Lamen Light - 16g a cada 100g do produto

Maior quantidade

Qualitá e Piraquê - 29g a cada 100g do produto


Concentração de sódio encontrada em um prato de comida (arroz, feijão, bife e salada) sem tempero: cerca de 40 mg

Porção diária de sódio recomendada pela Organização Mundial da Saúde: 2g , o equivalente a 4g de sal por dia

Concentração de GLUTAMATO MONOSSÓDICO encontrada nos temperos dos 10 macarrões instantâneos avaliados:

Menor quantidade

Nissin Lamen Turma da Mônica - 54g por 1kg do produto

Maior quantidade

Maggi Lamenitos - 242g por 1kg do produto

Não há estudos científicos sobre o efeito da substância no organismo humano.

No entanto, especialistas não indicam o consumo, que pode levar à dependência e provocar dores de cabeça, pescoço, ondas de calor, dores de cabeça, queimação no peito

 

'Come todo dia por preguiça'

 

“Putz, ainda tenho mais quatro pacotes de Miojo em casa. Será que vou usá-los?” questionou ontem o motorista Sidney De Picoli, de 39 anos, ao saber que as os macarrões instantâneos têm substâncias como o sódio acima limite máximo recomendado. Ele, que come esse tipo de alimento uma vez por mês, disse que também avisará sua prima. “Ela tem preguiça de esquentar a comida, então, quase todo dia ela come (macarrão instantâneo).”

 

O motorista, que comeu macarrão instantâneo no último domingo, disse não saber que a concentração de alguns ingredientes do tempero é elevada e que, no longo prazo, pode trazer danos à saúde. “Minha tia sempre diz que essas comidas fazem mal, mas achava que era saudável. Se fizer muito mal, vou deixar de comer.”

 

Evitar consumir esse tipo de produto é a recomendação que a telefonista Maria Luiza Mahmed, de 45 anos, dará à filha de 22 anos. “Ela come macarrão instantâneo uma vez por semana, às vezes, por ser uma refeição mais prática. Mas, com esse dado (do tempero) pedirei para ela comer menos e se alimentar melhor.”

 

E é para ter uma alimentação saudável que a empresária Francileide de Oliveira Chagas, de 39 anos, não prepara macarrão instantâneo para os filhos André Luis, de 9 anos, filha Amanda, de 7, e Andressa, de 7 meses. “São alimentos que não trazem benefício para a saúde. Todos esses produtos artificiais passam longe de casa.” As crianças, que estavam com a mãe durante a entrevista, disseram também não gostar desse tipo de produto. “Bom mesmo é arroz, feijão, salada e bife”, disse André.

 

O OUTRO LADO

 

A Salmin, fabricante do Renata Express, e a Piraquê, informaram que os produtos são indicados para adultos. A Piraquê informou que o macarrão, com valores de sódio divergentes ao esperado, foi encaminhado para análise

 

A Nissin, responsável pelo Nissin Lamen e pelo Nissin Turma da Mônica, informou que os dois atendem à legislação referente aos teores de gordura e sódio. A Nestlé, das marcas Maggi e Maggi Lamenitos, afirmou que os produtos estão aptos para consumo, mas que há política de diminuição dos teores dessas substâncias

 

A Adria destacou que segue o padrão do mercado. O Walmart, fabricante do macarrão instantâneo Great Value, informou que o produto está de acordo com as normas legais, mas solicitou novas análises. O Carrefour não se manifesta por não ter conhecimento da pesquisa. Já o Pão de Açúcar, fabricante do Qualitá, contesta a análise e afirma que desconhece o laboratório responsável.

 

Veículo: Jornal da Tarde - SP


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