Milho é ingrediente de vários produtos; Maizena já foi rotulada
O aumento no uso de sementes geneticamente modificadas na produção de milho deve aumentar também a presença dos transgênicos na mesa do consumidor. Além de ser consumido diretamente na espiga ou em grãos, o milho fornece ingredientes básicos para muitos alimentos industrializados. "É muito mais presente na nossa comida do que a soja", diz o presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Alimentação (Abia), Edmundo Klotz
Uma das marcas mais tradicionais de amido de milho do País, a Maizena, já está rotulada como transgênica desde julho. A lei brasileira exige que produtos contendo mais de 1% de ingredientes de origem transgênica sejam rotulados com a letra "T" dentro de um triângulo amarelo, acompanhado da frase "transgênico", "contém transgênico" ou "produzido a partir de transgênico".
Procurada pelo Estado, a Unilever, dona da marca Maizena, disse que rotulou o produto "para cumprir a legislação". Isso apesar de a proporção de milho transgênico na safra 2008-2009 ainda ter sido pequena (cerca de 19%). Segundo fontes ligadas ao setor, a empresa optou pela rotulagem imediata como uma medida preventiva, já prevendo que seria muito difícil - e caro - manter o produto livre de transgênicos.
Os primeiros alimentos rotulados como de origem transgênica no País foram os óleos de soja, no fim de 2007. "O que não tiver rótulo é porque não tem 1% (de transgênicos)", garante Klotz. "O que era inevitável rotular já está rotulado."
Ele faz questão de ressaltar que não há diferença entre os óleos derivados de soja transgênica e convencional, já que nem o gene nem a proteína transgênica estão presentes no produto. O rótulo deve-se apenas ao fato de o óleo ter sido extraído de grãos modificados.
A Abia não se opõe à rotulagem, mas é extremamente crítica do triângulo amarelo, por entender que ele passa uma mensagem equivocada de "perigo". "É um símbolo universal de alerta, de atenção", afirma Klotz. "Não informa nada; só assusta e confunde o consumidor." A associação apoia um projeto de lei do deputado Luis Carlos Heinze (PP-RS), que eliminaria o triângulo e incluiria no rótulo apenas uma informação textual sobre o ingrediente transgênico do produto. Outra preocupação da indústria com relação ao milho é o fato de ele ser componente básico da ração de galinhas e porcos - o que não ocorre com a soja. A lei exige que a carne de animais alimentados com transgênicos também seja rotulada.
"Entre um produto transgênico e um não transgênico, a maioria das pessoas vai escolher o convencional", diz o diretor executivo da Associação Brasileira dos Produtores de Grãos Não Geneticamente Modificados (Abrange), Ricardo Tatesuzi de Sousa. É essa preferência que mantém nichos de mercado abertos para os produtores de grãos convencionais.
"A vantagem do Brasil é que na nossa agricultura tem espaço para tudo: transgênico, não transgênico, orgânico", diz Sousa. No caso da soja, quase 100% da produção dos EUA e da Argentina é transgênica, o que deixa o Brasil como único grande fornecedor do produto convencional. "Precisamos proteger esse mercado."
Veículo: O Estado de S.Paulo