A crise financeira mundial passou longe do segmento de massas alimentícias, que deve fechar o ano com crescimento bem superior ao Produto Interno Bruto (PIB), apoiado na retração do setor de alimentação fora do lar. A avaliação das indústrias do setor apontam para um 2010 ainda mais otimista, com grande volume de aportes em expansão.
Segundo Cláudio Zanão, diretor presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Massas Alimentícias (Abima), o segmento teve bom desempenho em todos os mercados, principalmente os que mais sofreram com a crise financeira. "Os Estados Unidos estão tendo um aumento de 20% nas vendas de massas", afirma. "A recessão econômica norte-americana alavancou o consumo de massas, em função das características próprias do produto: preço baixo, valor nutritivo e facilidade de preparo."
Zanão evita antecipar o crescimento do setor para 2009, pois o consumo durante o primeiro semestre do ano é tradicionalmente inferior ao do segundo. "Prevíamos uma alta equivalente ao PIB [Produto Interno Bruto], mas com a expressiva melhora do cenário econômico do segundo semestre, devemos fechar em 3% a 4%, mas ainda é cedo para determinar um índice", ressalta.
Expansão
O Grupo Selmi, dono das marcas Renata e Galo, já registra 17% de alta no volume de vendas de suas massas. Para Ricardo Selmi, presidente do grupo, esse aumento é fruto, basicamente, da queda de preços dos produtos, atendendo à necessidade de consumo das camadas sociais mais baixas e das que sofreram com a recessão.
Até outubro, a empresa contabiliza um aumento de 20% na produção, na comparação com 2008. Segundo Selmi, o preço do trigo contribuiu fortemente para a expansão da produção. Nesse sentido, a empresa deve fechar o ano com aumento da capacidade produtiva, com uma nova linha de espaguete com capacidade de 4.500 quilos por hora.
Além disso, até o final de 2010, a empresa vai lançar uma nova linha de cream cracker, biscoitos doces e bolinhos prontos em monoporções. Outro foco será o de armazenagem, com incremento da unidade de Sumaré, no interior de São Paulo. O valor total desses investimentos gira em torne de R$ 30 milhões.
A Selmi acrescenta que, para 2011, está planejando a construção de uma planta em Pernambuco para fortalecer a presença no mercado nordestino. "O mercado consumidor do Nordeste está crescendo muito e queremos acompanhar essa tendência", justifica. Atualmente, a Selmi tem 13% de market share no Sudeste e Centro-oeste, além de Santa Catarina e Paraná, onde possui a segunda unidade, em Londrina, na região Sul. A implantação da unidade do Nordeste deve alavancar essa participação e irá consumir R$ 15 milhões, produzindo espaguete e macarrão instantâneo.
Para Selmi, no próximo ano, o setor deve crescer entre 3% e 4%. "O crescimento desse segmento é descolado do PIB, pois possui características próprias", declara. Mas a meta da empresa é mais ambiciosa e está fixada em 10%.
Outra empresa que aposta na expansão para atender ao aumento da demanda é a J. Macedo, responsável pelas marcas Dona Benta, Petybon e Brandini, líder no Norte-Nordeste. "Acreditamos que o mercado brasileiro apresenta um grande potencial para o crescimento do consumo", afirma Marcos Povoa, diretor comercial e de novos negócios da J.Macedo. "De olho nessa oportunidade, estamos trabalhando na expansão da capacidade produtiva de nossa unidade de São José dos Campos, aumentando o volume de massas de 63 mil toneladas ao ano para 93 mil toneladas".
Lacuna
Para ocupar o lugar deixado pela Frescarini, que deixou de ser produzida em abril, pela General Mills, o Grupo Bertin lançou, no fim de setembro, sua linha de massas frescas com a marca Vigor. Presente em grandes e médias redes de varejo, o objetivo da empresa é alcançar, em 12 meses, 15% do mercado de massas frescas em São Paulo, chegando ao pequeno varejo em março do próximo ano. "A Vigor tem uma forte atuação no pequeno varejo por conta de seus produtos lácteos, mas estamos definindo como se dará a logística de distribuição das massas", explica Marcos Scaldelai, diretor de marketing de produtos lácteos da Bertin.
Sem revelar os números, Scaldelai conta que, em outubro, a produção já dobrou de volume e que, este mês, deverá dobrar novamente. A fabricação das massas da Vigor é feita pela Pastitex, que também possui marca própria no segmento. "Nosso produto é voltado para as classes B/C e possui desde massa de pastel, responsável pelo maior volume de vendas, até as recheadas, que tem maior valor agregado e incrementa o faturamento", afirma o diretor de Marketing.
Veículo: DCI