Atacado com jeito de varejo. Esse é o negócio principal de uma família mineira, descendente de libaneses, que em Belo Horizonte e região se transformou em líder isolado de um segmento de supermercado que só cresce, puxado principalmente pela classe C.
O Apoio Mineiro, o "atacarejo" de Euler Fuad Nejm, foi adquirido em 2002 e hoje tem nove unidades (a décima deve ficar pronta em dezembro), todas na capital mineira e seu entorno. As lojas não têm luxo nenhum, vendem produtos a preços mais baixos, em frações maiores ou parceladas, e ao contrário dos atacados tradicionais não atendem só a lojistas, mas também a consumidores finais. O termo em inglês para esse formato de mercado é "cash and carry".
Nejm é o dono do Grupo Supernosso, que começou em 1940 como um varejão em Belo Horizonte, fundado por seu pai. Hoje ele comanda a empresa com o auxílio de seus dois filhos e da mulher. Em Belo Horizonte, o grupo é mais conhecido pelos supermercados Supernosso, com 14 lojas na cidade para o público A e B. Mas é o "atacarejo" o carro-chefe da empresa e o negócio em que Nejm pretende investir mais nos próximos três anos.
No ano passado o grupo registrou um faturamento de R$ 1 bilhão e este ano a projeção do empresário é de que chegue a R$ 1,3 bilhão. O Apoio contribui com 43% da receita; o Supernosso, com 32%; e 25% vêm de duas distribuidoras.
"Vamos dobrar o número de lojas do Apoio em três anos e dobrar o faturamento do grupo", disse Nejm ao Valor no restaurante instalado em uma das lojas do Supernosso. Segundo ele, no ramo do "atacarejo" sua empresa é líder não somente na capital, mas em todo o Estado de Minas Gerais.
Seu plano é investir R$ 100 milhões na abertura de mais dez unidades do Apoio até 2015; R$ 50 milhões em mais cinco unidades do Supernosso; R$ 40 milhões na ampliação do centro de distribuição e numa padaria central e R$ 10 milhões nas distribuidoras.
"O custo benefício [do Apoio] é muito interessante. As lojas têm custo baixo de operação, o que nos permite vender mais barato. Não têm granito no piso, acabamentos em madeira, produtos próprios de padaria como temos aqui", diz ele, apontando para o interior da unidade do Supernosso da avenida Nossa Senhora do Carmo, vista pela janela do restaurante anexo.
Apostar nesse modelo mais popular tem a ver, segundo ele, com "a emergência dos consumidores da classe C e de um quadro macroeconômico muito favorável".
Há três anos, o faturamento do grupo vem crescendo numa faixa de 25% ao ano. A previsão para este ano é um avanço de 26%.
No ranking das maiores redes do país da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), a Multiformato Distribuidora (empresa que reúne o supermercado Supernosso e o Apoio Mineiro) saltou do 24º lugar, em 2010, para o 20º no ano passado. Dos 50 maiores grupos supermercadistas nenhum ganhou tantas posições de um ano para outro. O ranking, que leva em conta uma série de informações, é deste ano, mas baseado nos dados de 2011. Entre os supermercados de Minas, os do grupo Supernosso estão em terceiro lugar, atrás dos da DMA Distribuidora (dona das redes Martplus, Epa e ViaBrasil) e os do Supermercados BH.
Nejm diz que já ouviu muitas propostas de investimentos e também de compra de sua empresa. Negou todas. E diz não ter interesse em abrir mão do negócio criado por seu pai e onde começou a frequentar aos 8 anos. O empresário tem 51.
Quanto a aquisições, ele afirma que não há nenhuma negociação em curso. Mas se surgir uma oportunidade de compra de outra rede, diz que as portas estão abertas para conversações.
O setor supermercadista de Minas Gerais espera para este ano um aumento de faturamento de 4%, segundo a Associação Mineira de Supermercados (Amis), para R$ 13,7 bilhões. O volume de investimentos deverá chegar a R$ 250 milhões, na abertura e reforma de lojas. Segundo a entidade, as principais redes em Minas Gerais estão investindo ou já investiram em unidades de "atacarejo".
Veículo: Valor Econômico