Segundo os Klein, auditoria mostrar indícios de ‘erros relevantes’, que poderiam alterar composição acionária da companhia
Pela segunda vez em pouco mais de dois anos, a família Klein quer voltar à mesa de negociação para rever a fusão da Casas Bahia com o Grupo Pão de Açúcar, que deu origem à rede de eletrodomésticos Viavarejo. Sócios minoritários, eles acreditam ter indícios de que haveria erros "relevantes" nas demonstrações financeiras usadas pelo Pão de Açúcar na fusão, a ponto de alterar a composição acionária da empresa - os Klein têm 47% e o Pão de Açúcar é majoritário, com 53%.
A base do questionamento é o resultado preliminar de uma auditoria encomendada à KPMG no começo do ano, pelo conselho da própria Viavarejo. Na visão dos Klein, embora não esteja concluído, o trabalho já teria detectado erros e inconsistências nas demonstrações da Globex (do Pão de Açúcar) capazes de levar a uma revisão do valor das empresas que cada lado colocou na operação. Se a avaliação inicial for confirmada, dizem fontes ligadas aos Klein, a composição acionária da Viavarejo poderia até se inverter, com os antigos donos da Casas Bahia passando a sócios majoritários.
O advogado da família Klein, Ivo Waisberg, não confirma essa hipótese, mas afirma que a situação precisa ser rediscutida. "Existe um problema que pode ser relevante e a gente precisa apurar. Por isso, enviamos uma notificação para abrir negociações sobre as eventuais inconsistências no balanço da Globex usado na transação", diz Ivo Waisberg. Procurada, a direção do Pão de Açúcar preferiu não se manifestar.
A família Klein e o Pão de Açúcar vivem às turras desde que se tornaram sócios, em 2009. A diferença é que, antes, os antigos donos da Casas Bahia brigavam com o empresário Abilio Diniz e, agora, a conversa será com os franceses do Casino, que este ano assumiram o controle da maior rede de varejo do País.
'Boa-fé’
A mais nova confusão começou com uma carta enviada pelos Klein ao Pão de Açúcar na última sexta-feira, propondo que os resultados da auditoria da KMPG comecem a ser discutidos de forma "amigável e com boa-fé". Caso não entrem em acordo no prazo de 30 dias, os empresário Samuel e Michael Klein ameaçaram entrar com pedido de arbitragem.
A ideia de contratar a KPMG partiu do Pão de Açúcar, que no começo do ano pediu uma auditoria na Nova Casas Bahia, a empresa dos Klein que faz parte da Viavarejo. Eles concordaram, mas pediram que o levantamento envolvesse todas as empresas da Viavarejo.
Pessoas que acompanham essa novela especulam que os Klein poderiam estar reagindo a uma suposta decisão de tirar Raphael Klein da presidência da Viavarejo em novembro, quando o Pão de Açúcar passa a ter o direito de escolher o próximo ocupante do posto. Embora Michael Klein, pai de Raphael, continue na presidência do conselho de administração, a família não se conformaria com a mudança. "Uma coisa não tem nada a ver com a outra", diz Waisberg. "No dia 19 de novembro o GPA passa a ter direito de indicar o presidente da Viavarejo, e a família Klein vai respeitar isso."
Veículo: O Estado de S.Paulo