GPA tem 30 dias para aceitar renegociar ações da ViaVarejo

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Na disputa que os controladores do Grupo Pão de Açúcar (GPA) têm travado nos últimos anos, agora é a família Klein que resolveu rediscutir a divisão acionária da ViaVarejo. A holding controla as bandeiras Casas Bahia, Ponto Frio e Nova Pontocom e é dominada pelos executivos do GPA, cujo controle é dos franceses do Casino, mas com forte participação acionária dos Klein. Agora, a família alega que o valor estipulado há três anos para a Ponto Frio foi sobreavaliado e prejudicou a distribuição das ações da ViaVarejo. Para debater o tema, os Klein enviaram ao GPA uma carta solicitando uma negociação entre as partes. Se isso não acontecer até dia 15 de novembro, deverá resultar em um processo arbitral.

Segundo os especialistas ouvidos pelo DCI, a ação dos Klein reflete tanto a falta de paciência da família com relação ao caso quanto uma ação preventiva para evitar tornarem-se sócios minoritários do GPA em uma perspectiva de que o francês Casino possa desmembrar o grupo, à medida que coloque cada vez mais as mãos no negócio brasileiro.

Na sexta-feira da semana passada, a família (liderada hoje por Michael Klein, filho do fundador da rede, Samuel Klein) mandou uma carta ao GPA afirmando que abrirá um processo arbitral caso não aceitem rediscutir a divisão acionária da ViaVarejo, a qual hoje detém 47% das ações. Os outros 53% são de posse do GPA. O ponto da discórdia, desta vez, é a avaliação dos ativos da rede Ponto Frio quando da formação da ViaVarejo. A família queixa-se sobre como a Ponto Frio, que na época pertencia ao Pão de Açúcar, teve seu valor "inchado". O resultado - sempre na versão dos Klein - é que o fatia das ações que lhes coube na ViaVarejo é menor do que aquilo que seria justo. A família pediu uma reunião com o GPA para tentar tratar "de forma tranquila" a questão, antes de tomar qualquer ação legal.

"É realmente muito estranho ver um sócio se pôr a contestar os termos de um acordo quase três anos depois que o mesmo foi fechado", disse Luiz Marcatti, diretor da consultoria Mesa Corporate Governance. Para ele, "os Klein estão em seu direito ao desejarem rediscutir o tamanho de sua participação na ViaVarejo, mas causa espanto o tempo que levaram para fazê-lo e o tom beligerante que estão adotando para tanto".

"Eles podem, de fato, ter apenas a intenção de reparar o que julgam ter sido uma divisão injusta das ações da ViaVarejo quando do surgimento da empresa. Mas a família também pode estar agindo estrategicamente para evitar tornar-se uma sócia minoritária de Abílio Diniz na própria ViaVarejo", analisa, e completa: "Não devemos nos esquecer de que a saída de Diniz do GPA vem sendo traumática. Ele entrou em conflito com o Casino no processo. Existe a possibilidade de que Diniz acabe ficando com a participação do Pão de Açúcar na ViaVarejo como compensação por sua saída do GPA. Para os Klein, certamente este seria um cenário bastante desconfortável", estima.

Em declaração exclusiva ao DCI, Ivo Waisberg, um dos advogados que estão representando os Klein nesta questão, adiantou que até o momento o GPA não respondeu ao pedido da família, de uma reunião para tratar do tema. Questionado sobre qual tipo de compensação os Klein desejariam caso seja constatado que o Ponto Frio de fato foi avaliado a maior quando do surgimento da ViaVarejo, o advogado foi enfático: uma redistribuição das ações da holding.

Em nota oficial, o GPA afirmou ontem que "a associação que criou a ViaVarejo é irretratável do ponto de vista legal, tanto quanto à sua existência quanto às suas características de controle e qualquer especulação em sentido contrário é nociva aos interesses, tanto do GPA quanto de ViaVarejo, ambas companhias abertas". O comunicado também informa que o grupo já respondeu ao questionamento dos Klein.

Mudança na imagem

Para Joaquim Gonçalves Paes, professor de Publicidade da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, e especialista em marcas varejistas, as mudanças de controle da Casas Bahia poderiam significar alterações na visão da marca pelos consumidores.

"Antes da compra pelo GPA, a Casas Bahia era referência de compra da classe C", disse ele, lembrando que o fim da "Super Casas Bahia" foi uma das iniciativas que afastaram essa imagem.

Hoje, outras gigantes do setor que também procuram fidelização na classe emergente travam com a Casas Bahia batalhas pelo consumidor fiel. "O retorno dessa imagem de 'mãe da classe C' dificilmente será reativado pela Casas Bahia, independentemente do resultado dessa ação, principalmente porque hoje os emergentes têm outras alternativas de varejistas com apelo e comunicação visual adaptadas para eles", disse. Ao que citou nomes como a mineira Ricardo Eletro e a força da imagem de Luiza Trajano, presidente da varejista Magazine Luiza. "Antes essa empatia com o consumidor era feita pela imagem de Samuel Klein, que fazia até comerciais da empresa para fixação da própria imagem."


Veículo: DCI


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