Advogados do Grupo Pão de Açúcar (GPA) enviaram, no fim da noite de segunda-feira, uma carta para membros da família Klein, fundadora da Casas Bahia, informando ter recebido com "absoluta surpresa" o documento de notificação dos Klein ao grupo, questionando condições da fusão entre Ponto Frio e Casas Bahia. Na carta do GPA, obtida pelo Valor, o grupo não menciona uma data para reunião de discussão do assunto, como os Klein solicitaram - o que foi entendido pela família como uma recusa do grupo para a negociação, apurou a reportagem.
O Pão de Açúcar está aberto para conversas com os sócios apenas a partir de dezembro, quando uma auditoria nas contas da Via Varejo (criada com a união de Ponto Frio e Casas Bahia) deve terminar, informa a carta da empresa. Para os Klein, o valor patrimonial de Ponto Frio foi "inflado" no laudo usado nas tratativas da fusão.
O mal-estar entre as partes começou na semana passada. Em carta enviada na sexta-feira para a direção do Grupo Pão de Açúcar e da Via Varejo, advogados dos Klein informaram que erros e inconsistências em balanços da Globex (na época, Ponto Frio) afetaram o valor de troca das ações da família com o Grupo Pão de Açúcar. Os Klein não citam explicitamente os problemas na carta. Ivo Waisberg e Ricardo Tepedino são advogados dos Klein. A Veirano Advogados representa o GPA, dono de 53% da Via Varejo. Os Klein tem 47%.
Agora, na carta de resposta, o GPA informa que "os supostos erros e inconsistências que V. Sas [Klein] vagamente alegam ter sido identificados nas demonstrações [...] teriam sido apontados pela KPMG no último dia 10, em reunião destinada à discussão de pendências nos trabalhos da KPMG", relata. Uma vez concluídos os trabalhos, se houver razão para uma reunião [..] estaremos oportunamente à disposição".
Em comunicado ao mercado ontem, o GPA nega erros contábeis e informa que "o uso de informações preliminares, descontextualizadas, assim como qualquer conclusão ou especulação a seu respeito é inconsequente, precipitada, distorcida e danosa". Para o grupo, a fusão que criou a Via Varejo é "irretratável" e qualquer especulação em sentido contrário é nociva aos interesses do GPA e de Via Varejo, ambas companhias abertas.
Os Klein não podem pedir mudanças na fusão assinada em 2010. Podem solicitar uma indenização, como inclusive está no acordo. Fontes ligadas ao GPA dizem que o valor seria pequeno, o que tem gerado internamente questionamentos sobre as motivações dos Klein. Há informações de que a família estaria marcando posição para evitar o afastamento já definido de Raphael Klein da presidência de Via Varejo. Mas o Valor apurou que os Klein são favoráveis a saída de Raphael do cargo. A família tem um antigo desejo de comprar a parcela do GPA no negócio, mas esse projeto não avançou.
Veículo: Valor Econômico