Abilio Diniz não está tão preso ao Grupo Pão de Açúcar como parece. Ao menos, não financeiramente. Agora que deixou de ser o controlador, aceita sair por completo. E prefere fazer isso de uma só vez, por meio de um acordo com o novo dono, o sócio Casino. Mas caso nenhum consenso seja alcançado com o grupo francês, Abilio tem liquidez garantida para a maior parte do patrimônio investido na companhia.
Dos R$ 5,3 bilhões de sua posição na companhia, R$ R$ 3,4 bilhões são em ações preferenciais sem nenhum vínculo a acordos. O empresário tem 21,3% do capital total do Pão de Açúcar. Desse total, mais de 60% são em papéis sem direito a voto, o que dá a ele a liberdade de conseguir levantar dinheiro na bolsa, sem perder nenhum dos direitos que possui. Todos seus poderes na companhia, como a presidência do conselho de administração e seus vetos, estão atrelados às ações ordinárias que estão abrigadas na holding controladora Wilkes - na qual também estão as ordinárias do Casino.
Abilio nega, por meio de sua assessoria de imprensa, que esteja estudando ou mesmo que tenha a intenção de vender as preferenciais. Mas a possibilidade de que isso ocorra já começa a ser considerada até mesmo pelo Casino. A condução de uma iniciativa neste sentido teria de ser feita pela Península, veículo dos investimentos da família Diniz.
A despeito do momento ruim para ofertas de ações no mercado brasileiro - e global - o Pão de Açúcar vive uma boa fase com os investidores, e portanto, há uma oportunidade para uma colocação de papéis. Desde o fim de setembro, a ação ronda as máximas na BM&FBovespa, acima de R$ 90. Ontem, fechou o pregão valendo R$ 95,50 - o teto foi registrado no dia 8 de outubro, a R$ 98,19. O momento, portanto, seria favorável a uma operação deste tipo.
Como possui mais de R$ 5 bilhões em valor de mercado em circulação na bolsa, o registro para uma oferta de ações da companhia poderia ser obtido de forma expressa, conforme as regras da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) - cinco dias úteis.
Para Abilio, esse movimento é alternativo à venda de sua parte ao Casino. Ele possui direito de saída garantido para as ordinárias, mas não para as preferenciais. As conversas mantidas com o grupo francês consideram as duas classes de ações.
Colocar as preferenciais num pacote só, com as ordinárias, seria bom para ambos os envolvidos, apesar de encarecer a transação. De um lado, Abilio pode conseguir um preço melhor para tudo, o que inclui as 61 lojas físicas que possui, alugadas pelo Pão de Açúcar.
Além disso, se permanecer em Wilkes, Abilio fica sem margem para tentar negociar o uso do dinheiro que poderia levantar numa oferta para de alguma forma atuar no setor de varejo - pois há uma cláusula que o impede de competir com o Pão de Açúcar.
Para o Casino, faria sentido negociar o pacote todo justamente para antecipar a saída de Abilio. Caso contrário, como o grupo de Jean-Charles Naouri justificaria comprar antes o que já tem garantido o direito de comprar depois e com desconto?
A despeito da lua de mel na BM&FBovespa, o Pão de Açúcar vive uma fase de tumulto entre os sócios. De um lado, Abilio ainda está se acomodando na posição de minoritário. E não veria sentido em continuar acionista de uma companhia em que não compartilha a condução estratégica. Por isso, ainda há grande desconforto na convivência com o Casino como alguns episódios recentes deixaram transparecer.
Além disso, na controlada Via Varejo, de eletroeletrônicos, e que reúne Ponto Frio e Casas Bahia, o clima entre os sócios também não anda produtivo. A família Klein, que ficou com 47% da empresa, está questionando - pela segunda vez, mas por motivos diferentes - as condições em que o acordo foi feito no passado.
Veículo: Valor Econômico