GPA discute estatuto em meio a um novo racha entre famílias

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O ano mostra-se conturbado à maior varejista do País, o Grupo Pão de Açúcar (GPA) que hoje enfrenta mais uma etapa: a mudança de seu estatuto em meio a um novo racha promovido pelas famílias Klein e Safra. Controlada desde o dia 22 de junho pela holding Wilkes, sob a presidência do empresário francês Jean-Charles Naouri, do grupo Casino, a empresa, ao que tudo indica, poderá enfrentar uma disputa jurídica complexa e já conta com debate acerca de ações e valores cobrados por outros sócios e antigos donos de bandeiras do grupo.

Apesar disso, as mudanças no estatuto do Pão de Açúcar, solicitadas pelo atual controlador da rede, deverão ocorrer de forma relativamente calma, uma vez que os termos dessas novas regras foram previamente acertados com o presidente do conselho do GPA, Abílio Diniz - filho do fundador da rede supermercadista.

Mesmo que os empresários Diniz e Naouri enfrentem objeções da família Klein, a pauta prevista a respeito das mudanças no estatuto não deve ser alarmante, por já ter sido acertada previamente. A reunião provavelmente trará à empresa um novo vice-presidente ao conselho administrativo - sendo o indicado Arnauld Strasser, homem de confiança do também presidente do Casino -, dois novos comitês estão previstos: de governança e de auditoria. Há, ainda, a previsão de uma nova forma de convocação para as reuniões entre os conselheiros.

Fundadores da rede de varejo de eletroeletrônicos Casas Bahia, os Klein desde o começo desta semana mostram-se dispostos a proteger seu patrimônio, uma vez que os rumores apontam que Abílio Diniz deixa por definitivo o Grupo. Afinal, a ViaVarejo, holding que administra também o Ponto Frio e as operações de vendas on-line (e-commerce) da Novaponto.com, seria a moeda de troca. Por carta enviada ao GPA, os Klein estipularam 30 dias (para não chegarem a uma câmara arbitral) para que os sócios majoritários voltem a discutir a divisão das ações que envolveram as negociações em 2010, quando os mesmos, venderam parte da participação ao grupo. Os Klein alegam que o valor do Ponto Frio teria sido "inchado", depois de auditoria feita pelas empresas Ernst&Young e KPMG, em detrimento ao da Casas Bahia. Isso é o que resultaria da divisão diferente das ações. Atualmente, o GPA detém 53% da empresa, enquanto a família Klein possui 47%.

Não é de hoje que a Casas Bahia contesta a forma como tem sido administrada. Anteriormente, analistas afirmaram ao DCI que todas as especulações, sendo as mais recentes a recompra da bandeira pela família Klein, de certa forma mostram o descontentamento dos empresários com a gestão. Uma das explicações seria a perda das características da marca, como vender ao público de classe C, e hoje isso estaria meio distorcido perante o público consumidor. O GPA respondeu à carta dos Klein com um comunicado, em que afirmam que todo o processo que envolveu as empresas foi feito de forma concisa para evitar futuros problemas - como o visto agora.

E em tom de repúdio, a empresa afirmou que: "No documento mencionado pelos assessores da família Klein não há menção a inconsistências ou erros nas demonstrações financeiras da Globex (ViaVarejo). Neste sentido, o uso de informações preliminares, descontextualizadas, assim como qualquer conclusão ou especulação a seu respeito é inconsequente". O Casino e a Wilkes não se manifestaram em nenhum momento sobre o assunto, mas fontes do setor afirmam que o grupo francês acatará e apoiará as decisões tomadas pelo presidente do Pão de Açucar, Enéas Pestana. "O grupo Casino apoiará integralmente as decisões do presidente do GPA", disse.

O processo em câmara arbitral não está confirmado, mas, segundo Marcos Fioravanti, advogado e sócio da Siqueira Castro Advogados, se não houver um encontro, ou, como os Klein querem, uma nova negociação na divisão das ações, não haverá outra forma de resolver o problema. "A meu ver, o caminho absolutamente natural no caso da disputa entre os Klein e o GPA, se não houver solução amigável, é a situação ser definida via comitê arbitral", explicou o especialista.

Não é este o primeiro caso em que os executivos do GPA se envolvem em uma disputa arbitral. O primeiro processo foi entre Abílio e Naouri, sobre a tentativa do empresário brasileiro de comprar a também rede francesa Carrefour, no ano passado. A partir desse fato, o desafeto entre os empresários ficou evidente e, desde então, a saída definitiva de Abílio Diniz do Grupo tem sido a meta de seu sócio francês.

Outro fato a ser destacado é que, há menos de cinco meses, a empresária Lily Safra, ex-proprietária da rede Ponto Frio, abriu um processo na Câmara de Comércio Internacional (CCI). A ideia é questionar o valor que foi pago pela empresa há quatro anos, em 2009. A empresária alega que o Pão de Açúcar descumpriu cláusulas do contrato de venda. Ela questiona os valores da transação. O processo ainda corre no exterior, e não tem previsão de término.



Veículo: DCI


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