Naouri quer proposta "viável" de Abilio

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Jean-Charles Naouri, dono do Casino, devolveu a batata quente sobre o futuro do Grupo Pão de Açúcar (GPA) para Abilio Diniz, hoje sócio minoritário da empresa. Encaminhou ontem uma resposta ao brasileiro na qual afirma que desde a última reunião em Paris, em 25 de junho, nunca recebeu "algo concreto e viável".

"As ideias trazidas por seus assessores têm como objetivo reescrever a história e nunca reconheceram que temos um contrato vinculante que prevê um contexto claro para sua saída", diz Naouri.

O posicionamento do agora controlador isolado do Pão de Açúcar é uma resposta à carta enviada por Abilio no domingo, pedindo uma definição sobre as negociações para sua saída do grupo.

Desde 22 de junho, conforme previsto no contrato fechado em 2006, Abilio é minoritário da companhia fundada por seu pai. Tem em suas mãos 19% das ações ordinárias da empresa e 22% das preferenciais (num total de 55 milhões de ações), além de 61 lojas físicas pelas quais recebe aluguel anual equivalente a 2% das vendas brutas dessas unidades - cerca de R$ 165 milhões ao ano. Tem ainda direitos de veto e a presidência vitalícia do conselho de administração. Sua saída também já está prevista com um direito de venda para as ações ordinárias (sem liquidez em bolsa), que pode ser exercido entre 2014 e 2022.

Na carta, Naouri diz: "Ao passo que nos mantemos abertos a ouvir uma proposta que atenda aos interesses do GPA, Casino e todos os seus acionistas, eu reitero que não aceitaremos negociar sob pressão e ataques, e que não vamos tolerar qualquer comportamento cujo único propósito seja criar confusão e perturbar a companhia."

Com essa resposta, o Casino sinaliza que não considerou uma formalização suficientemente forte a carta de Abilio. Quer mesmo ver uma proposta oficial e com todos os pontos pendentes já com solução encaminhada. Enquanto o sócio francês diz estar numa situação confortável (a despeito de manter a negociação), Abilio assumiu seu desejo de sair da companhia, após sua tentativa frustrada de combinar o rival Carrefour às operações do Pão de Açúcar.

Tudo indica que o clima entre os sócios, mesmo mais de um ano depois desse episódio, é quase de uma insuperável desconfiança. A despeito de terem mantido conversas nos últimos cinco meses e terem desenvolvido, em conjunto, um modelo para a saída de Abilio, ambos os lados acreditam estar participando de um jogo de cena.

Os dois - Naouri e Abilio - esperam do outro o pior. E está muito difícil que um consiga dissuadir o outro dessa percepção negativa.

Depois de terem desenvolvido um modelo de operação que seria de interesse de ambos os lados, e que o Valor antecipou ontem em detalhes, os envolvidos começam a apontar que o outro lado poderia querer, na verdade, uma transação toda em dinheiro. Contudo, nem Casino e nem Abilio afirmam oficialmente preferir uma operação que não seja troca de ativos.

Na carta a Naouri, Abilio se mostrou preocupado sobre que papel deve assumir: o de negociador de sua saída ou, exclusivamente, o de presidente do conselho de administração da empresa. Mas não conseguiu a resposta que queria.

O que estava na mesa era que Abilio entregaria 40 milhões de ações (entre ordinárias e preferenciais, ou 73% de sua fatia) mais as lojas que detém para lançar uma proposta pela Via Varejo e pela Nova Pontocom. A oferta seria simultânea ao Casino e à família Klein, que tem 47% da Via Varejo.

Porém, o Casino vem manifestando que não considera esse modelo viável pelos detalhes e condicionantes que possui. Seriam três os pontos cruciais: a dependência da aceitação da família Klein, o desejo de Abilio de ficar com a sede da companhia (loja inicial da rede) e antecipar o fim da cláusula de não competição que hoje tem no acordo com o sócio francês.

Esses pontos vinham sendo tratados entre as partes até que o negócio estancou há cerca de três semanas.

A carta de Abilio assume seu desejo de sair do Pão de Açúcar, caso o Casino manifeste compromisso em manter a negociação. "Com objetivo de mais uma vez demonstrar que estamos discutindo de boa fé e negociando mantendo em consideração o que também é bom para o GPA, escrevo para assegurar que estamos preparados para nos engajar imediatamente para alcançar um acordo final e assinar um contrato vinculante", diz.

O efeito da carta de Abilio, entretanto, foi prejudicado pela sua tentativa de participar de uma reunião de planejamento estratégico sobre o Pão de Açúcar realizada na sede do Casino, em Paris, na segunda-feira. O empresário foi barrado e, por conta disso, os sócios trocaram duros e-mails. A situação contaminou, inclusive, a resposta de Naouri sobre as negociações.

No fim da noite de ontem, Abilio soltou nota afirmando que "sempre cumpriu os contratos firmados e continuará cumprindo". Segundo ele, não há qualquer intenção de reescrever a história.



Veículo: Valor Econômico

 


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