Na sexta-feira, quando vai ocorrer a reunião do conselho de administração do Grupo Pão de Açúcar, Abilio Diniz e Casino, sócios no grupo, se encontram com riscos de novos desentendimentos sérios. Dois temas devem, novamente, colocá-los em posições opostas: a proposta de migração do GPA para o Novo Mercado, grau máximo de governança na BM&FBovespa, e a questão do regimento interno do comitê de governança corporativa. Presidente do conselho, Abilio enviou na sexta-feira a pauta da reunião aos conselheiros, com 13 pontos a serem votados, em que propõe discussão sobre a entrada da empresa no Novo Mercado. Ele já havia trazido o tema na reunião do órgão em setembro. Ontem, o Casino informou, em carta, que é contra a ideia desse debate neste momento. Desde junho, o Casino, com sede na França, controla o GPA, a maior varejista do Brasil.
Segundo interlocutores, o sócio francês entende que Abilio poderia levantar essa discussão como acionista minoritário e não como presidente do conselho. E que isso teria que ser tratado no âmbito da Wilkes Participações, holding da empresa, e não numa reunião de conselho. Interlocutores de Abilio dizem que a empresa é o objeto do estudo, e o assunto, portanto, tem que ser trazido a uma reunião da companhia. Abilio escreveu aos conselheiros em carta datada de sexta-feira: "Minha sugestão é de que os resultados e conclusões dos estudos sejam apresentados ao conselho de administração da companhia, no prazo de 60 dias". O Casino respondeu ontem que, "como acionista controlador [...] não está considerando, neste momento, a migração [...]. A fim de evitar qualquer especulação e eventual manipulação de mercado com valores mobiliários de emissão da companhia, solicitamos que V.Sas tornem público com a maior brevidade o inteiro teor dessa correspondência".
Na noite de ontem, Abilio voltou a se posicionar: "Trata-se de um pedido de estudo e o item será mantido na pauta, pois, enquanto presidente do conselho de administração do GPA, Abilio entende que essa discussão se faz necessária visando o melhor interesse da companhia", informa em nota.
Até hoje, não se trouxe à mesa, seriamente, o assunto do Novo Mercado para o GPA. Fonte ligada aos franceses diz que Abilio era o controlador até este ano, e a ele não interessava a discussão. Hoje interessaria, diz o Casino - nesse grau de governança, as ações preferenciais (sem direito a voto) são transformadas em ordinárias (com direito a voto). Abilio diz aos mais próximos que até então não havia tratado do assunto porque, se o fizesse, o Casino poderia acusá-lo de "golpe", por trazer o tema antes da transição de controle na empresa. Até três semanas atrás, os dois sócios negociavam a saída de Abilio do grupo. Mas as conversas pararam e não há clima para um recomeço, concordam os sócios.
Na sexta-feira os conselheiros também vão votar a proposta do regimento do novo comitê de governança do GPA, elaborada pelo Casino. O regimento fala em "zelar pelo bom funcionamento entre diretoria, conselho e órgão auxiliares e destes com os acionistas". Esse ponto é visto como um problema para Abilio. Na visão dele, o regimento bate de frente com a sua função de presidente do conselho da empresa, ou seja, fazer a ponte entre esses três vetores. Para o Casino, não há no regimento aspectos conflitantes com a função do sócio, e o documento trata de "opinar" e se "manifestar", e não intervir, discorda o sócio. Outro artigo que dá ao comitê o direito de examinar livros e documentos sociais também não agrada nada a Abilio.
Na sua proposta de pauta aos conselheiros, Abilio se autoindica para ocupar vagas nos comitês de governança, de recursos humanos (RH) e financeiro do Pão de Açúcar. Em relação às autoindicações, o Casino não deve levantar objeções. Quanto ao comitê de governança, não está claro de que ele tenha direito a uma vaga. Para o sócio brasileiro, como presidente do conselho, ele deve ocupar uma vaga no comitê.
Veículo: Valor Econômico