Impacto da hiperconcorrência foi sentido na queda de preços e na melhoria do atendimento
Preços mais baixos, maior variedade de produtos, investimento em propaganda, mudança no horário de funcionamento, atenção no atendimento, eletrodomésticos nas prateleiras são algumas das novidades que chegam nas cidades de pequeno e médio portes com a hiperconcorrência. Mudanças sensíveis não só nos hábitos dos consumidores, mas na reação das redes regionais de varejo.
Hortolândia, cidade com 192 mil habitantes no interior de São Paulo, ganhou o primeiro hipermercado de rede com a inauguração do Walmart, em 2011. "Sempre ia para Campinas, pelo menos uma vez por mês, quando queria algo mais variado, um eletrodoméstico, itens que os supermercados daqui não tinham. Com a chegada do Walmart, passei a fazer tudo aqui em Hortolândia", conta a funcionária pública Elisabete de Paula, 41 anos.
A chegada do hipermercado alterou completamente sua rotina de compras. Ela trocou a rede local onde fazia compras, há menos de um quilômetro de casa, pelo Walmart. "O Walmart obrigou redes locais, com o GoodBom, a melhorar o atendimento, a mudar a forma de exposição de suas mercadorias e, principalmente, a baixar os preços", afirma Elisabete. Ela faz as compras da casa, onde vive com o marido e três filhos, semanalmente e, por isso, diz ter o melhor termômetro de preços.
"Eu era cliente de uma dessas redes, mas desde que inaugurou o Walmart passei a fazer compras aqui. Além dos preços e da variedade, tem a vantagem no shopping", diz Elisabete - o hipermercado está dentro do único shopping da cidade.
O GoodBom, citado, por Elisabete, é um dos grupos criados na região de Campinas que dominavam o mercado local até a chegada das grandes redes, dividindo espaços com empresas comerciais familiares. O GoodBom se prepara para abrir a segunda loja na cidade e a sétima do grupo.
Sede de grandes empresas, como Honda, IBM e Dell, Hortolândia era uma cidade-dormitório de Campinas que cresceu rapidamente. Com isso, aumentou também seu potencial de consumo. Em 2005, a renda média per capita era de R$ 870. Em 2012, já era de R$ 2 mil. O total de estabelecimentos comerciais subiu de 1.599 para 2.681 em igual período. "Vendemos para todo público e para todos os bairros. Inclusive moradores de Sumaré", diz o diretor da loja do Walmart Hortolândia, Luis Ricardo Claro, referindo-se à cidade vizinha.
Fiado. Flávio Ortolani, de 46 anos, é dono do supermercado Santa Terezinha, fundado em 1973 pelo pai, que chegou do Paraná em busca de melhores negócios em Sumaré(SP). Hoje, o mercado Santa Terezinha é referência no bairro, às margens da avenida que dá acesso à cidade, onde seus dois filhos nasceram. Não falta nada: tem açougue, padaria, área de vinhos, perfumaria e atendimento personalizado. A menos de 500 metros dali, será inaugurado no próximo mês o primeiro hipermercado do Walmart na cidade.
Ortolani garante que o gigante não tira seu sono. "Não vamos perder venda. Nossa clientela é outra. Aqui vendemos para moradores do bairro e além de tudo, aceitamos cheque, fazemos fiado", afirma o proprietário. A opinião é a mesma do presidente da Associação Comercial e Industrial de Sumaré, Cláudio Padovani. "Os hipermercados só acrescentam."
Para Marcos Livato, executivo da rede PagueMenos, que nasceu na região e tem 19 lojas em dez cidades, a chegada das grandes redes profissionaliza o varejo local. "Podemos perder cliente no começo, mas essa presença melhora o mercado."
Veículo: O Estado de S.Paulo