Cencosud acirra disputa com Wal-Mart e Casino

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A Wal-Mart Stores Inc. e a Casino Groupe SA são gigantes na América do Sul, mas uma varejista local de menor porte, a Cencosud SA, está no encalço de ambas.

Em setembro, quando o varejista francês Carrefour SA estudava a venda de sua unidade na Colômbia, o fundador da Cencosud e presidente do conselho, Horst Paulmann, decidiu se colocar entre os interessados na compra. O bilionário de origem alemã foi até Paris para conversar diretamente com os líderes do Carrefour e evitar as longas negociações que são comuns quando há intermediários.

A iniciativa valeu a pena: em 18 de outubro, a Cencosud anunciou o acordo, pelo qual pagaria US$ 2,6 bilhões pelos ativos, que incluíam 72 hipermercados, 16 lojas de conveniência e vários postos de combustível. Com a compra - que também estava sendo analisada pela Wal-Mart, segundo pessoas a par do assunto -, a rede varejista chilena rapidamente se tornou a segunda maior operadora de supermercados da Colômbia em vendas. A Colômbia é o segundo país mais populoso da América do Sul, após o Brasil.

"Era uma oportunidade única, tínhamos que aproveitar", disse Paulmann a jornalistas após o fechamento do negócio.

A Wal-Mart não quis comentar sobre o acordo.

Graças ao negócio com o Carrefour, que se seguiu a uma série de aquisições iniciada em 2007, a Cencosud tem hoje cerca de 1.045 supermercados na América do Sul, superando a Wal-Mart, dona de aproximadamente 950 unidades na região. No Brasil, a Cencosud é dona das redes GBarbosa, Perini e Bretas, entre outras.

O mercado varejista na América do Sul tem sido dominado por empresas americanas e europeias durante anos, mas a Cencosud - que tem entre seus ativos a rede de supermercados Jumbo, a loja de departamentos París e a rede de materiais de construção Easy - se tornou a terceira maior do setor em vendas, aproximando-se das líderes Wal-Mart e Casino.

Tendo estreado na Bolsa de Nova York em 2012, a Cencosud é hoje "a maior empresa regional do setor", diz Carlos Hernández, da pesquisadora Planet Retail.

Analistas dizem que a Cencosud reconheceu cedo o potencial da América Latina para o modelo de hipermercados, que oferece produtos como roupas e eletrônicos junto com alimentos. Suas lojas também são conhecidas por toques pessoais que visam atrair a crescente classe média, como especialistas para ajudar nas compras de carne e queijo.

Paulmann, o mais velho de sete irmãos que deixaram a Alemanha ao fim da Segunda Guerra Mundial, chegou ao Chile aos 16 anos e trabalhou em um restaurante da família nos anos 50. O restaurante se tornou um supermercado administrado por Paulmann, que abriu o primeiro hipermercado no Chile em 1976.

Paulmann, que ainda conserva um forte sotaque alemão, tem um estilo de gestão de profundo envolvimento com o negócio, que alguns consideram obsessivo. Ele frequentemente visita as lojas e muda os produtos de lugar, segundo ex-empregados.

A Cencosud faturou cerca de US$ 15 bilhões em 2011, US$ 19,3 bilhões em 2012 e prevê uma receita de US$ 22,5 bilhões em 2013. No ano passado, o lucro líquido caiu 1,6% ante 2011, para 269,96 bilhões de pesos chilenos (US$ 571 milhões).

A Wal-Mart não divulga os seus dados por região.

A Casino tem 2.143 lojas sob diferentes bandeiras na Argentina, Brasil, Colômbia e Uruguai e suas vendas somaram 19,25 bilhões de euros (US$ 25 bilhões) na América do Sul em 2012.

A mesma determinação que Paulmann demonstra em uma negociação também pode levá-lo a passar como um rolo compressor sobre quem se opõe a ele na empresa, dizem pessoas a par do seu estilo de gestão.

A empresa também tem que acalmar acionistas e credores quanto ao nível de endividamento. A transação colombiana elevou sua dívida líquida para cerca de US$ 6,3 bilhões, 4,2 vezes o lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização (Lajida), relação usada para avaliar o fluxo de caixa de uma empresa.

"A dívida não me preocupa", disse Paulmann após a compra. A família Paulmann detém 60,8% da Cencosud, que abriu capital em 2004 e tem valor de mercado de cerca de US$ 16 bilhões.

Para pagar a compra na Colômbia, a empresa emitiu um total de US$ 2,7 bilhões em dívida. Várias agências de avaliação de risco a colocaram em revisão para rebaixamento, dependendo de sua capacidade de reduzir dívidas. A empresa informou recentemente que espera reduzir a relação dívida líquida/Lajida para três até o fim do ano.

Paulmann recusou pedidos de entrevista.




Veículo: Valor Econômico



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