A família Klein informou o Grupo Pão de Açúcar sobre o interesse em fazer a oferta pública de ações da Via Varejo, maior rede de varejo eletroeletrônico do país, controladora de Casas Bahia e Ponto Frio, apurou o Valor. O GPA foi informado da decisão dos Klein na sexta-feira. Segundo a carta enviada ao comando do GPA, os Klein declaram que querem vender, numa oferta secundária, 53.781.298 ações ordinárias de propriedade do Grupo Casas Bahia, sócio minoritário com 47% das ONs da Via Varejo. Uma oferta primária de ações também deve ocorrer. Pelo acordo de acionistas de 2010, as duas ofertas devem ser simultâneas. O Bradesco BBI é o coordenador da oferta, contratado pelos Klein.
Os bancos Bradesco, BTG Pactual e Goldman Sachs já fizeram, a pedido da família, uma avaliação do valor de mercado da Via Varejo, que varia de R$ 10 bilhões a R$ 12 bilhões, a depender da análise. O Pão de Açúcar também já tem seus cálculos, que ficam na mesma faixa, feitos por Credit Suisse e Santander. Fontes próximas à família entendem que esse movimento pode ser o primeiro de saída definitiva dos Klein da empresa, e outras vendas de ações podem ocorrer. Os Klein teriam negado a possibilidade a uma fonte próxima.
A venda de 53,8 milhões de papéis ordinários representa 35,46% das ações que os Klein tem em Via Varejo, ou seja, pouco mais de um terço do total de papéis nas mãos da família. Esse número ainda representa 16,66% das ações do grupo, que ao ser colocado no mercado - apenas o lote dos Klein - elevará consideravelmente o free float da empresa (ações negociadas em bolsa), de 0,6% para 17,2%. Internamente, os sócios consideram esse o IPO da empresa.
Pelo acordo fechado entre GPA e a família Klein na época da formação da Via Varejo, os fundadores da Casas Bahia ou o GPA poderiam fazer uma oferta secundária após o 11º mês de vigência do acordo assinado em julho de 2010.
Com base na avaliação do valor máximo pelos bancos, de R$ 12 bilhões, pelo total de ordinárias, hoje, com base no preço de R$ 37,18 da ação, chega-se a uma oferta da ordem de R$ 2 bilhões. Com baixíssima liquidez, os papéis da empresa fecharam em R$ 23 na sexta-feira, sem variação em relação aos dias anteriores. Ao se calcular o valor com base na avaliação de R$ 10 bilhões, a ON ficaria cotada em R$ 31, numa oferta de R$ 1,66 bilhão.
Há uma oferta primária a ser definida pelo GPA - com preferenciais ou ordinárias - e ainda a venda de lotes suplementares. Pelo acordo, uma oferta secundária terá de ser seguida por outra primária, "tendo por objeto um número de novas ações a serem emitidas pela companhias, representativas de no mínimo 10% de seu capital total". Essa fatia de 10% correspondia, com base no preço das ONs na sexta-feira, a R$ 740 milhões. Para não ter sua participação diluída, o GPA terá de subscrever ações nessa oferta.
Os Klein já informaram na carta enviada ao GPA, assinada por Michael Klein, presidente do conselho da Via Varejo, que tem a intenção de aumentar em 15% a quantidade de ações inicialmente ofertada como lote suplementar e em elevar em 20% o volume ofertado como lotes adicionais.
O acordo de 2010 define que os Klein podem alienar numa oferta um número de ações vinculadas na proporção de 1,5 de ações do Grupo Casas Bahia para cada 1 ação emitida pelo GPA na oferta primária. E não for viável nessa proporção, a relação ficará em 1 para 1, nunca abaixo de 1.
O Pão de Açúcar deve confirmar o interesse dos Klein para a Comissão de Valores Mobiliários nos próximos dias. A companhia tem 30 dias após o requerimento enviado pela família para discutir a questão internamente, informar o volume da oferta primária e a parcela subscrita.
É uma mudança drástica naquilo que, até então, vinha sendo comentado no mercado. Até poucos meses atrás, os Klein estariam negociando a compra do controle de Via Varejo, por meio de um acordo com bancos, Bradesco e Citi, que iriam financiar a aquisição do controle da empresa. Ocorre que, com base nos cálculos dos bancos, a família entendeu que o ganho financeiro com uma oferta poderia ser bem mais interessante neste momento, considerando especialmente a expectativa de crescimento de Via Varejo a curto prazo - que pode atrair interessados no papel da empresa.
A Via Varejo começa a entregar melhores resultados, com aumento de rentabilidade e redução de despesas, algo cobrado pelo mercado há meses.
A família Klein e o Pão de Açúcar não comentaram o assunto.
Veículo: Valor Econômico