Como o Sul do país criou as lojas mais rentáveis

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Elas sobreviveram às pressões para a venda do negócio nos anos 90, vão na contramão do discurso de que loja boa é loja pequena e abrem poucas unidades ao ano, duas a três, no máximo. E não gastam pouco - os investimentos tem chegado a R$ 50 milhões por loja, o mesmo que o Grupo Pão de Açúcar gasta em praças caras, como São Paulo. Nesse contexto, elas ainda têm entregado resultado. As redes de supermercados e hipermercados do Sul do país têm alcançado alguns dos melhores indicadores de eficiência e produtividade do varejo alimentar no Brasil - negócio de vendas altas, mas margens raquíticas.

As redes Zaffari, Muffato, Condor e Angeloni são hoje quatro das dez maiores varejistas de supermercados e hipermercados do país e a maioria delas registrou alta no faturamento por metro quadrado em 2012, principal indicador de produtividade. Essa taxa ficou cresceu entre 9% a 17% no ano passado, a depender da empresa, na comparação com 2011, quando o índice girava em torno de 10% a 12%, segundo ranking geral da Abras, associação do setor. Nesse grupo estão Zaffari, Condor e Muffato. A taxa de 2012 representa duas a três vezes o índice verificado nas líderes de mercado, Pão de Açúcar e Walmart.

"São redes que estão confortáveis onde estão. Elas crescem, mas não se expandem porque não precisam sair de sua zona de conforto para ganhar escala a qualquer custo. Parte do segredo está no apelo da regionalidade. Muitas vezes, só quem dá certo no Sul é a rede que já nasceu no Sul", diz Manoel Araújo, sócio-diretor da Martinez de Araújo Consultoria de Varejo, executivo que fez carreira nessa área.

São companhias que crescem acima da média do Brasil, e isso explica em parte o indicador faturamento/metro quadrado. Sétima maior rede de supermercado do Brasil, a Condor Super Center cresceu 23% em 2012, alcançando receita bruta de R$ 2,6 bilhões, e espera alta "acima de 20%" em 2013, diz Pedro Zonta, presidente da empresa. São 35 lojas da companhia e a meta é abrir dois a três pontos por ano, em média, até 2016. Não são tantas unidades em relação aos líderes do setor - o Walmart abriu 26 pontos em 2012, segundo a Abras -, mas são megalojas.

"O que fazemos é vender para o mesmo cliente quantidades maiores de produtos", diz Zonta. "Pelos nossos cálculos, numa loja grande com 40 mil itens, o consumidor compra duas vezes mais que numa loja de 12 a 15 mil itens", afirma o presidente da varejista Condor, que planeja investir neste ano R$ 50 milhões para abrir um hipermercado de 41 mil metros quadrados em Joinville (SC) - duas vezes o tamanho médio de um hipermercado na capital paulista. "Preferimos cidades onde não há hipermercados ainda, e de preferência em locais que 'puxem' consumidores de cidades vizinhas", afirma.

O aumento de renda disponível em alguns municípios do Sul, como reflexo da boa safra em grãos 2012/2013, ajuda a sustentar esses números. A soja tem o maior crescimento esperado na produção brasileira de grãos, com alta esperada de 22%, e o Sul é uma das principais regiões produtoras. "A pecuária e a criação de aves também têm reforçado a expansão da economia local", diz Eduardo Muffato, diretor da rede Super Muffato, que cresceu 20% em 2012, segundo a Abras. A empresa planeja abrir quatro lojas em 2013, mesmo número de 2012, e ontem inaugurou um novo caixa de autoatendimento numa loja de Curitiba.

"Além dos números positivos da safra, que aumentam a renda disponível, o Sul tem uma das mais baixas taxas de inadimplência no país e um perfil de consumo particular", diz Antônio Cesa Longo, presidente da Associação Gaúcha de Supermercados. "Ao contrário de outras regiões, no Rio Grande do Sul os hipermercados são o principal canal de vendas de material escolar."

A fidelidade dos clientes às lojas que se originaram nos Estados do Sul ajuda a explicar, em parte, os altos volumes de venda. Quem foi para a região e veio de fora, nem sempre teve os resultados esperados. Em 2005, os portugueses do Sonae venderam a rede BIG, do Sul, alegando altos custos de investimento e baixa rentabilidade na época. "Há uma preferência maior dos clientes pelas lojas da região", diz Araújo. As gôndolas dos supermercados são cheias de produtos de marcas locais e há clientes fiéis. "Um ajuda o outro. A loja privilegia as marcas locais e a indústria regional vende para a loja por bons preços", diz Longo.

Segundo José Augusto Fretta, presidente da rede Angeloni, de Santa Catarina, 70% do faturamento da empresa vem de clientes que fazer parte do Clube Angeloni. Neste ano, a empresa fechou uma parceria com a Dotz, que opera seu programa de fidelidade. "Percebemos que aqui, o consumidor gosta e se envolve com esses programas", disse o presidente da rede, que no fim dos anos 90 teria sido assediada pelo Pão de Açúcar, interessado em sua compra.

A família controladora não vendeu o negócio e tomou a decisão de ganhar mercado na sua área de atuação, para ampliar escala, conseguir se manter no jogo, e não ser engolido pelos líderes de mercado. Com 26 lojas (abre de duas a três por ano), registrou um baixo crescimento em 2012, de 2%, porque acabou inaugurando os pontos previstos no fim do ano. Para 2013, a previsão é alcançar receita de até R$ 2,5 bilhões, alta de 13% em relação a 2012. "Não temos porque sair daqui se está dando certo", diz Fretta.



Veículo: Valor Econômico


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