Os consumidores gaúchos estão mais seletivos nas compras domésticas, adquirindo menor volume de produtos e optando por preços mais baixos. Segundo a Associação Gaúcha de Supermercados (Agas), o número de visitas aos estabelecimentos caiu 3% desde julho, as aquisições passaram a ser mais conservadoras, com prioridade aos itens básicos de alimentação, higiene e limpeza. “As pessoas não estão abrindo mão da qualidade, mas sim da quantidade dos produtos”, pontua o presidente da entidade, Antonio Cesa Longo. No período, o ticket médio aumentou em 3%, em vista de que o tempo de retorno às lojas está mais espaçado. “Os gaúchos estão mais conscientes de sua realidade, e fazem uma seleção na hora de gastar”, opina Longo.
Na Capital e Região Metropolitana, clientes de pequenas e médias empresas supermercadistas, ligadas às centrais de compras, por exemplo, têm se deslocado aos estabelecimentos apenas em dias de ofertas de promoção nos preços. “Mudou o cenário. Agora o consumidor espera para comprar quando há ofertas”, garante a diretora administrativa da rede Unimax, Valéria Silva Machado. A postura é uma reação às taxas de inflação (IPCA) – que em agosto acelerou para 0,25%, de acordo com o IBGE – e à elevação dos juros no decorrer do ano, afirma o presidente do Movimento das Donas de Casa e Consumidores do Rio Grande do Sul, Cláudio Pires Ferreira.
“É a lei da oferta e da procura: somente reduzindo o consumo é que se vai conseguir que caiam os preços dos produtos”, destaca Ferreira. Ele aponta que o comportamento que se vê nos supermercados “nada mais é” que um reflexo do que está acontecendo nos demais segmentos da economia. De acordo com o presidente da entidade que representa os consumidores, o atual movimento das famílias é resultado do grau de endividamento ou da maior cautela quanto aos rumos da economia. “A curto prazo, não se vê mudança neste cenário, pelo menos até o final do ano”, completa Ferreira.
Além de escolher artigos com preços mais baixos, o consumidor gaúcho está suspendendo a compra de produtos considerados supérfluos. Longo afirma que a maioria das pessoas ainda compra o produto de preferência, sem trocar pela marca mais barata, optando por abrir mão de levar itens como vinho, chocolates e frutas, cuja sazonalidade eleva o valor do quilo, e produtos da cesta básica que sofrem maior oscilação de preços, como a carne. Isso já está fazendo diferença nos cofres dos supermercados, admite o dirigente. A previsão de crescimento do setor baixou praticamente para a metade dos índices mais recentes, ficando em 2% a 3% de expansão real neste ano, em função do acumulado do primeiro semestre. Para o Natal, o preço das aves preocupam, em vista de que os insumos novamente aumentaram. “O consumidor está fazendo as contas, e as empresas estão se adequando como podem”, garante Longo, anunciando um “achatamento de preços nas lojas”.
A percepção da mudança de perfil de consumo levou a central de compras Unimax, que reúne 110 supermercados no Estado, tomar a iniciativa de investir “pesado” no setor de negociações. “Estamos ampliando nossa estrutura física e melhorando nosso sistema para integrar lojistas, reunindo informações precisas sobre os produtos mais vendidos e a relação com o preço”, avisa Valéria.
Veículo: Jornal do Comércio - RS