O número de linhas habilitadas de telefonia celular cresce mais de 10% ao ano. Há 224 milhões de aparelhos no Brasil, quantidade superior à de habitantes. O avanço tecnológico seduz o consumidor a trocas constantes de aparelhos em busca de novas funções para seu telefone móvel. Essa é uma das facetas do problema do lixo doméstico descartável que se tornou responsabilidade da indústria, do varejo e dos municípios com a Política Nacional de Resíduos Sólidos.
Em pouco mais de um ano, projetos para o recolhimento de celulares, pilhas, baterias, televisores usados, entre outros equipamentos eletrônicos, e também de medicamentos passaram a facilitar o descarte dos produtos pelo consumidor. Boa parte das iniciativas, no entanto, se concentra nas capitais e em grandes centros. A expansão das ações esbarra no custo da logística reversa que envolve, além da coleta, o transporte, a reciclagem e a incineração do material.
"A lei federal é objetiva e tem poder de mudar o cenário. Sua implementação no país é lenta porque o Brasil tem grande dimensão. A regulamentação estadual é que efetivamente dará resultado", diz o diretor executivo da Associação Brasileira de Empresa de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelp), Carlos Silva Filho. "Além da dimensão do país, há muitas exigências, como o cumprimento das normas de segurança ambientais e de questões tributárias no transporte do material", diz Guilherme Koga, gerente de logística da Nokia para América Latina.
A Abrelp participa de duas iniciativas com o setor público e privado para o descarte de equipamentos eletrônicos. Uma delas é com a Prefeitura de São Paulo, com a qual iniciou há quase três meses um projeto-piloto que prevê a instalação de pontos de coleta na capital. A outra é com o Grupo Pão de Açúcar que começou com quatro postos fixos nas lojas Extra e que prevê até 2014 instalar postos de coleta nas lojas localizadas em cidades-sede da Copa do Mundo.
"A expectativa é de aumento da demanda por substituição de aparelhos eletrônicos, como TV, DVDs e rádios no período da Copa", explica Filho. O resultado dessas ações nos três primeiros meses superou a expectativa da Abrelp de coletar entre cinco e sete toneladas mensais. "Foram coletadas até agora 40 toneladas, o que dá mais de 10 toneladas por mês", comemora.
Há pouco mais de um ano, a Nokia do Brasil lançou o programa Alô Recicle para a reciclagem de celulares, acessórios e baterias. O projeto iniciou com 41 pontos de coleta em São Paulo, Salvador e Fortaleza que deverão chegar a 300 até o final deste ano. Foram coletados 70 quilos de materiais e encaminhados para a reciclagem. A empresa mantém também pontos de coleta desses equipamentos em parceria com duas redes varejistas: a de lojas de eletroeletrônicos Ramsons, em Manaus, e a de supermercado Y.Yamada, em Belém.
Reciclar celular não é hábito do consumidor no Brasil nem em parte alguma do mundo, segundo Guilherme Koga. "Só 3% das pessoas no mundo e 2% dos brasileiros reciclavam celular em 2008", diz.
A instalação de pontos de coleta nas cidades pode criar na população o hábito de descarte correto. É o que indicam os primeiros resultados dos projetos. O programa Descarte Consciente, da Droga Raia em parceria com o laboratório Medley e a BHS Brasil Health, já arrecadou quase 2 toneladas de medicamentos.
Há planos de expansão para o projeto que começou com 92 postos de coletas e até o final do ano deverá contar com 213 postos espalhados por Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, Estados em que a rede de farmácias está presente. Outro projeto da Eurofarma Laboratórios coletou e incinerou 1,3 tonelada de remédio em um ano.
A iniciativa foi lançada em novembro do ano passado com quatro postos. Hoje, participam do programa 23 lojas no município de São Paulo. "Começamos pela capital paulista porque a região é responsável por 18% das vendas nacionais do setor", explica a diretora de Sustentabilidade e Novos Negócios da Eurofarma, Maria Del Pilar Muñoz.
"O consumidor cobra, está consciente e os projetos vão avançar à medida que houver alianças inter setoriais", diz a gerente de Sustentabilidade do Pão de Açúcar, Ligia Korkes.
Veículo: Valor Econômico