Com o acordo entre a Associação Paulista de Supermercados e o governo estadual para banir o uso de sacolas plásticas - que irá vigorar a partir do dia 25 -, os varejistas da região devem economizar 1,8 bilhão de embalagens por ano, segundo a Apas. O Grande ABC consome o equivalente a 6.730 toneladas de sacos em 12 meses.
À primeira vista, a dúvida seria se as pequenas redes vão aderir à campanha. Contudo, procuradas pela equipe do Diário, elas ressaltaram que pretendem abandonar o uso já na data estipulada. O maior problema será conscientizar o consumidor, habituado a visitá-lo com mais frequência, comprando aos pingados.
Pensando nisso, o sócio dos supermercados mauaenses Nevada, Zaíra 1, Zaíra 2 e Esperança, José Domingos da Silva, reforça que treina os funcionários para orientar os clientes sobre o fim da distribuição. "Teremos faixas e disponibilizaremos sacolas biodegradáveis a R$ 0,19", afirma. Mas ele admite que haverá resquícios do produto nos estoques, para atender os consumidores desprevenidos. "Isso será apenas nos primeiros dias", alerta.
DESCONTO - Já a sócia do supermercado andreense Fenícia, Elaine Furlan Di Martino, prevê maiores dificuldades no início. Isso porque só 3% da clientela - "os mais esclarecidos sobre o meio ambiente" - mantêm o hábito de usar caixas de papelão ou sacolas retornáveis. Ela as vende a preço de custo, por R$ 1,50.
Há anos que ela já oferecia o produto como brinde e percebeu que eram desvalorizadas. "Há acomodação no uso da plástica, mas é necessário que se mude. Fui à Europa em 2008 e vi que não usavam mais. Aqui também será assim", diz.
Os mercados dizem que irão descontar o valor gasto em sacos nos produtos, pois esse custo era embutido nos preços. "A concorrência é muito grande e, sem esse encargo, será natural ele não fazer mais parte do que é cobrado", garante o diretor de sustentabilidade da Apas, João Sanzovo.
Elaine calcula que os cerca de R$ 3.000 utilizados para compra dessas embalagens serão deduzidos nos produtos após o dia 25. Silva, que gasta 0,5% do faturamento da rede (R$ 10 mil), destacou que pretende fazer isso, mas não no curto prazo, até que "os impactos reais" sejam apurados.
Associação do setor pretende banir sacolas dos mercados em 3 meses
Se os planos da Apas correrem conforme o programado, em três meses nenhum supermercado no Estado de São Paulo fornecerá sacolinha para o consumidor. O diretor de sustentabilidade da associação, João Sanzovo, acredita que somente no primeiro mês da ação, 80% das redes participantes vão aderir à campanha. No segundo mês, o número chegará a 95%.
"A tendência é que os pequenos mercados participem da campanha ao ver o resultado nas grandes e médias empresas", afirma o executivo. A redução nos gastos com essas embalagens - mesmo que o custo seja repassado para o consumidor - será o principal motivador.
Com o início da campanha encabeçada pela Apas e governo estadual, as redes Walmart e Pão de Açúcar vão rever seus programas de incentivo à não utilização das sacolinhas. A rede norte-americana deixará de lado o caixa preferencial para quem não usa a sacola. O desconto de R$ 0,03 concedido na compra por cada embalagem não utiliza também perde o sentido. Questionado, o Pão de Açúcar que dá pontuação extra no programa de relacionamento aos clientes que não usam o saco plástico, disse que está revendo a ação.
Indústria já sente efeitos da redução nos pedidos
Queda no faturamento e demissão de funcionários são alguns dos reflexos que os fabricantes de sacolas plásticas enfrentam com a redução na utilização do produto. Em quatro anos, 5 bilhões de sacos deixaram de circular no País, conforme dados do Instituto SócioAmbiental dos Plástico. Em 2007 eram 17,9 bilhões de unidades e em 2011 foram 12,9 bilhões.
Segundo o presidente da Plastivida, Miguel Bahiense, o setor registrou queda no faturamento no ano passado. Sem revelar o valor, o executivo afirma que a soma ficou abaixo dos R$ 500 milhões contabilizados em 2010. "A solução será atender mercados que não tiraram as sacolas de circulação e as empresas de menor porte serão penalizadas."
Esse é o caso da ABC Indústria e Comércio de Embalagens, sediada em São Bernardo. Há 41 anos no mercado - 15 dos quais produzindo sacolinhas para redes como Joanin, Primavera e Chibana -, os sócios Airo Campera e Antonio Giusti relatam que a produção caiu 50% em dois anos, de 75 para 35 toneladas por mês. "A esperança é que os mercados da periferia não tirem as sacolas de circulação", anseia Campera.
No ano passado, a empresa demitiu oito funcionários, e a perspectiva para este ano também não é das melhores. Eles querem produzir sacolinhas biodegradáveis de amido de milho, mas como a matéria-prima é importada da Alemanha há pouca disponibilidade do produto. O presidente da Plastivida acrescenta que são fabricadas 70 mil toneladas de resina biodegradável de amido de milho por ano no mundo. "A quantidade vendida para o País é suficiente apenas para produzir sacos biodegradáveis para atender a demanda de dois dias nos supermercados do Estado."
Os fabricantes criticam ainda que as sacolas retornáveis importadas da Ásia não colaboram para gerar empregos na indústria nacional.
Veículo: Diário do Grande ABC - SP