No Brasil, iPad substitui PC e até celular

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O que era para ser um objeto de luxo, voltado para o entretenimento, está aos poucos sendo adotado como ferramenta de trabalho. Brasileiros que compraram o iPad nos Estados Unidos, pensando em ver filmes ou disputar games on-line, estão deixando de lado seus notebooks para usar o equipamento no escritório. O produto, que aguarda homologação pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), ainda não é vendido oficialmente no Brasil, mas a consultoria Bianchi & Associates estima que já existam 2 mil aparelhos no país, trazidos do exterior. No site Mercado Livre, por exemplo, as vendas de iPads totalizaram 450 unidades até maio. Profissionais do setor dizem que o iPad será lançado no Brasil em agosto, mas a informação não é confirmada pela Apple.

 

O paulistano Gilmar Gumier trouxe seu iPad dos Estados Unidos em abril. Desde então, quase aposentou o notebook. Consultor de empresas na área de infraestrutura da informação, Gumier usa o iPad para ler notícias, ver vídeos e jogar nos momentos de lazer. No trabalho, mostra apresentações em reuniões com clientes. "A tela é grande e o aparelho é muito mais leve que um notebook", compara.

 

O empresário Thiago Madeira de Lima, que presta serviços para escritórios de advocacia, já substituiu totalmente o netbook pelo iPad. "Faço as apresentações aos clientes e, em casa, uso como um computador para planilhas e textos", afirma. Para trocar e-mail, Lima conecta o aparelho ao celular ou a redes sem fio. "Acabei reduzindo também o uso do smartphone com o iPad", diz. Nas reuniões, ele usa um aplicativo que permite 'escrever' sobre a tela com uma caneta.

 

Nem tudo, porém, é elogio quando o assunto é o iPad, mesmo entre quem faz uso intenso do equipamento. "A maioria dos aplicativos é ruim. As empresas ainda não entenderam qual a função do iPad", afirma o programador Bruno Machado, de Campinas (SP). Os aplicativos são programas com funções bem específicas, seja calcular quantas calorias você perde em uma corrida ou traduzir frases de um idioma para outro. Criados por terceiros, eles são uma das principais atrações do iPad, mas há poucas ferramentas realmente úteis para o trabalho, reclama Machado. Mesmo os títulos de entretenimento não oferecem muitas diferenças em relação aos jogos disponíveis na web, o que provoca uma certa decepção, diz o programador. "O que todos esperam é uma experiência diferente de usar um computador normal."

 

É essa "experiência diferenciada" que tem desafiado a imaginação de criadores de aplicativos e fabricantes de computadores.

 

O consultor André Bianchi Monte-Raso, da Bianchi & Associates, diz que a maioria das empresas ainda não tem uma definição exata de qual será o principal uso dos tablets ou seu público alvo. Sem essas definições, fica difícil criar ferramentas mais atrativas. "O mais provável é que cada fabricante vai se concentrar um segmento de mercado", afirma Bianchi.

 

No caso do iPad, os analistas já têm uma noção mais clara do perfil de usuário. Trata-se de um público com alta renda, que já tem um computador pessoal e busca um aparelho portátil, menor e mais leve, para atividades complementares. "Estamos falando de um produto especial, que será uma alternativa, sobretudo no consumo de mídia portátil", avalia Bianchi.

 

Para o diretor de pesquisas do IT Data, Ivair Rodrigues, ainda é difícil ter uma visão clara do mercado de tablets, porque as fabricantes não lançaram seus produtos no Brasil e as importações são pequenas. "De modo geral, os tablets tendem a se tornar um nicho de mercado no Brasil, como são os netbooks, e as vendas devem ser voltadas a pessoas físicas", diz Rodrigues.

 

A taiwanesa MSI Computer é uma das fabricantes que planeja trazer ao país, entre julho e agosto, sua linha de tablets, a preço inferior a R$ 1 mil, afirma o diretor comercial companhia, Marcelo Martins. Um dos motivos para a demora no lançamento é a falta de consenso sobre o conceito do tablet, afirma o executivo. "Esse é um conceito novo. A indústria ainda não sabe qual será o formato final."

 

A Samsung avalia produzir no Brasil alguns modelos de tablet, mas isso vai depender da expansão do mercado, diz o vice-presidente da empresa no país, Benjamin Sicsú. "Hoje, existe no país uma oferta pequena de importados, mas se a procura aumentar, a Samsung tem estrutura para iniciar a produção no Brasil imediatamente", diz. A Dell, que lança seu tablet mundialmente em junho, informou que ainda não tem uma definição de quando os aparelhos serão lançados no Brasil.

 

A consultoria IDC estima que as vendas de tablets no mundo vão crescer a uma taxa média de 57,4% ao ano, saindo de 7,6 milhões de unidades neste ano para 46 milhões em 2014. Por enquanto, o mercado é liderado pela Apple, que já vendeu 2 milhões de iPads desde o lançamento do produto, em abril, e tem uma venda média de 200 mil unidades por semana.

 

Outras fabricantes de computadores - como Hewlett-Packard (HP), Lenovo, Fujitsu, Acer, Archos e Asus - demonstraram interesse em competir no segmento.

 

Veículo: Valor Econômico


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