Há apenas um ano e três meses no país, os sites de compras coletivas se multiplicam rapidamente. Já são 1,5 mil. Em média, a cada três dias e meio surge um novo endereço na internet oferecendo grandes descontos com foco em serviços. O baixo investimento necessário para colocar um site no ar e o crescimento do número de usuários favorecem essa explosão no mercado. Ao mesmo tempo, surgem reclamações de consumidores. Até maio, o site Reclame Aqui totalizava quase 20 mil em menos de um ano.
Diante da expansão acelerada, as companhias perceberam a necessidade de uma regulamentação do segmento. Acaba de ser criado o Comitê de Compras Coletivas na Câmara Brasileira de Comércio Eletrônico (camara-e.net), entidade cujo objetivo é promover a segurança nas transações eletrônicas. Participam da fundação os sites ClickOn, Peixe Urbano, Clube do Desconto, Viajar Barato, Imperdível e Oferta Única, que representam mais da metade do mercado. O grupo vai criar um código de conduta para a categoria.
"Vamos nos organizar para defender as boas práticas. Hoje há algumas condutas prejudiciais, como ofertas irresponsáveis e spam", afirma Marcelo Macedo, CEO do ClickOn, coordenador do comitê.
Como as compras coletivas são um negócio novo no Brasil, todas as partes ainda têm muito o que aprender. "Os consumidores e os estabelecimentos precisam saber usufruir dele", diz Macedo.
Não vale a pena, por exemplo, economizar no recheio da pizza só porque o cliente com cupom está pagando menos. Renato Bliacheriene, sócio do Clube do Desconto, diz que os estabelecimentos precisam encarar as ofertas como marketing. Um de seus fornecedores, por exemplo, reuniu os funcionários e pediu para que atendessem com o dobro de atenção os consumidores com cupom, além de servirem guarnição para todos. "Ele pegou 100% o espírito da coisa. Quem não tem condições de se tornar cliente hoje, pode ter amanhã", diz.
Apesar de haver muitos sites no ar, o mercado brasileiro é concentrado, com 85% nas mãos dos cinco maiores "players", que também são alvo de queixas dos consumidores. As empresas minimizam a questão. De acordo com Macedo, o índice de reclamações dos sites de compras coletivas no país gira em torno de 0,1% das vendas.
Macedo acredita que a autorregulação é a melhor forma de fortalecer a categoria. "Não estou certo de que a gente terá ou necessite da lei". Ele se refere ao projeto de lei 1232, de 2011, em tramitação na Câmara dos Deputados, que estabelece regras para o segmento. Os empresários de compras coletivas não concordam com algumas determinações do PL, como a obrigatoriedade de oferecer call center e o prazo de utilização mínimo de seis meses para as ofertas. "Essa ideia corta 90% do mercado. Há ofertas para um dia, outras datadas, como na Páscoa", diz Victor Cavalcanti, sócio do Viajar Barato.
"Não vamos nos eximir de nossas responsabilidades", afirma Macedo. Para Ludovino Lopes, advogado que assumiu no mês passado a presidência da camara-e.net, merecem atenção especial na entidade a segurança na internet e os novos formatos de comércio. "É preciso ver isso de forma articulada e sempre a partir do tripé sociedade, empresa e legisladores", afirma.
Veículo: Valor Econômico