O mundo em barras

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Imagine o tempo de espera nas filas de supermercados sem o uso da leitura do código de barras. Essa era a dura realidade do consumidor mais de três décadas atrás, que aguardava a digitação de cada produto na boca do caixa. Por essa razão, não há como negar a importância dessa tecnologia como motor da automação comercial no País. Toda a cadeia de abastecimento do Brasil – transportadoras, distribuidores e varejo – depende do trabalho da GS1 Brasil (Associação Brasileira de Automação) que é responsável por atribuir o código de barras e sua numeração que identifica cada produto.
 
Hoje, seis bilhões de leituras do código de barras são realizadas por dia no mundo. No Brasil são 55 mil associados, desde microempresas até grandes conglomerados industriais. O Sistema de Identificação único e global da GS1 é aplicado em mais de 20 segmentos do mercado, desde produtos de consumo, logística e transporte até os segmentos mais específicos como, por exemplo, saúde e defesa.
 
No Sistema GS1, o Global Trade Item Number (GTIN) é o código global de oito a treze dígitos atribuído a produtos. Ele tem papel relevante para a eficiência da logística. O código de barras impresso nas embalagens carrega o GTIN e pode conter outras informações. A relevância do GTIN e do código de barras é tamanha, que até o Ministério da Fazenda determinou que a Nota Fiscal Eletrônica (NF-e) tenha um campo destinado ao preenchimento do código.
 
Em 2013, a tecnologia completa 30 anos no Brasil, fato que deve ser muito celebrado  pela GS1 Brasil, com a realização de vários eventos. João Carlos de Oliveira, presidente da entidade, comentou a importância do trabalho da associação nesta entrevista exclusiva ao DC Informática.
 
DC - A partir da criação do código de barras, qual foi a evolução da automação comercial?
João Carlos - Podemos dizer que não haveria automação sem a criação do código de barras. Foi todo um processo, um movimento da indústria para facilitar a logística desde a produção até a chegada dos produtos às gôndolas dos supermercados. A partir daí, a padronização de códigos gerou uma série de benefícios para as empresas envolvidas e para a sociedade. Da pesquisa e desenvolvimento de software e hardware para automatizar a cadeia produtiva e de abastecimento até cuidados com a informação para a segurança do consumidor, a automação evoluiu sempre adiante de seu tempo, com tecnologia de ponta. Além da leitura dos códigos por meio de feixe de luz, foi desenvolvida a tecnologia de leitura por radiofrequência (RFID), que não depende da proximidade dos objetos. Automação hoje está alinhada com soluções de mobilidade e de agilidade no relacionamento comercial entre indústria, empresas de logística, distribuidores, varejo.
 
DC - É possível dimensionar quantos códigos de barras são usados no comércio brasileiro por dia?
João Carlos - Temos 55 mil associados no país, que têm vários produtos cada um. Ou seja, cada produto tem um código e a GS1 tem diferentes padrões que transportam as informações na cadeia como BarCode DataBar, DataMatrix, EPCglobal/RFID, eCom e GDSN. Portanto, não temos a dimensão exata, mas são centenas de milhares.
 
DC - Quais novos padrões de códigos devem dominar o mercado nos próximos anos? Os atuais podem deixar de existir com o tempo?
João Carlos - O que tem acontecido é que as tecnologias não se sobrepõem, mas se complementam e coexistem. Num país com a nossa dimensão, vemos soluções básicas sendo implantadas em pequenos negócios familiares ao mesmo tempo em que as grandes empresas empregam o que há de mais desenvolvido no mundo. Nossa missão é fazer com que o padrão de linguagem das informações que cada código carrega seja universal e transparente para qualquer tipo de sistema. A padronização de códigos e processos é que promove o desenvolvimento das relações da cadeia de abastecimento.
 
 
DC - O RFID surgiu como a grande inovação. Mas o custo alto impediu sua evolução até agora? Na sua opinião, é possível baixar em curto prazo os custos para viabilizar o RFID ou outra tecnologia pode superá-la em breve?
João Carlos - Como toda nova tecnologia, seu custo depende do volume de uso e de adoção pelo mercado. O RFID pode ainda não fazer parte do cotidiano do consumidor do varejo, mas seu custo já baixou o bastante para adoção em casos como controle de estoque em almoxarifados - como nos casos do Exército e da Aeronáutica - e rastreabilidade de unidades logísticas em centros de distribuição, alfândegas. Em um contêiner, por exemplo, uma etiqueta EPC carrega informações detalhadas de toda a remessa.
 
DC - Há tentativas no Brasil de se criarem novas tecnologias de código de barras? Nesses casos, em que nível de evolução se encontram?
João Carlos - Os padrões DataBar e DataMatrix são as novidades que estão sendo implantadas no país e no mundo com muito sucesso. Em casos específicos, como os setores de alimentos e medicamentos, esses padrões ajudam a rastreabilidade dos produtos, o que evita desvios, fraudes, venda com validade vencida etc. Além da variedade de informações que carregam, garantem a segurança do consumidor. É um benefício para a sociedade.
 
DC - O QR Code vem sendo muito utilizado em campanhas de mídia e divulgação. Ele pode atingir outros mercados?
João Carlos - O QR Code foi incorporado ao portfólio de código de barras da GS1. Num futuro próximo ele poderá ser utilizado para acessar informações adicionais de um produto, como por exemplo, sua tabela nutricional. Há outros padrões novos desenvolvidos pela GS1, como DataBar e DataMatrix, que oferecem muitas funcionalidades e valores para a cadeia de abastecimento, como explicado anteriormente.
 
DC - Qual próximo passo da GS1 no país?
João Carlos - Estamos muito próximos da inauguração do Centro de Inovação Tecnológica. Será uma forma de posicionarmos o Brasil entre os países que desenvolvem soluções. E realizamos na semana passada o evento anual 'Brasil em Código', na sua segunda edição, com as principais lideranças do meio empresarial do país para discutir tendências.





 

 

Veículo: Diário do Comércio - SP


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