Concorrência fará Cielo reduzir preço de máquina

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Na divulgação dos resultados do terceiro trimestre, os executivos da Cielo preferiram se ater aos números - que, como de praxe, traziam boas notícias - do que comentar a pressão do governo sobre o setor de cartões. Mesmo sem abordar o assunto diretamente, a credenciadora respondeu a algumas críticas que o Banco Central (BC) fez ao setor na semana passada, sobre a elevação do preço do aluguel cobrado dos lojistas pelas máquinas (POS) que fazem a captura das transações no comércio.

A receita da Cielo com o aluguel das máquinas foi um dos destaques do resultado, totalizando R$ 388,2 milhões, 42,6% superior ao registrado no mesmo período de 2011. A previsão é que essa linha continue a avançar no ano que vem, afirmou o presidente da Cielo, Rômulo Dias.

O executivo, porém, fez uma ressalva importante. Ainda que a receita cresça, o custo do aluguel vai cair por causa da competição acirrada entre as credenciadoras pelos pequenos e médios lojistas, em que o aluguel da maquininha virou item fundamental na concorrência - às vezes até mais relevante que a taxa de desconto cobrada por transação.

A briga por esse segmento vem ganhando fôlego, já que esse é o nicho em que o Santander vem atuando com mais força e que a Redecard deve mirar agora que teve o capital fechado pelo Itaú. A estratégia dos dois envolve a chamada "conta integrada", em que o volume de transações capturadas pelo POS dá descontos em tarifas bancárias e outros serviços.

Percentualmente, a receita com aluguel foi a que mais cresceu no trimestre. A alta veio acima do que esperava o HSBC, escreve o analista Paulo Ribeiro. "A receita com aluguel de POS superou com facilidade nossa previsão, pois o preço do aluguel continuou crescendo (20,5% ao ano) e a expansão das unidades instaladas acelerou para 18,3% ao ano, a maior taxa desde o primeiro trimestre de 2009".

O principal fator responsável pelo aumento da receita de aluguel é o movimento de troca da base de máquinas, de POS tradicionais para máquinas sem fio, que são mais modernas, mas também mais caras. Hoje, 44% da base de máquinas da Cielo já são do modelo "wi-fi" e esse percentual deve continuar avançando, diz Dias.

Há uma semana, o aumento do aluguel das maquininhas foi criticado abertamente pelo BC. "O aluguel médio dos POS que caiu de R$ 61 para R$ 52 em média, entre o terceiro trimestre de 2010 e o segundo de 2011, saltou, a partir daí, para cerca de R$ 64,00, ao fim de junho de 2012, tornando sem efeito a redução obtida", afirmou o diretor Aldo Mendes na ocasião.

"É bem verdade que tais equipamentos evoluíram do ponto de vista tecnológico, contudo também o uso de cada máquina tem se tornado mais intenso, barateando o seu custo unitário", argumentou Mendes.

O avanço tecnológico do POS não sai, entretanto, barato para as credenciadoras. "Embora o aluguel da máquina nova seja superior, o custo de manutenção, de telecom [com o chip de telefonia instalado na máquina], da troca da bobina e outros itens ficam com a Cielo", afirmou Clovis Poggetti Junior, diretor de relações com investidores da Cielo. "Os lojistas preferem a máquina sem fio."

Poggetti disse que as máquinas sem fio têm um custo de manutenção maior e quebram cerca de três vezes mais que as tradicionais. Tanto que a troca das máquinas tem sido um dos principais fatores de aumento de custos para a Cielo. No terceiro trimestre, o custo unitário por transação foi de R$ 0,287, valor 3,7% maior em comparação ao mesmo trimestre de 2011.

O custo do POS sem fio tanto para credenciadora quanto para o lojista ajuda a explicar por que a Cielo tem estudado formas alternativas à maquininha para capturar transações em segmento em que há menor alcance. Uma dessas opções é a captura via celular, citou o executivo.

Não é só o preço do aluguel de cada máquina que vai sentir a força da competição nos próximos anos. Hoje dividido quase integralmente entre Cielo e Redecard, o mercado de credenciamento deve ter, nos próximos três anos, uma fatia de 15% a 20% nas mãos de novas empresas, estima a Cielo, entre elas Santander, Elavon, Global Payments e Banrisul, que hoje mal chegam a 5% do mercado. O cenário competitivo mais forte, somado à desaceleração do mercado de cartões, deve encolher as margens da Cielo no ano que vem, afirma Dias.

A Cielo registou lucro líquido de R$ 588,9 milhões no terceiro trimestre, aumento de 28,7% na comparação anual. A receita total, incluindo antecipação de recebíveis, somou R$ 1,6 bilhão, crescimento de 28,1%. A receita de transações com cartão de crédito (R$ 711,2 milhões) avançou 19,2% e as com débito (R$ 275,6 milhões) 21,7%.

A Cielo pretende fazer uma captação externa ainda este ano, para fazer "hedge" das receitas em dólar da Merchant e-Solutions, empresa americana comprada neste ano.


Veículo: Valor Econômico




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