Tecnologia RFID, que rastreia produtos por meio de radiofrequência, começa a avançar no país. Entre outras coisas, sistema melhora o processo de logística e agiliza a vida de clientes em lojas
Você vai ao supermercado, enche o carrinho de produtos para o resto do mês e, em vez de esperar longos minutos na fila do caixa até realizar o pagamento, passa por uma espécie de portal que “lê” tudo que você está levando e lhe informa, em questão de segundos, o preço total das compras. Essa é apenas uma das aplicações possíveis da RFID (identificação por radiofrequência), tecnologia que aos poucos começa a ganhar força no país e abre um leque de possibilidades para as empresas que trabalham nos setores de atacado e varejo.
Criado para uso militar durante a Segunda Guerra Mundial(1), o sistema foi desenvolvido inicialmente para permitir, por meio de monitoramento das frequências de rádio, a distinção entre aviões inimigos e aliados. Com o passar dos anos, a indústria identificou todo um potencial em volta da tecnologia e de suas possíveis aplicações, para uso civil ou industrial.
Tido como o sucessor dos códigos de barras, a solução permite que objetos possam ser identificados sem intervenção humana, eliminando a necessidade do emparelhamento do item a um leitor, tão comum no atual padrão. Um pequeno chip (conhecido como EPC ou tag, código eletrônico de produto) colado nos produtos funciona como um verdadeiro RG de cada item. Desse modo, várias informações contidas nele podem ser consultadas ou alteradas remotamente, por meio de radiofrequência. Ou seja, uma etiqueta colada numa lata de refrigerante, numa televisão ou num pacote de arroz pode conter dados como preço, componentes, data de fabricação, lote, destino final, ente outros, que podem ser acessados a quilômetros de distância. Para isso, basta que uma pequena antena compatível com o sistema ative o chip, eletronicamente, identificando cada produto.
No mundo dos negócios em grande escala, a tecnologia vêm se mostrando bastante útil para fabricantes que têm que lidar com entregas de volumes expressivos de produtos, melhorando a logística e a gestão de processos. “A principal aplicação da tecnologia ao redor do mundo está voltada para a autenticação de processos na cadeia de suprimentos. Isso possibilita saber de onde veio um produto, quando ele chegou, quando saiu e para onde foi despachado. Com o EPC, passamos a ter um código exclusivo para cada item e não mais um mesmo código de barras para um lote inteiro”, explica o assessor de soluções de negócios da GS1 Brasil, Adriano Bronzatto. Com o passar dos anos, a tecnologia vem se tornando cada vez mais acessível. Há cinco anos, por exemplo, cada chip custava cerca de US$ 1. Hoje, dependendo da demanda, eles podem sair por US$ 0,10.
A fabricante HP é uma das empresas que já utilizam a RFID. Em 2004, a companhia começou a analisar no Brasil como a tecnologia poderia melhorar o gerenciamento de sua cadeia de suprimentos. O projeto-piloto foi bem-sucedido e, desde então, a marca etiqueta todos os chassis de impressoras e cartuchos que saem da unidade de Sorocaba (SP), com o propósito de obter informações sobre todo o ciclo de vida dos produtos.
Menos perdas
A adoção da tecnologia comprovou a viabilidade de se criar uma identidade para cada produto, que o acompanha desde o momento em que o equipamento é empacotado até quando ele vai para a prateleira do expositor. “O sistema permite ter um ganho em vários momentos da cadeia produtiva. Com a RFID, por exemplo, podemos ter uma redução na margem de perdas, além de conseguir monitorar tudo o que acontece dentro da fábrica”, opina o gerente de estratégia e desenvolvimento de operações para o Mercosul da HP, Marcelo Pandini.
O executivo explica que, a partir do monitoramento remoto dos itens que saem da fábrica, a empresa consegue verificar gargalos até então impossíveis de serem controlados pelo antigo código de barras. “Se deixamos um lote de produtos num local inadequado, por exemplo, podemos ser alertados por meio de um sistema”, exemplifica.
A RFID também tem sido utilizada em aplicações para setores como farmacêutico, educacional, de gêneros alimentícios, hospitalar, automobilístico e até de aviação. No Brasil, o sistema de cobrança de pedágio Sem Parar — que permite o trânsito livre de veículos por pedágios e estacionamentos de shoppings — também utiliza a tecnologia. Assim que o carro passa pela cancela, ele é identificado eletronicamente e, no fim do mês, o proprietário recebe uma conta do que foi utilizado com a tag.
Em 2007, o grupo Pão de Açúcar inaugurou um supermercado em São Paulo trazendo a tecnologia ao alcance real do consumidor. A rede varejista etiquetou todos os vinhos vendidos na adega da loja com tags que permitem que o caixa leia o preço dos itens a distância, sem que comprador tenha que retirá-los do carrinho. Os chips também contêm dados sobre procedência do vinho, tipo de uva usada, safra, preço, etc. Para visualizar as informações, basta o consumidor aproximar a garrafa de um monitor. “As aplicações oferecidas pelo RFID são infinitas. Todos os setores deverão ser atingidos e, nos próximos anos, vamos ver a tecnologia ser adotada com maior força no país”, diz a presidente da Vip Systems, Regiane Relva Romano.
Gôndola eletrônica
Além das EPCs, o sistema de identificação por meio de radiofrequência traz uma outra possibilidade: a de se comunicar com gôndolas eletrônicas espalhadas por lojas ou supermercados. Sim, no lugar das velhas etiquetas nas prateleiras que indicam o valor dos produtos, a tecnologia aposenta os tradicionais canetões e máquinas marcadores de preços.
Um pequeno display de cristal líquido com um chip embarcado substitui os velhos papéis com os preços nas vitrines e traz uma série de benefícios que só o sistema de comunicação por RFID permite. “A grande vantagem das gôndolas eletrônicas é a possibilidade de modificar, em questões de segundos, o preço de vários produtos nas prateleiras”, explica o diretor comercial da Unisys, Antônio Braga. “A tecnologia também permite corrigir, rapidamente, os preços errados de um produto. Com certeza, o lojista que tiver essa facilidade vai levar vantagem sobre o concorrente”, afirma.
Cada “etiqueta” eletrônica traz diferentes páginas que podem conter informações pré-armazenadas pelo supermercado. Por exemplo, o estabelecimento pode programar para que as etiquetas da prateleira de uma marca de leite condensado mudem de tela a cada 10 segundos, mostrando dados como data de fabricação, características, sugestões receitas, etc. Caso o produto esteja em promoção, as telas também podem começar a piscar para chamar a atenção dos consumidores.
1 - Precaução de guerra
A solução é descendente da tecnologia dos transponders usados pelos ingleses na Segunda Guerra Mundial. Ainda utilizado nos dias de hoje, o transponder funciona recebendo e transmitindo sinais quando uma “pergunta”, em forma de pulso eletrônico, é feita. Quando foi utilizado na Segunda Guerra, ele identificava os aviões da Royal Air Force (RAF — Força Aérea Real do Reino Unido). Assim, quando uma aeronave surgia no radar e não “respondia” com seu transponder, ela era identificada como inimiga e abatida.
Veículo: Correio Braziliense